Pavilhão 9: de cara limpa no Rock In Rio

Banda paulistana mostra na noite do metal o repertório de seu novo disco, Reação, o primeiro por uma grande gravadora. Sem as suas tradicionais máscaras, os rappers prometem ganhar a platéia com sua pesada mistura de hip

Silvio Essinger
17/01/2001
Não poderia ser mais solene a ocasião para o grupo paulistano Pavilhão 9: em plena entrevista para falar de sua participação na noite heavy do Rock In Rio (sexta-feira, ao lado do Sheik Tosado, Sepultura, Queens Of The Stone Age, Halford e Iron Maiden) e de seu mais novo disco, Reaçãoamostras de 30s(o primeiro por uma grande gravadora, a WEA), o rapper Rhossi aproveitou para tirar a touca ninja que o acompanhava há quase dez anos em todas as aparições públicas. "Eu não devo nada a ninguém", explicou. Ele e o outro rapper da banda, Doze, passaram a esconder seus rostos por trás de gorros, máscaras de jogador de hóquei e pinturas por causa da repercussão de uma música: Otários Fardados, lançada no primeiro disco do Pavilhão, 1º Ato, de 1991. "Policiais descobriram o telefone da gravadora e ficaram nos ameaçando", conta Rhossi, que agora enfim pode mostrar a vasta cabeleira que o pano escondia.

O disfarce, conta ele, começou a ficar dispensável a partir do disco Cadeia Nacionalamostras de 30s(de 1997, que teve o sucesso Mandando Bronca). Mas Rhossi decidiu continuar a usá-lo como um símbolo do povo oprimido, ao qual o Pavilhão dá voz em suas letras - que, por sinal, continuaram criticando violentamente a arbitrariedade policial. Uma coisa que todos perguntam à banda é o fato de seu nome coincidir com o do local no presídio do Carandiru em que 111 presos foram massacrados em 1992. Mas ele não foi inspirado pela tragédia, já que os rappers se apresentavam como Pavilhão 9 desde 1990. Foi, no máximo, profecia.

Como se não faltassem histórias de incompreensão que recheiam sua trajetória, a banda ainda lançou, em seguida ao Cadeia, o CD Se Deus Vier, Que Venha Armadoamostras de 30s(99), que, além de tudo, tinha a imagem de Jesus Cristo na capa. "Achavam que a gente era anticristo", conta o baixista Marinho. Mas pior do que a reação da Igreja e dos políticos conservadores foram os problemas com a gravadora Paradoxx, que até então lançava os discos do Pavilhão. "O trabalho de divulgação não teve continuidade", entrega o guitarrista Ortega.

Mistura criticada
A disposição agora é para fazer tudo diferente na Warner. Reação chega às lojas puxado pela música Trilha do Futuro, que tem clipe gravado na pista de Interlagos e já está tocando bastante nas rádios. Agora o país inteiro pode ter contato com o som do Pavilhão 9, que começou no mais castiço rap (com toca-discos e MC) e, pouco a pouco, foi incorporando músicos de rock pesado (entre o metal e o hardcore), numa mistura que está longe da unanimidade. "Os puristas do rock e do rap não gostam, mas a gente não é obrigado a agradar gregos e troianos", defende-se Rhossi.

"A gente tem condição de fazer show de hip hop", avisa Marinho, que, assim como Ortega, começou sua vida musical tocando em bandas de punk rock. "Já fizemos alguns só com baixo e DJ. Só que a concepção do Pavilhão 9 é a banda." Empenhados em ganhar a galera do metal que vai ao Rock In Rio no dia em que tocam - "Não pode dar moleza, se não as latas vão subir", brincou Doze -, os músicos no entanto não deixam de expressar sua decepção: faltaram artistas de hip hop no festival.

O Pavilhão 9 estréia sua nova formação no Rock In Rio. Saíram o guitarrista Blindado (que retomou a profissão de engenheiro), o baterista Thunder (que foi lutar vale-tudo nos Estados Unidos) e o DJ Branco (que voltou para seus projetos de rap na periferia) e entraram, como músicos convidados, o baterista Fernando Schaefer (que tocava na banda de metal Korzus), o guitarrista e tecladista Marcelo Munari e o DJ Paul. A apresentação terá 11 músicas pinçadas de seus últimos três CDs. E estão previstas as participações do produtor de Reação, o guitarrista Tom Capone, e de Igor Cavalera, baterista do Sepultura e espécie de padrinho musical do Pavilhão - foi ele quem incentivou os rappers a incorporarem uma banda.

Igor, que já havia participado da gravação de Mandando Bronca, ataca no disco novo na faixa Aperte o Play, uma curiosa homenagem a Jimi Hendrix, músico que tem muito mais a ver com o Pavilhão do que se possa imaginar. "Foi Hendrix quem colocou o soul e rock juntos", ensina Marinho. Não é o único grande ídolo da música a ser homenageado pela banda em Reação: Bob Marley comparece numa versão de Get Up, Stand Up, que tem a participação de Xandão e Falcão, respectivamente guitarrista e vocalista do Rappa.

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