Péricles Cavalcanti lança <i>Baião Metafísico</i>

O autor de Eu Queria Ser Cássia Eller e de músicas gravadas por Gal Costa e Adriana Calcanhotto apresenta ao vivo seu 3º disco solo, repleto de experimentos sonoros

Carlos Calado
17/07/2000
Música popular brasileira com toques de erudição. Assim poderia ser sintetizado o projeto artístico de Baião Metafísico, terceiro álbum do compositor, cantor e violonista Péricles Cavalcanti, distribuído pela gravadora Trama. Os shows oficiais de lançamento acontecem em São Paulo, quinta e sexta-feira no teatro do Sesc Belenzinho e dias 28, 29 e 30 no teatro do hotel Crowne Plaza. "Gravar só começou a me interessar no final dos anos 80. Antes eu não tinha interesse", diz o compositor, nascido no Rio de Janeiro e criado em São Paulo, filho de pai pernambucano e mãe baiana. Apesar de ter sua primeira composição (Quem Nasceu) gravada de imediato por Gal Costa em 1973, Péricles só veio a lançar Canções (PolyGram), seu disco de estréia, já em 1991. "O que mais me interessa numa gravação é poder mexer em tudo. Mais até do que as composições, o que me motiva é a sonoridade do disco, a possibilidade de arranjar", afirma o autor e músico, que encontrou soluções sonoras pouco usuais nos arranjos que escreveu para o CD, cuja produção foi dividida com Cid Campos.

Um exemplo marcante está em Como São Lindos os Chineses, canção escrita por Péricles nos anos 70, que chegou a ser cogitada para o único álbum dos Doces Bárbaros (a meteórica banda que reuniu Caetano Veloso, Gilberto Gil, Maria Bethânia e Gal Costa), mas foi proibida pela Censura. "Ela ficou conhecida sem que ninguém a gravasse até agora", diz o compositor, lembrando que Caetano Veloso chegou a parafraseá-la. "Tive a idéia de fazer um arranjo na linha do drum ‘n’ bass. Na verdade, o resultado não ficou parecido com o drum ‘n’ bass convencional, até porque essa canção é um pouco esquisita, mas acho que funcionou. Isso é o que mais me alegra: achar uma solução sonora bacana, a expressão mais verdadeira da canção".

Além da sofisticação erudita de algumas letras, como as das canções Eros Motor, Samba Antigo e Charles e Alice (todas de Péricles), balanceada pelo tom mais direto e coloquial de canções como Eu Queria Ser Cássia Eller, Questões e Chama Eterna, o que também chama atenção no álbum é o ecletismo do repertório, que transita do samba ao xote, passando pelo reggae, pelo funk e pelo blues. "Isso certamente vem da minha formação musical, ou melhor, da formação do próprio Brasil. Aqui essa coisa é complexa e confusa", abserva o compositor, que estudou Filosofia na Universidade de São Paulo por três anos, até decidir passar um período na Europa, em 1969.

Diferentemente do compositor Chico César, que durante o último Jazz & Heritage Festival, em New Orleans (EUA), fez críticas ácidas a Caetano Veloso, Gilberto Gil e Gal Costa, Péricles diz que jamais se sentiu ofuscado pelos líderes da geração tropicalista. "Acho que até fui beneficiado como compositor, já que Caetano, Gil e Gal foram os primeiros a ouvir minhas canções. Seria ingênuo dizer que a minha projeção não foi maior por causa do sucesso deles. Isso não justificaria os meus fracassos", diz Péricles, observando que até chegou a influenciar seus amigos, pouco depois de conhecê-los, em meados dos anos 60. "Graças à minha formação paulistana, eu já ouvia Beatles bem antes de Gil e Caetano. Acho que esse meu lado pop também os influenciou um pouco".

Nos dois shows que fará no Sesc Belenzinho, Péricles terá como convidada especial a cantora e compositora Adriana Calcanhoto, a intérprete mais freqüente de suas canções. Já durante a temporada no Crowne Plaza, o convidado será o DJ Eugênio Lima. Dirigido pela atriz Bete Coelho, o show Baião Metafísico tem concepção visual assinada pelo artista plástico José Roberto Aguillar.