Pérolas e curiosidades do baú da Odeon

Coleção com 45 títulos históricos da gravadora são relançados com som remasterizado e arte original preservada

Marco Antonio Barbosa
17/10/2002
Demorou para que a EMI entrasse na festa dos relançamentos históricos, que viraram mania do ano passado para cá - praticamente todas as gravadoras estão escarafunchando seus acervos, soltando pérolas clássicas da MPB em séries especiais, caixas múltiplas e relançamentos quetais. Agora, o riquíssimo catálogo da antiga Odeon, um dos mais importantes selos na história da música brasileira, vêm à tona com a coleção Odeon 100 Anos de Música no Brasil, que na verdade comemora o século de fundação da própria EMI (de matriz inglesa). Nada menos que 45 discos, quase todos ainda inéditos em CD, foi "desovada" com zelo pelo pesquisador (e baterista dos Titãs) Charles Gavin (confira a promoção especial criada para garantir o menor preço nesta coleção para os leitores de Cliquemusic clicando aqui). Os relançamentos vêm com som remasterizado, artes de capa e contracapa preservadas e fichas técnicas devidamente incluídas. Vale lembrar que muitos dos discos podem continuar sendo raridades, pois a tiragem máxima de cada um dos títulos será de dois mil CDs.

Seria exagero dizer que tratam-se de 45 "clássicos" de nossa música. Há muita coisa de muita importância na coleção, mas o grande interesse recai mesmo no caráter arqueológico das raridades desencavadas por Gavin. Não espere ver (ou rever) grandes sucessos de vendagem entre os títulos, e sim aquelas pepitas semi-obscuras que podem ter influenciado muita gente, mas que não resistiram ao teste do tempo (por falta de interesse das gravadoras, por mudanças de mercado, por terem "saído de moda"...) O samba e suas variantes menos ortodoxas compõem o grosso da coleção, com espaço para bossa nova, samba-jazz, samba-rock, samba-soul... Espetadas aqui e ali, deliciosas esquisitices fazem o contraponto das verdadeiras pérolas.

A lista
Veja o que há na coleção Odeon 100 Anos de Música no Brasil:

Elza Soares: A sambista, que está uma vez mais na crista da onda, é resgatada em dois discos: Elza Pede Passagem ouvir 30s (1972) e Elza Soares - Baterista: Wilson das Neves ouvir 30s. O mesmo Wilson estrela Juventude 2000 ouvir 30s. (1968)
Dóris Monteiro: Dois discos da cantora (Doris Monteiro ouvir 30s e Doris, Miltinho e Charme ouvir 30s) integram a coleção.
Carmen Miranda: A pequena notável tem duas coletâneas bem respeitáveis incluídas na série; A Nossa... ouvir 30s e O Que É Que a Baiana Tem? ouvir 30s
Maria Bethânia: O hoje obscuro Recital na Boite Barroco ouvir 30s, de 1968, ressurge em meio à série.
João Donato: Dois momentos bem distintos do pianista são vistos na coleção. O pré bossa-novista Chá Dançante ouvir 30s (1956) precede o mais experimental Quem É Quem ouvir 30s, de 1973.
Noriel Vilela: Esquecido luminar do samba-rock, o cantor de voz potente chega com seu disco crucial, Eis o "Ôme" ouvir 30s (69).
Toni Tornado: O cantor e ator ícone do black power nacional comparece com dois discos homônimos, um de 71 ouvir 30se outro de 72 ouvir 30s.
Eduardo Araújo: Disco interessantíssimo na carreira do cantor popularizado com a Jovem Guarda, A Onda É Boogaloo ouvir 30s mostrava Araújo ensaiando uma quedinha para o samba-soul. Produzido por Tim Maia.
Conjunto 3D: O ano era 1967, e Antônio Adolfo transformava seu Trio 3D em Conjunto 3D. Tudo para incluir na formação uma cantora ainda novata, Beth Carvalho. O resultado está no álbum Muito na Onda ouvir 30s.
Moreira da Silva: Kid Moringueira, impagável como sempre (já a partir da capa do disco, O Último dos Moicanosouvir 30s), também entrou na coleção.
Walter Wanderley: O idiossincrático estilista do samba aos teclados ganha destaque com o álbum O Samba É Mais Samba ouvir 30s.
Som Três: O grupo liderado por Cesar Camargo Mariano, que mesclava jazz, MPB e rock progressivo, retorna com seu primeiro LP ouvir 30s.
Orlandivo: Outro dos reis do samba-soul, perdido no tempo e achado num álbum homônimo de 1977.
Sambacana: Hoje esquecido, o grupo (no disco Muito Pra Frente ouvir 30s, de 1965) trazia o então desconhecido Milton Nascimento em sua formação.
Quarteto Novo: Hermeto Pascoal, Airto Moreira, Théo de Barros e Heraldo do Monte, o QN, tem seu antológico disco de estréia ouvir 30s, de 1967, relançado.
Germano Mathias: O malandro paulistano ressurge com o álbum Ginga no Asfalto ouvir 30s, de 1962.
Pery Ribeiro + Bossa 3: O famigerado encontro do cantor com o trio de bossa instrumental rendeu um álbum ouvir 30s em 1966. Destaque para os sopros de J.T.Meirelles.
Os Cinco Crioulos: Samba... No Duro ouvir 30s é a estréia do quinteto que reunia Nelson Sargento, Elton Medeiros, Jair do Cavaquinho, Mauro Duarte e Anescarzinho.
Quarteto em Cy: Um disco de transição do grupo (sem título ouvir 30s), gravado em 1972, integra a coleção.
Marcos Valle: O disco Samba Demais ouvir 30s, de um jovem MV tateando na bossa nova, também foi recuperado.
Luís Bonfá: O Violão e o Samba ouvir 30s, disco auto-explicativo de 1962, evidencia o talento do instrumentista.
Luis Eça: O pianista divide o álbum Cada Qual Melhor! ouvir 30s com o trombonista Astor.
Lô Borges: O famoso "disco do tênis" ouvir 30s, clássico do Clube da Esquina, também está de volta de cara nova.
Leny Andrade: Intérprete de primeira hora da bossa nova, a cantora ganha destaque com seu Estamos Aí ouvir 30s.
Norma Benguell: Curiosidade maior do pacote, o disco Ooooh! Norma!, da então sex-symbol, trazia a atriz cheia de charme em um repertório variado.
Nonato Buzar: Compositor e parceiro de Wilson Simonal, Nonato exercita seu samba-soul no álbum O País Tropical Via Paris ouvir 30s, de 1975.
7 de Ouros: Bossa instrumental era a onda desse septeto, como pode ser ouvido no álbum homônimo, de 1963.
Bola 7: O grupo, hoje no rodapé da história da bossa instrumental, consegue bons achados no disco É a Bola da Vez ouvir 30s, de 1959.
Toninho Horta: O guitarrista mineiro vê seu disco de 1980 ouvir 30s ser relançado.
Eumir Deodato: Aqui, o arranjador cristaliza seu talento, com o refinado álbum Percepção ouvir 30s
Radamés Gnatalli: O álbum 3ª Caravana Radamés na Europa com seu Sexteto reúne feras do instrumental sob a batuta do maestro Gnatalli.
Tito Madi: O clássico Balanço Zona Sul e Outros Sucessos ouvir 30s resgata a bossa sutil e suingada do ídolo de Roberto Carlos.
Geraldo Vespar: Alinhado ao violão bossanovista-suingado de Luiz Bonfá, Vespar entra na seleção com o álbum Samba, Nova Geração, de 1965.
Joyce & Nelson Angelo: Disco de 1972 ouvir 30s da então jovem dupla, influenciado pela sonoridade do Clube da Esquina.

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