Pesos-pesados brasileiros em Montreux

Astros da MPB são destaque na edição 2001 do tradicional festival de jazz na Suíça

Marco Antonio Barbosa
09/07/2001
Desde 1978, a música brasileira tem espaço garantido no Festival Internacional de Jazz de Montreux. A edição deste ano do evento (que começou no último dia 6 e se estende até dia 21) não fugiu à regra e incluiu uma bela seleção de artistas brazucas, que começam a participar do festival a partir de amanhã (dia 10). Em 2001, o evento organizado pelo suíço Claude Nobs desde 1967 terá quatro noites dedicadas à música brasileira (diferentemente do que vem ocorrendo nos últimos anos, que tiveram apenas duas noites) no Auditório Stravinski - que já está com todas as noites praticamente lotadas. Aos que não conseguiram entrada - ou que não puderem estar na Suiça a partir de amanhã, de qualquer jeito - há o consolo de poder assistir pela Internet aos shows, no site oficial do evento (www.montreuxjazz.com).

Quem abre a participação brasileira em Montreux é a família Gilberto: primeiro a filha, Bebel, e depois o pai, João. Bebel Gilberto canta na Latin Night do evento, abrindo para os grupos Zuco 103 e Ozzomati, no chamado Miles Davis Hall. Com a moral de ter atingindo recentemente as cem mil cópias vendidas na França de seu disco solo Tanto Tempo ouvir 30s, Bebel esteve se apresentando na Europa no final do ano passado com bastante sucesso. Atualmente, ela é considerada a ponta-de-lança da nova música brasileira entre os europeus, que aplaudiram sua mescla de MPB e modernidade. A cantora emenda o show em Montreux com datas na França e na Alemanha.

João Gilberto faz - no dia 12, no palco principal do Stravinski - sua volta ao Festival (ele se apresentou no evento em 1986). Ele foi o primeiro artista brasileiro a ser convidado para a edição 2001 do evento, ainda no final do ano passado, e fará o show de abertura para o violonista Paco de Lucia (e seu septeto). Na bagagem de João, o repertório que vem levando pelos shows que fez recentemente em Montreal e Paris: dos clássicos da Bossa Nova a releituras de sambas pré-bossa, como Doralice e Pra que Discutir com Madame?. Mesmo tendo pesos-pesados da música internacional no elenco deste ano (como Bob Dylan, B.B.King, Patti Smith, Sting e Herbie Hancock), a noite de João e Paco é uma das mais ansiosamente aguardadas do evento.

Na sexta-feira 13, o nome da noite no Stravinski já diz tudo: Brasil!. Gilberto Gil e Milton Nascimento mostram ao público do festival o show que já vêm fazendo em várias capitais brasileiras desde o ano passado, que inclui o repertório do álbum Gil e Milton ouvir 30s e clássicos individuais de cada um. A dupla já está na Europa há duas semanas: se apresentaram na França e em Portugal antes de partir para a Suíça. Maria Bethânia é quem faz a abertura do show da dupla, fazendo uma prévia do repertório de seu próximo álbum, que inclui inéditas de Lenine e Ivan Lins. Bethânia também já está na Europa há dias, fazendo sua própria turnê.

No sábado, dia 14, há a Tropical Night do evento, reunindo uma trinca meio improvável: Skank, Carlinhos Brown e Jorge Ben Jor. Os mineiros do Skank são os menos conhecidos na Europa, e vão fornecer o aquecimento para a noite com seu reggae-pop. Carlinhos Brown (que acaba de fazer uma apresentação muito bem sucedida na Itália) vem em seguida, com direito a uma divisão completa da Timbalada, para mostrar as canções de seu recente Bahia do Mundo - Mito e Verdade ouvir 30s. Fecha a tampa Jorge Ben Jor, outro brasileiro já consagrado na Europa, vai tratar de enlouquecer os presentes com seu suíngue. Na mesma hora em que o Skank se apresenta no Stravinski Hall, o Nação Zumbi toca no Montreux Jazz Café, caprichando no manguebeat.

Ainda nesta edição do Festival, dois eventos paralelos aos shows principais serão regados a som brasileiro: o Brazil Train, no dia 13, e o Samba Boat, dia 14. Claude Nobs, o chefão do evento, é louco por música brasileira - e já declarou que seu objetivo com a inclusão de artistas brazucas no Festival é uma tentativa de recriar o astral do carnaval brasileiro na Suíça. Artistas brasileiros são presença certa no Festival de Montreux desde que um bloco puxado por Gilberto Gil (e que ainda tinha Airto Moreira, A Cor do Som e Ivinho) a primeira das Brazilian Nights do evento, em 1978. Boa parte da elite da MPB - gente do quilate de Hermeto Paschoal, Alceu Valença, Naná Vasconcellos, Tom Jobim ou Gal Costa - passou por lá. Vários nomes já registraram álbuns ao vivo extraídos de concertos feitos no Festival, como João Gilberto (Live at the 19th Montreux Jazz Festival), Paralamas do Sucesso (D ouvir 30s, 1987), Titãs (Go Back ouvir 30s, 1988), Elis Regina (Montreux Jazz Festival, 1982) e outros.