Pesquisa sobre impacto do Napster é inconclusiva

Caiu a venda de CDs em lojas próximas a universidades americanas. Mas dá para colocar a culpa no Napster?

Vicente Tardin
29/05/2000
Desde que o Napster se tornou em poucos meses um serviço famoso em todo o mundo, a indústria do disco tem como fato concreto que a facilidade de se obter música por download gratuito afeta a venda de CDs.

O óbvio sucesso do Napster motivou um estudo, indicando que mais de setenta por cento dos universitários americanos usam o programa pelo menos uma vez por mês. Fora isso, há poucos números. No mês passado uma pesquisa divulgada pela empresa americana Reciprocal, especializada no gerenciamento de direitos autorais envolvendo a internet, trouxe mais dados à discussão, ainda que de forma não conclusiva.

A pesquisa da Reciprocal foi realizada nos Estados Unidos e ficou restrita a lojas de discos em área vizinhas a universidades, onde sabidamente está localizado um público comprador de CDs e agora também adepto do Napster.

A pesquisa considerou três mil universidades e nove mil lojas próximas a elas, em um raio de uns 8 quilômetros. Os dados apontaram para uma queda de 4% na venda de CDs nestas lojas no período de janeiro de 1997 a março de 2000. Estes números contrastam com as vendas em geral no país, que subiram no período. A queda foi ainda maior em certas áreas onde a Reciprocal identifica uma penetração também maior do Napster.

Baseada nestes números, a Reciprocal está certa de que a queda foi influência do Napster. Mas outros fatores podem estar pesando na balança. As lojas pesquisadas, por exemplo, são pequenas e sofrem a concorrência pesada de grandes cadeias de varejo. Outro concorrente que enfrentam são as próprias lojas de CDs na internet.

As datas consideradas pela pesquisa são outro ponto questionável. Em 1997 o Napster nem sonhava em existir. E a pesquisa pára em março de 2000, enquanto nos meses seguintes o Napster continuava ganhando mais e mais público.

Assim a questão envolvendo Napster, bandas e gravadoras prossegue indecifrada e atinge proporções semelhantes às paixões dos torcedores de futebol, uns contra e outros a favor. Será preciso surgirem outras pesquisas para se tirar a dúvida cruel: o download gratuito de músicas atrapalha a venda de CDs ou, pelo contrário, a estimula?