Planet Hemp é brasa, não é cinza

Incidentes não tiram da banda carioca a vontade de provocar e ela volta com A Invasão do Sagaz Homem Fumaça

Silvio Essinger
30/05/2000
Foram três anos desde o último disco, Os Cães Ladram Mas a Caravana Não Pára. No meio do caminho, a prisão da banda sob a acusação de estar fazendo apologia da maconha, ameaças mil, o afastamento forçado dos palcos, o início da carreira solo do rapper Marcelo D2 (em 1998, com o disco de samba-rap Eu Tiro É Onda) e a dispersão dos outros integrantes. Mas quando parecia certo que o Planet Hemp ia pendurar as chuteiras, eis que vem A Invasão do Sagaz Homem Fumaça, o seu terceiro disco. D2 explica – antes que alguém pergunte – que o tal homem fumaça é "o camelô, o músico, o jornalista, o trabalhador do dia-a-dia". Reflexo claro da gradual mudança de temática que a banda foi promovendo discos a disco.

"O primeiro CD (Usuário, de 1995) é temático, sobre a maconha. O segundo é totalmente sobre a liberdade de expressão. Nesse agora, procurei os temas do dia-a-dia", conta, lamentando que "algumas pessoas perdem a sensibilidade de ver as coisas do cotidiano". Não à toa, o rapper escolheu o quadrinista Marcelo Gau para ilustrar a capa e o encarte do CD. Gau especializou-se em retratar as pequenas alegrias e grandes tragédias das pessoas comuns dos subúrbios cariocas. Em preto e branco, é claro.

De qualquer forma, tem de tudo nas letras do novo disco: política, polícia, televisão, música e, é claro, maconha. O discurso, disparado por D2, BNegão (que voltou a dividir o Planet com o seu Funk Fuckers) e Gustavo Black Alien (que em breve lança seu disco solo) é cada vez mais fluente. "A gente teve tempo para aprender. Fiz letras durante três anos", diz Marcelo. O disco, no entanto, acabou saindo "no susto". "Ele foi todo feito dentro do estúdio, em 45 dias", diz.

Rock, rap e reggae
Muito importante para A Invasão do Sagaz Homem Fumaça, segundo D2, foi a volta, do guitarrista Rafael, um dos fundadores do Planet, que compôs sozinho as duas faixas instrumentais do disco: Gorilla Grip e Quarta de Cinzas. Ele trouxe a energia roqueira que, junto com a pulsação hardcore do baixista Formigão, o funk, o rap, o samba e o reggae dos rappers, do DJ Zé Gonzales e do baterista Pedrinho Garcia fazem da banda o que ela é. A mistura dos elementos, por sinal, dá título a uma das faixas: Raprockandrollpsicodeliahardcoregga..

Aos poucos, enquanto preparava o disco, o Planet veio saindo da toca. "A gente voltou a fazer shows como uma banda qualquer. O problema não é com a gente, ninguém aqui cometeu crime algum", diz D2. Deserções de integrantes em função de outros projetos não o assustam nem inviabilizam a continuidade das turnês: "Sempre tem um contundido, a gente sempre tocou assim. Tivemos de quatro até 12 pessoas no palco". Nos próximos dias, o Planet Hemp faz shows no Sul e depois vai para os Estados Unidos. A turnê pelo Sudeste começa em agosto. Quando sobrar tempo, D2 pensa em começar a gravar seu segundo disco solo, que deve vir "com um pouco mais de gente tocando e menos samples".

Com 400 mil cópias vendidas de cada um dos seus dois discos do Planet, Marcelo reconhece a posição especial que a banda ocupa na indústria e em sua gravadora. "A gente usa mais isso para o nosso benefício", diz. "É para ter um bom estúdio e um disco produzido pelo Mário Caldato (brasileiro, produtor dos americanos Beastie Boys e dos últimos dois discos do Planet). Acho que a gente já consolidou uma coisa legal. Se o novo disco não vender não vai ser algo que vá nos desanimar."