Plebe Rude reacende o fogo nos palcos

Em sua formação clássica, os punks de Brasília iniciam quarta-feira no Rio a turnê do disco ao vivo que marcou sua volta depois de dez anos

Silvio Essinger
10/07/2000
A última vez em que Philippe Seabra, André X, Jander Bilaphra e Gutje subiram ao palco do Canecão (RJ) foi 13 anos atrás. Em sua clássica formação, a Plebe Rude fazia o show de lançamento do seu primeiro LP, Nunca Fomos Tão Brasileiros. A garotada que se acotovelava para ver em ação uma das bandas mais poderosas do Rock Brasil (gestada no celeiro punk rock de Brasília e revelada pouco tempo antes pelo Mini LP O Concreto Já Rachou) hoje em dia tem famílias, empregos, responsabilidades. Se ainda restou alguma chama rock´n roll em seus corações, incêndio pode vir por aí: a Plebe original volta nesta quarta-feira ao mesmo palco carioca,em show que abre a turnê nacional de seu disco ao vivo, Enquanto a Trégua Não Vem, lançado este ano. É como se o tempo não tivesse passado.

As canções são as mesmas: Até Quando Esperar, Brasília, Johnny Vai à Guerra, Proteção, Bravo Mundo Novo... A disposição no palco, a mesma também. Philippe se diz orgulhoso do disco, "que conseguiu captar o punch da Plebe". Com uma semana de ensaios, em novembro do ano passado, a banda marcou duas noites de show no Espaço Odeon (RJ) e gravou Enquanto a Trégua Não Vem. Na platéia, por noite, não mais de 300 pessoas. "A gente recriou o Metropolis (casa de shows do underground roqueiro carioca dos anos 80)", diz Philippe. "Era só plebeu, não era gente que ia para beber e ficava de costas para o palco."

Extinta em 1994, depois de quatro discos, a Plebe voltou ano passado, com sua formação clássica. Mais do que a pressão dos fãs (e a curiosidade dos que nunca haviam visto um show da Plebe nos bons tempos), o que pesou, segundo o guitarrista e vocalista Philipe foi: 1) A disposição dos músicos em tocar. 2) Um sentido na volta da Plebe. "A gente não teria aceitado se a banda estivesse datada", diz. Um ano atrás, o quarteto resolvia suas diferenças e se reunia pela primeira vez em dez anos, para tocar no festival Porão do Rock, em Brasília. Feitos os acertos para a gravação de um disco ao vivo pela EMI (que, por sua vez, relançou os três primeiros discos da banda), começou o projeto Plebe Rude.

A reunião tem data – até o fim do ano – para acabar. Afinal, o baixista André X hoje é funcionário do Banco Central (o que praticamente limita a excursão aos fins de semana) e Phillipe se prepara para lançar seu primeiro disco com sua banda americana, o Daybreak Gentlemen. A turnê da Plebe que começa esta semana surge talvez como a última chance de ouvir, com os integrantes originais, os sucessos (incluídos no disco ao vivo) e algumas músicas que ficaram de fora, como Seu Jogo e Nunca Fomos Tão Brasileiros. "A gente só se recusa a tocar Censura", conta Philippe. Não porque a musa da canção tenha sido – oficialmente, vá lá – extinha. "É que a música é um pouco pedante", reconhece.

O show no Canecão traz novidades até para os fãs mais antigos e fiéis da Plebe. Além do show de abertura dos recifenses do Sheik Tosado, haverá também a exibição de Ascensão e Queda de Quatro Rudes Plebeus, um curta-metragem filmado pela banda em 1982, que chegou até a ganhar um festival de cinema de Brasília. Com participação de Renato Russo no papel de um vilão, o filme (que nunca havia sido exibido em shows) resgata uma época em que o rock se empenhava em desafinar o coro dos contentes. "A Plebe é uma banda que ainda acredita que dá para mexer através da música. Sinto falta de coerência no rock dos anos 90 – vale tudo hoje em dia", lamenta Philippe.