Prazer em conhecer, Fred Martins
Jovem compositor já gravado por Ney Matogrosso e Zélia Duncan lança Janelas, sua estréia em CD
Marco Antonio Barbosa
28/09/2001
![]() | |
Clique para ampliar |






"Minha decisão de botar meu trabalho, a minha cara na rua, veio ao mesmo tempo em que o Ney e a Zélia escolheram minhas músicas. Foi uma coincidência que acabou servindo para me deixar mais famoso um pouquinho. Aí senti segurança para cantar de verdade. Tem uma hora em que não mais dá para ficar trancado no quarto. Para o trabalho ser completo, precisa ter uma resposta de público", conta Fred sobre sua (puramente ocasional) posição de eminência parda das duas estrelas. Aos 32 anos, nascido em Niterói (RJ), ele vem sendo apontado como um dos bons nomes na nova safra de compositores de MPB. Além dos citados Ney e Zélia, ele foi gravado recentemente por Cris Dellano, Carlos Navas e Eliana Printes. E, afinal, grava a si mesmo em Janelas, cercado por ótimos músicos (Marcos Suzano, Jurim Moreira, Fábio Fonseca) e sob a produção do eclético Rafael Ramos (João Donato, Matanza, Falamansa).
Apesar de manter uma produção constante desde a pós-adolescência, as canções que Fred pôs em Janelas são todas de uma safra recente. "Componho num fluxo contínuo, mas de um tempo para cá, amadureci como compositor. Acho que consegui chegar a um equilíbrio entre a simplicidade da forma e a densidade do que está sendo cantado. Acabei colocando as canções que tinham uma relação mais intensa com o meu momento atual", diz o compositor. O resultado é um eclético painel que vai do pop (O Bastante) à balada ( Não Só Pela Chuva), passando por momentos mais suingados e bem-humorados (996, número da linha de ônibus que liga Niterói à Gávea, bairro da cidade do Rio) e mais delicados (Tempo Afora). Não poderia faltar Novamente, a música que, afinal, tirou Fred da toca. "Além de ser uma canção que marca um momento de mudança na minha vida e na minha carreira, eu acho que consegui com ela fazer uma síntese de vários gêneros musicais - algo que eu sempre persegui", afirma Fred.
Essa perseguição vem de longe, dos anos 80 - quando, adolescente, Fred formou sua primeira banda. "Era um treco meio enrolado, misturava jazz com MPB... eu ouvia muito Egberto Gismonti e Clube da Esquina naquela época", lembra. Para não dizer que Janelas é seu primeiro álbum, Fred faz questão de contar que gravou, em 1991, um disco homônimo, lançado pelo selo Niterói Discos (bancado pela Secretaria de Cultura da cidade). Ele também faz questão de frisar que desconsidera o LP (sim, só existiu em vinil) como sua estréia real. "Eu era muito imaturo, musical e profissionalmente. E demorei a amadurecer: tanto que das músicas que eu fiz naquela época e depois, acabei abandonando quase todas. Também por isso demorei a me lançar de verdade como cantor; nunca achava que as músicas estavam boas o suficiente, ou que eu já fosse capaz de cantar bem. Depois que o Ney gravou minha música, passei a ter mais confiança", diz Fred.
O rapaz que iniciou-se na música tirando no violão as canções que ouvia no rádio acabou indo trabalhar com Almir Chediak, o exigente papa dos songbooks de MPB. "Passei um bom tempo fazendo transcrições de cifras para os songbooks. Fiquei completamente envolvido naquele trabalho, era muito gratificante. E aprendi bastante também", conta Fred, que trabalhou nas partituras de artistas como Tom Jobim, Chico Buarque, Noel Rosa e Rita Lee. Desta forma (e dando aulas de violão) o compositor de Novamente gastou boa parte dos anos 90... até ser "descoberto" por Ney Matogrosso. "A (cantora e compositora) Lucina, minha parceira, foi minha ponte até o Ney. Ela levou uma fita bem recheada de músicas minhas para ele ouvir, daí ele escolheu Novamente", diz Fred.
Compondo incessantemente durante a última década, Fred Martins já tinha por hábito enviar canções suas a grandes intérpretes, sem muita pretensão. E foi sem pretensão que ele acabou respingado pela recente polêmica envolvendo Gal Costa - que afirmou não ter gravado músicas inéditas em seu disco De Tantos Amores pela pobreza da nova safra de compositores. Fred foi um dos que enviaram, modestamente, canções para apreciação (e rejeição) da diva baiana. "Sempre fui fã da Gal e não vou deixar de ser por isso. Mas essa atitude é comum a todos os 'grandões' da MPB. As pessoas ficam muito isoladas com a fama. Criam uma couraça que impede o diálogo com os novos talentos", analisa Fred. Quanto a fazer parte de uma novíssima safra (que substituiria a não tão "nova" safra de Lenine, Zeca Baleiro e Chico César), junto a nomes como Suely Mesquita, Simone Guimarães e Rodrigo Maranhão, Fred fala: "O que nos une é a falta de alinhamento a um gênero específico de música, ou a um movimento. Quando começamos a ouvir música, as cartas já estavam dadas; sobrou para nós pegar tudo de uma vez, sem nos preocuparmos em ser tropicalistas, roqueiros ou bossanovistas. Nossa identidade é a diferença."
Leia ainda:
|