Prêmio Hutus 2001, por um mundo melhor

Discurso de preocupação social foi a tônica entre os vencedores do evento; MV Bill e Rappin Hood sairam premiados

Marco Antonio Barbosa
01/12/2001
O who's who do rap brasileiro, versão 2001, viu a vitória da preocupação com o social sobre as bravatas vazias e o discurso violento. A entrega do segundo Prêmio Hutus, ocorrida ontem (dia 30 de novembro) no Teatro Carlos Gomes (Rio de Janeiro) teve como grandes vencedores o grupo paulista SNJ (Somos Nós a Justiça) - eleitos melhores artistas do ano - e o rapper carioca MV Bill, premiado com dois troféus. Em comum entre eles, e também entre todos os que subiram ao palco, um discurso só: a relevância do rap como oportunidade de vida digna para a juventude urbana carente.

"Quando resolvi cantar rap me chamaram de maluco. Acho que sou maluco mesmo, porque criei um personagem para mim, vi minha vida mudar através dele e consegui mudar a vida de um monte de gente também. Agora eu vivo em função desse personagem", falou MV Bill, ao agradecer seu primeiro prêmio da noite - o de melhor música do ano, por Só Mais um Maluco. O versador de Vigário Geral também foi premiado na categoria videoclipe, com o polêmico Soldado do Morro. Ao receber das mãos de Toni Garrido (Cidade Negra) o prêmio de melhor artista do ano, o quinteto SNJ bateu na mesma tecla. "O rap nos tirou do crime. Quando começamos, chegamos ao ponto de pegar armas para fazer um trampo - um assalto - para pagar uns equipamentos que tínhamos comprado a prestação. Mas desistimos a tempo", confessou um dos vocalistas do grupo, Sombra.

Outro dado importante da noite foi a ascenção evidente do rap gospel, que este ano ganhou uma categoria própria e venceu no quesito melhor álbum. Ambos os prêmios pararam na mão do grupo paulista Apocalipse 16 (com o álbum 2º Vinda a Cura). O APC 16 (como é conhecido por seus fãs) fez uma das apresentações da noite; os outros que passaram pelo palco foram Rappin' Hood, SP Funk, Anfetaminas e SNJ.

Rappin' Hood, além de ter feito a apresentação final (e mais aclamada), ganhou o prêmio de melhor revelação. Gizza, irmã de MV Bill e lançada na coletânea Comp 1/2, do selo Muquifo Records, levou o prêmio de melhor demo. Na categoria grupo ou artista feminino, foi o Visão de Rua que se deu bem. Como melhor produtor, KLJay (dos Racionais MC's) foi o escolhido; Cia (do grupo RZO), foi eleito o melhor DJ. As categorias "empresariais" tiveram como vencedores a Trama (como melhor gravadora) e o site Bocada Forte ( www.bocada-forte.com.br, melhor veículo de comunicação).

Thaíde, primeiro premiado da noite - personalidade hip hop do ano - foi o mestre de cerimônia do evento, revelando impagável senso de humor. Saiu-se bem melhor que a global Glória Maria, que não demonstrou ter muita afinidade com o universo hip hop. Luciana Mello, Tony Tornado, o veterano break dancerNelson Triunfo e Caetano Veloso estiveram entre as personalidades que entregaram os prêmios aos rappers.