Prêmio Rival BR faz honra aos independentes

Segunda edição do evento premiou onze categorias e teve como grande homenageado o sambista Jamelão

Marco Antonio Barbosa
05/06/2003
Pelo segundo ano consecutivo, o Teatro Rival BR (RJ) converteu-se no ponto focal da música independente brasileira. Foi na noite de ontem (dia 4), durante a entrega da segunda edição do Prêmio Rival BR de Música, evento que, desde o ano passado, quer tornar-se a principal vitrine da produção da MPB fora das grandes gravadoras multinacionais. Onze categorias (duas a mais que em 2002) foram contempladas este ano, tendo como homenageado especial o sambista Jamelão - ano passado foi a vez do Rival BR prestar tributo a Humberto Teixeira. Após a entrega dos troféus, um show especial reunindo Zelia Duncan, Zeca Pagodinho, Nana Caymmi, Luiz Melodia, Elza Soares e o conjunto vocal As Gatas repassou os pontos altos do repertório de Jamelão, que mês passado completou 90 anos de idade.

Com o Rival lotado de artistas e personalidades do mundo musical (além do público que assistia à cerimônia do lado de fora, na Cinelândia, em um telão), a mentora do teatro e sua jovem filha - respectivamente Angela Leal e Leandra Leal - apresentaram a entrega dos prêmios. Como no ano passado, apenas artistas que lançaram trabalhos por gravadoras independentes podiam concorrer aos troféus. Assim, os finalistas escolhidos pelo juri (composto por Flavio Marinho, Geraldo Carneiro, Moraes Moreira, Luiz Carlos da Vila, Zé Renato e Tarik de Souza) compõem um bem acurado painel do melhor da produção indie da MPB em 2002/2003.

O grande momento da noite, no qual rasgou-se de vez o protocolo, foi quando Walter Alfaiate foi chamado ao palco para receber o prêmio de melhor cantor. O veterano sambista carioca na verdade NÃO tinha ganho a parada; foi Jair Rodrigues o eleito. Mas, diante da aclamação do público presente ao anúncio do nome de Alfaiate - e da decepção pela ausência de Jair, impossibilitado de comparecer à festa - a chefona Angela Leal resolveu declarar um "empate" entre Walter e Rodrigues, e o portelense histórico subiu ao palco para receber o troféu. Ovacionado, claro.Segundo o jurado Luiz Carlos da Vila, tudo bem, pois "Jair é Walter Alfaiate." No mais, a premiação seguiu sem muitas surpresas, dado o alto nível e o equilíbrio dos nomes indicados.

Já o show que se seguiu teve um certo gostinho de anticlímax. Primeiro, pela ausência do grande homenageado, Jamelão, que não pode ir ao Rival por problemas inesperados de saúde. Assim como o convidado de honra, o cantor Emilio Santiago, também incluído na formação, não deu as caras. Depois, pela redução forçada na duração do espetáculo, que teve oito de suas músicas cortadas e seus blocos temáticos embaralhados. Enfim, ainda assim foi um show de classe, com uma ótima performance da banda de nove integrantes (que recriou com garra os arranjos de gafieira que notabilizaram as performances do crooner Jamelão) e um repertório finamente escolhido. Assim como o show do ano passado, a apresentação foi registrada e vai virar CD ao vivo, lançado pela Rob Digital. Ano que vem, o homenageado especial será Monsueto.

Nana Caymmi esbanjou o conhecido vozeirão em Folha Morta e Nem Eu, cabendo a Zélia Duncan ficar num registro mais cool em Matriz ou Filial e Volta. Zeca Pagodinho caprichou o quanto pôde em Nervos de Aço e Leviana, ainda que ambas demandassem um intérprete mais dramático. Elza Soares provou mais uma vez estar, de novo, no topo de sua forma, arrepiando em Ela Disse-me Assim e Cadeira Vazia. E Luiz Melodia, sem esforço algum, recriou com suingue sutil Nunca e Esses Moços. As Gatas mandaram uma seleção de sambas menos conhecidos, alguns compostos pelo próprio Jamelão (como Quem Samba Fica), antes de uma seção de ritmistas da Mangueira, acompanhada pelo puxador Dominguinhos, engatar uma coleção de sambas-enredo da escola do coração de Jamelão.

Os vencedores (e os concorrentes)
Cantor: Walter Alfaiate (Jair Rodrigues, Max de Castro)
Cantora: Luciana Souza (Wanda Sá, Rosa Passos)
Grupo Musical: Pedro Luiz/Monobloco (Nação Zumbi, Tira Poeira)
Instrumental: Paulo Moura (J. T. Meirelles, Hamilton de Hollanda)
Compositor: Zeca Baleiro (Chico César, Raphael Rabello)
Produtor Artístico: Maurício Carrilho, Acari Records (Mario Adnet, Mario de Aratanha)
Tributo (cd): Acerto de Contas - a Paulo Vanzolini (Biscoito Fino) ( Reencontro - a Luiz Eça, da Biscoito Fino, e Primeira Dama - Leandro Braga - a Dona Ivone Lara, da Carioca Discos)
Melhor CD: Cenas Brasileiras - Wagner Tiso (Biscoito Fino) (Palhaço do Circo Sem Futuro - Cordel do Fogo Encantado, independente, e Duo - Cesar Camargo Mariano/Romero Lubambo, da Trama)
Revelação: Tereza Cristina (Fernanda Porto, Marina Machado)
Atitude: Gravadora Revivendo (Acari Records, Kuarup).