Punk Rock

Guitarras em fúria abalam a MPB

Silvio Essinger
01/01/1900
A revolução punk promovida pelos Sex Pistols e The Clash na Inglaterra em 1976 teve seus ecos no Brasil, algum tempo depois, na periferia paulistana. Em 1978, adolescentes de classe média baixa, familiarizados com a cultura do rock, montaram as primeiras bandas punk do país: AI-5 e Restos de Nada. Mais tarde, apareceram outras, como Olho Seco, Cólera, Ratos de Porão e os Inocentes (resultado da fusão do Restos com os Condutores de Cadáveres), destaques de uma cena punk de São Paulo que viria a ganhar as TVs e jornais em 1982, com o festival O Começo do Fim do Mundo.

Sempre de forma independente, as bandas gravaram seus primeiros discos: a coletânea inaugural do punk brasileiro, Grito Suburbano (1981), os compactos Botas, Fuzis, Capacetes (1983, do Olho Seco) e Miséria e Fome (1983, Inocentes), e os LPs Crucificados Pelo Sistema (1984, Ratos de Porão) e Tente Mudar o Amanhã (1985, Cólera). Enquanto isso, o punk ganhava um certo reconhecimento nos circuitos alternativos da Europa e EUA, graças a fitas cassetes que eram enviadas pelo correio, em troca de fitas com as músicas das novas bandas de fora.

A partir de meados da década de 80, o movimento punk paulistano passou a viver seu momento de dispersão e retrocesso. Mas as idéias punk, a essa altura, já haviam germinado em outras cidades brasileiras, dando origem a significativas bandas, como Coquetel Molotov (Rio de Janeiro), Aborto Elétrico (Brasília), Camisa de Vênus (Salvador) e Replicantes (Porto Alegre). Já nomes como a Legião Urbana e o Capital Inicial (ambas surgidas do Aborto), Plebe Rude, Ira! e Titãs, apareceriam mais tarde, no cenário do Rock Brasil, com trabalhos senão punks, ao menos inspirados pelo punk.

Penetração no exterior
Em 1986, com a cena praticamente esfriada, os Inocentes gravaram seu primeiro disco por uma grande gravadora, o Mini LP Pânico em SP. No ano seguinte, o Cólera se tornou a primeira banda punk brasileira a fazer shows no exterior, cumprindo uma extensa turnê por espaços alternativos na Europa. Enfim, em 1989, os Ratos de Porão foram contratados pela gravadora holandesa Roadrunner e gravaram em Berlim o LP Brasil, que foi lançado na versão brasileira (cantada em português) e internacional (em inglês).

Com algumas poucas bandas de mais renome conseguindo gravar discos (Ratos, a mais bem-sucedida no exterior, Inocentes e Garotos Podres), o punk entrou enfraquecido a década de 90. Suas lições, porém, foram dar frutos em Brasília, onde uma banda chamada Raimundos, que misturava o hardcore dos Ratos ao baião do sanfoneiro Zenilton, despontou para o sucesso em 1994 com a música Puteiro em João Pessoa. Pouco mais tarde, em 1997, uma banda punk do Alto José do Pinho (favela de Recife), Devotos do Ódio, gravou seu primeiro disco, Agora Tá Valendo, por uma grande gravadora. Enquanto isso, a realidade dos pequenos e setorizados selos fonográficos (uma idéia difundida desde os primeiros dias do punk) mostrou sua viabilidade mercado no rock (em parcerias com as majors), fazendo com que os discos de bandas novas proliferassem ao longo dos anos 90.


Músicas

Nada – Olho Seco
Crucificados pelo Sistema – Ratos de Porão -->
Pânico em SP – Inocentes -->
Medo – Cólera -->
Papai Noel Velho Batuta – Garotos Podres
Surfista Calhorda – Replicantes
O Adventista – Camisa de Vênus -->
Que País É Esse? – Legião Urbana
Brasília – Plebe Rude
Punk Rock, Hardcore, Alto Zé do Pinho – Devotos do Ódio