Quinteto em Branco e Preto estréia em CD

Jovem grupo paulista de samba – que, ao contrário da maioria dos colegas, cultiva a tradição do gênero – chega ao cenário apadrinhado por Beth Carvalho e Nei Lopes

Carlos Calado
27/07/2000
Quem pensa que o samba paulista se restringe ao apelativo gênero musical que se convencionou chamar de pagode, vai ter que reconsiderar esse ponto de vista. A gravadora CPC-Umes promete para o final de agosto o CD de estréia do Quinteto em Branco e Preto, grupo jovem que é considerado uma promissora revelação do gênero, justamente por cultivar a tradição do samba.

Avalizando o talento dos cinco rapazes, cujas idades variam entre 18 e 25 anos, vêm dois padrinhos ilustres, que até já se apresentaram com eles em shows. Foi a cantora Beth Carvalho que sugeriu o nome Quinteto em Branco e Preto, em 1998, quando o grupo teve que abrir mão do nome Quinteto Café com Leite, usado durante um ano, porque esse já havia sido registrado. Já o compositor e escritor Nei Lopes foi o responsável pela indicação do grupo à gravadora do CPC-Umes.

"Não temos rivalidade com ninguém", diz o vocalista e compositor Magno de Souza, o mais velho do quinteto, afirmando que o fato de ser uma exceção entre os sambistas jovens de São Paulo não o incomoda. "A gente respeita o trabalho dos pagodeiros e eles respeitam o nosso. Alguns até já nos disseram que gostariam de fazer o tipo de samba que fazemos, mas sofrem pressões das gravadoras."

Depois que o prestígio do grupo paulista chegou aos círculos do samba carioca, vários mestres e figurões do gênero já requisitaram o quinteto para acompanhá-los em shows, em São Paulo. A lista de bambas que já dividiu o palco com os cinco rapazes é de causar inveja a qualquer sambista: Jamelão, João Nogueira, Monarco, Dona Ivone Lara, Nelson Sargento, Wilson das Neves, Guilherme de Brito, Walter Alfaiate, Luiz Carlos da Vila e Almir Guineto são os mais conhecidos.

Autodidatas
"A gente cresceu ouvindo todas essas feras do samba. Ficamos até admirados quando vemos que estamos no palco com eles. Não sei se sorte é a palavra mais adequada. É gratificante demais", diz Magno, reconhecendo que o contato direto com a velha guarda do samba tem sido muito enriquecedor para a formação do grupo. "Somos músicos de rua. Ninguém do quinteto estudou nada. Só o Maurílio chegou a ficar uns dias num conservatório, mas era muito caro."

No repertório do CD de estréia do Quinteto em Branco e Preto entraram algumas composições próprias de integrantes do grupo, como Riqueza do Brasil (de Magno de Souza, Maurílio de Oliveira e Osvaldinho da Cuíca) e Desfez de Mim (Magno, Maurílio e Francisco Luiz). Não faltaram também sambas assinados por feras do gênero, como O Tempo Que Era Criança (da dupla Wilson das Neves e Paulo César Pinheiro) e Sempre Acesa (de Luiz Carlos da Vila e Sombra).

Além de Magno (no pandeiro e no vocal), o quinteto é formado por Yvison José (percussão e vocal), Maurílio de Oliveira (cavaquinho e vocal), Everson Manoel (violão e vocal) e Victor Hugo (surdo). Alguns convidados especiais também participaram das gravações: a madrinha Beth Carvalho, o baterista e cantor Wilson das Neves e membros da Velha Guarda da escola de samba paulistana Camisa Verde e Branco.

"Jamais pensamos em ganhar dinheiro com música. O objetivo do grupo era só conhecer melhor as obras de Cartola, Nelson Cavaquinho e outros grandes sambistas", diz Magno, que deixou o emprego no ramo de ourivesaria, no início do ano, para se dedicar integralmente à gravação do disco. "Ainda não dá para viver de música, mas a gente sobrevive. Às vezes conseguimos ganhar algum para pôr reboco na laje ou pintar a parede de casa. A vida de sambista é essa".