Rainbow Records: MPB <i>for export</i>

Depois de 12 anos no Japão, o percussionista Marco Bosco volta ao Brasil e monta selo para gravar música brasileira de qualidade, de olho no mercado externo. Tributos a Rogério Duprat e Jackson do Pandeiro estão entre os lançamentos

Carlos Calado
04/12/2000
Tributos ao maestro tropicalista Rogério Duprat e ao mestre do coco Jackson do Pandeiro, músicos norte-americanos tocando MPB com instrumentistas brasileiros. Esses são alguns dos projetos iniciais da Rainbow Records, gravadora sediada em São Paulo, que acaba de ser criada pelos músicos (e amigos de infância) Marco Bosco, Ruriá Duprat, Sérvulo Augusto e Eduardo Santos. "Queremos fazer música para ficar, que continue vendendo daqui a 10 ou 20 anos. Não estamos interessados em fashion music", diz Bosco, percussionista e produtor paulista, que retornou ao país em abril último, depois de viver mais de uma década no Japão.

"Acho que a música brasileira pode alimentar o cenário pop internacional com uma nova veia de criação. Se você fizer um retrospecto recente vai perceber isso, a começar pelo [selo] Real World, do Peter Gabriel. Até o Simply Red está usando batucada brasileira. Está muito claro hoje que a música brasileira é a bola da vez", afirma Bosco, demonstrando otimismo quanto ao interesse atual pela música brasileira no exterior. Em 1990, descontente com o mercado musical do país, depois de ter trabalhado com grandes nomes da MPB, o percussionista decidiu procurar no Japão um produtor que bancasse a edição de seu terceiro álbum (Hánéreá - Power of Nature). A tentativa tinha uma razão de ser: em 1980, Bosco já tinha gravado em Tóquio um disco com o grupo Acaru, do qual Ruriá Duprat também fazia parte. "O primeiro cara que eu contactei topou fazer meu disco. Minha intenção era passar uns seis meses por lá. Fiquei quase 12 anos", conta.

De volta ao Brasil, integrando a banda que acompanhava a cantora norte-americana Nina Simone, Bosco resolveu ficar de vez para realizar um antigo sonho: criar um selo focado na MPB. "O mercado atual não mostra a realidade da música popular brasileira. Acho que os caras das gravadoras não sabem o que está acontecendo por aí. Se você for ao bar Supremo, aqui em São Paulo, de segunda-feira a domingo, vai ouvir coisas muito bacanas", argumenta. Apesar de seu interesse pelo público brasileiro, Bosco não esconde que seu objetivo maior é mesmo o mercado internacional. "Antes de qualquer coisa, somos músicos, por isso mantemos um certo romantismo. Porém, tenho certeza de que a maioria de nossos projetos têm mais chances no exterior", afirma.

Entre esses projetos, o de maior alcance internacional é um álbum com o trompetista norte-americano Randy Brecker, que já está sendo finalizado, em São Paulo. Com previsão de lançamento em abril de 2001, Randy Brecker Plays Brazilian Music destaca o jazzista interpretando composições de Gilberto Gil (Oriente, Rebento), Djavan (Malasia, Me Leve), Ivan Lins (Ai Ai Ai Ai) e João Bosco (Olhos Puxados), além de duas composições próprias, em arranjos de Ruriá Duprat. A seu lado, Brecker tem uma banda formada por instrumentistas brasileiros do primeiro time: Ricardo Silveira (guitarra), Teco Cardoso (sax e flauta), Paulo Calazans (teclados), Sizão Machado (baixo elétrico) e Robertinho Silva (bateria), além do próprio Bosco (percussão). "Um cara como o Randy, que é totalmente funk e jazz, achou o máximo gravar um samba do João Bosco com pandeiro e tamborim", diz o percussionista e produtor, revelando que pretende desdobrar esse projeto. "Queremos que isso vire uma série. Vamos continuar trazendo ao país músicos estrangeiros para gravar MPB com brasileiros", explica.

Outro projeto da Rainbow Records (este com maior potencial no mercado brasileiro) é um tributo a Rogério Duprat, o maestro paulista que marcou com suas idéias e inovadores arranjos o movimento tropicalista, no final dos anos 60. Com gravação ao vivo agendada para abril de 2001, no palco do Via Funchal, em São Paulo, esse álbum vai contar, segundo Bosco, com participações dos tropicalistas Caetano Veloso, Gilberto Gil, Tom Zé, Gal Costa e Rita Lee, além de Jorge Ben Jor e Orquestra Jazz Sinfônica.

Bosco pretende lançar também três álbuns próprios. Techno Roots, já em fase de gravação, reúne um elenco bem eclético, que vai do pianista Egberto Gismonti ao forrozeiro Genival Lacerda, passando por figurões da MPB, como Leila Pinheiro, Dominguinhos e Alceu Valença. O repertório consiste em canções do repertório de Jackson do Pandeiro, que vão receber um tratamento eletrônico. "É uma homenagem, uma releitura mais pop do Jackson, sem nada a ver com o forro pé-de-serra", explica o percussionista, que vai editar aqui seus dois álbuns anteriores: There Will Be No Money Today (gravado em Tóquio) e Tokyo Diary (gravado no Japão, nos EUA e no Brasil), este com participações de Airto Moreira, Flora Purim, César Camargo Mariano, Oscar Castro-Neves e do jazzista Don Grusin.

Entre a primeira fornada de lançamentos do selo, previstos para 2001, também aparecem álbuns da banda pop paulista Super Bela, do compositor Sérvulo Augusto (Coletivo, com participações de Mônica Salmaso, Marlui Miranda, Jane Duboc, Elza Soares, Antonio Carlos Nóbrega e Banda Mantiqueira), do baixista Sizão Machado, da baterista Vera Figueiredo (com participações dos jazzistas Dennis Chambers e Mike Stern) e do musicólogo Régis Duprat (As Modinhas do Brasil).