Rainha do samba encara realeza britânica

Elza Soares faz dois shows em Londres, um deles em baile que poderá contar com a presença da Rainha Elizabeth, leva novamente seu show Dura na Queda ao Rio e lança CD de inéditas em 2001

Rodrigo Faour
20/09/2000
Já imaginaram a rainha do samba cantando para a rainha da Inglaterra? Isso poderá acontecer no dia 9 de novembro, quando Elza Soares – depois de ganhar o prêmio de Cantora do Milênio oferecido pela BBC de Londres, representando o Brasil, e de atuar ao lado de Chico, Caetano, Gal e Gil no show Desde que o Samba É Samba, no Royal Albert Hall londrino em novembro passado – volta à Grã-Bretanha para apresentar-se no Grosvenor House Hotel, num baile fechado para a realeza britânica. Com o objetivo de angariar fundos para os países do Terceiro Mundo, o evento costuma ser prestigiado pela Rainha Elizabeth. Por conta disso, Elza já está toda ouriçada com o possível encontro. "Queria que o Brasil se orgulhasse disso. Não é só se orgulhar que Pelé é rei. Isso serve de incentivo até para quem está começando. Digo isso agradecendo a Deus por ter me dado esse momento, não é para dizer que sou melhor do que ninguém. É que não é fácil chegar até onde cheguei", desabafa Elza.

Mas não é só esse show que mobiliza as atenções da cantora. No dia 10 de novembro ela faz show aberto ao público também em Londres no Shepherds Bush Empire, teatro com capacidade para 1.300 pessoas. Antes disso, traz seu show Dura na Queda novamente ao Rio de Janeiro – onde estreou em maio no Teatro Glória – desta vez, no Garden Hall, dia 6 de outubro em apresentação única. Elza também já está se reunindo com os produtores Alê Siqueira (dos recentes discos de Tom Zé e Arnaldo Antunes), mais José Miguel Wisnik e Gringo Cardia (mesmos de seu show atual) para selecionar as faixas de seu novo CD. Ela pretende entrar em estúdio em dezembro e lançá-lo em abril de 2001. Será uma produção independente a ser distribuída por um grande selo. Como se não bastasse, ela está tomando aulas de percussão e dança – e já vai mostrar no show do mês que vem um pouco do que vem ensaiando.

"Estou aprendendo a tocar pandeiro e congas. E estou fazendo dança também com a Débora Colker. Você sabe que eu tenho 15 anos! (risos) Tem dia que estou numa adolescência terrível, e tenho que explodir, deixar essa criança sair de mim", diz Elza com sua energia inacreditável para alguém que já canta há quase 50 anos e que há menos de um ano caiu do palco do ATL Hall (RJ) de uma altura de três metros, fraturando duas vértebras. Se em seu último show, ela não estava conseguindo dançar com o fervor que costuma apresentar, agora promete voltar em grande estilo – com salto 15, of course. "Ela vai voltar diferente, pode esperar", diz Elza, referindo-se a si mesma.

Para conseguir estar tão bem, Elza tem se cuidado muito. "Felizmente não aconteceu coisa pior na minha coluna e não fiquei imobilizada para sempre. Tenho o Miro, meu personal trainer, que faz meu tratamento em casa e tenho a Vilma, enfermeira do meu médico, Lídio Toledo. Dei um duro danado, por isso voltarei muito mais solta. É bom porque é quando eu canto e danço que saem todos os fantasmas da minha vida", explica. Além dos números de vanguarda que vem cantando desde o início da temporada, incluiu uma novidade especialmente para o show carioca: a recriação da salsa Somos Todos Iguais, de autoria da própria Elza, gravada originalmente em seu LP homônimo da Som Livre, em 1985. "Era uma música que gravei quando ninguém queria ouvir salsa", explica ela, sempre na vanguarda.

Disco terá inéditas de Wisnik, Chico e Arnaldo
Do repertório do show, entram no disco novo de Elza as inéditas Bambino (Wisnik) e Dura na Queda (feita por Chico Buarque para a peça Crioula, sobre a vida da sambista, que estreou no Rio no início do ano), além de Haiti (Gilberto Gil e Caetano Veloso), com novo arranjo e participação do grupo Afroreggae II. Ela diz que conheceu seu produtor, José Miguel Wisnik, na época em que gravou Língua, ao lado de Caetano Veloso (1984). "Ele estava presente à gravação. Depois participei de um show dele em São Paulo. Gosto dele porque ele respeita o cantor. É o tipo de gente que eu precisava conhecer para explodir", diverte-se Elza, que faz duo com Wisnik em duas faixas do novo CD do produtor, Comida e Bebida (também incluída na atual temporada) e a referida Bambino. Arnaldo Antunes também lhe enviou três músicas inéditas para que ela escolha uma para incluir no CD que ainda não tem título. Ela só sabe que o CD não vai se chamar Dura na Queda, pois pretende estrear ano que vem um show com outro nome, o mesmo que estampará na capa de seu novo disco.

No mais, Elza – sempre ligada em esportes – está conferindo a atuação de nossos atletas nas Olimpíadas de Sidney. "Estou com a TV ligada o tempo todo, fico até as três da manhã assistindo. Eu só queria fazer um apelo: queria que nosso governo olhasse mais pelo esporte e pela arte de verdade e que às vezes fica à mercê de qualquer um. O Brasil é o 26º colocado em medalhas! Que é isso? É a desnutrição total? Não pode!", reclama ela, que aprendeu desde pequena a lutar pelas causas nobres e por seus direitos. "Tenho a cabeça no céu e os pés no chão. Digo isso porque sei que muitas vezes a gente dorme com fama e acorda com fome. Não confundo, porque conheço as duas."