Rap do Carandiru ganha destaque na Inglaterra
Detentos do Rap e 509-E são alvo de reportagem da revista de dance music MixMag sobre a música que é feita dentro da maior prisão da América Latina
Silvio Essinger
26/08/2000
Os Estados Unidos inventaram o gangsta rap, modalidade musical em que os falastrões se gabam de suas armas, suas drogas, suas mulheres e seus feitos violentos. E estão todos soltos, gravando discos que vendem milhões e movimentam uma lucrativa indústria. O Brasil importou o rap e o adaptou à realidade das periferias das grandes cidades. Com letras repletas de chamados à consciência social, ele é feito por alguns com artistas que, ao contrário dos americanos, foram parar do lado de dentro da tranca dura. Em São Paulo, no complexo do Carandiru, a maior prisão da América Latina, convivem dois grupos, os Detentos do Rap e o 509-E, que têm discos gravados e desfrutam de grande popularidade no cenário nacional. A situação chamou a atenção de Alex Bellos, que realizou para a edição deste mês da revista inglesa MixMag uma reportagem de quatro páginas intitulada Jail Breaks, trocadilho que pode tanto querer dizer “fugas da prisão” quanto “breaks (no sentido do breakdance) da prisão”.
“O Carandiru se tornou o coração da cena rap de São Paulo”, escreve Bellos. “De Universidade do Crime, a cadeia se transformou numa Academia do Hip Hop, com dezenas de grupos aspirantes.” Depois de pintar os horrores da prisão (“O Carandiru é o inferno na terra: um enorme complexo de concreto do Centro de São Paulo, onde cerca de 7.300 homens vivem num espaço planejado para abrigar um terço disso”), ele parte para contar a história dos Detentos do Rap, grupo formado na prisão por Rony (condenado por assalto a mão armada), Eduardo Fonseca (ex-traficante) e Daniel Sancy (ex-assaltante). Segundo a reportagem, seus dois discos pela gravadora Fieldzz, Apologia ao Crime (que traz no encarte o irônico aviso “Contato para shows: não disponível no momento”), de 1998, e O Pesadelo Continua , de 1999, teriam vendido, respectivamente, 30 mil e 20 mil cópias – resultado comercial mais do que satisfatório para o rap no Brasil.
A reportagem conta como, depois de ouvir uma fita demo dos Detentos, o produtor Iraí Campos teve que levar um estúdio móvel para a prisão, já que a diretoria do Carandiru não autorizou a saída dos presos para a gravação do primeiro disco. Depois do sucesso de Apologia, revela Bellos, eles foram liberados para sair algumas vezes e fazer shows ou participar de programas de TV – algemados e com escolta de policiais armados, é claro. De passagem, a reportagem cita a dupla Dexter e Afro-X, também conhecida como 509-E (endereço da cela onde vivem). Rappers antes de entrar para a cadeia, eles gravaram um dos discos de rap mais elogiados do ano de 2000: Provérbios 13 , lançado pela Atração Fonográfica, com produção de grandes nomes do rap brasileiro, como Mano Brown e Edy Rock (dos Racionais MCs), DJ Hum e o carioca MV Bill.
Com algum conhecimento de causa, Bellos cita a explosão do rap nacional em 1998 com os Racionais MCs, no disco Sobrevivendo no Inferno – cuja música Diário de um Detento teve seu premiadíssimo vídeo gravado no Carandiru. Uma das declarações mais singulares da matéria é a de Wilson Souto Jr., um dos diretores da Warner, gravadora que acabou de assinar com o Pavilhão 9, banda que, apesar do nome (referente ao lugar onde ocorreu o massacre de 111 presos do Carandiru em 1992), não é formada por detentos: “A prisão é um ótimo lugar para achar talentos. Os prisioneiros não têm outra coisa a fazer 24 horas por dia senão pensar e ser criativos.”
“O Carandiru se tornou o coração da cena rap de São Paulo”, escreve Bellos. “De Universidade do Crime, a cadeia se transformou numa Academia do Hip Hop, com dezenas de grupos aspirantes.” Depois de pintar os horrores da prisão (“O Carandiru é o inferno na terra: um enorme complexo de concreto do Centro de São Paulo, onde cerca de 7.300 homens vivem num espaço planejado para abrigar um terço disso”), ele parte para contar a história dos Detentos do Rap, grupo formado na prisão por Rony (condenado por assalto a mão armada), Eduardo Fonseca (ex-traficante) e Daniel Sancy (ex-assaltante). Segundo a reportagem, seus dois discos pela gravadora Fieldzz, Apologia ao Crime (que traz no encarte o irônico aviso “Contato para shows: não disponível no momento”), de 1998, e O Pesadelo Continua , de 1999, teriam vendido, respectivamente, 30 mil e 20 mil cópias – resultado comercial mais do que satisfatório para o rap no Brasil.
Reprodução da MixMag
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Com algum conhecimento de causa, Bellos cita a explosão do rap nacional em 1998 com os Racionais MCs, no disco Sobrevivendo no Inferno – cuja música Diário de um Detento teve seu premiadíssimo vídeo gravado no Carandiru. Uma das declarações mais singulares da matéria é a de Wilson Souto Jr., um dos diretores da Warner, gravadora que acabou de assinar com o Pavilhão 9, banda que, apesar do nome (referente ao lugar onde ocorreu o massacre de 111 presos do Carandiru em 1992), não é formada por detentos: “A prisão é um ótimo lugar para achar talentos. Os prisioneiros não têm outra coisa a fazer 24 horas por dia senão pensar e ser criativos.”