Ratos de Porão e Raimundos orquestram a pauleira no Abril Pro Rock

Na noite tradicionalmente dedicada pelo festival ao heavy, thrash e punk, os veteranos paulistanos impuseram respeito e os brasilienses conquistaram o público com seus sucessos

Débora Nascimento
22/04/2001
RECIFE - Programada para começar ontem às 17h, a segunda noite do Abril Pro Rock – que, por tradição, é sempre a mais pauleira – somente teve início uma hora depois. A organização resolveu não manter a sua tão propagada pontualidade (intensificada há dois anos), porque boa parte da cidade estava mobilizada pelo jogo Sport x Náutico (1x0), que valia uma vaga para a final do Campeonato do Nordeste.

Resultado: após o fim da partida, o pavilhão do Centro de Convenções foi tomado por torcedores do Sport, que engrossaram a quantidade de roqueiros presentes no Abril Pro Rock. De acordo com o organizador do festival, Paulo André Pires, cerca de sete mil pessoas compareceram ao sábado de heavy, thrash e punk.

A noite com mais testosterona por metro quadrado teve início com a banda Dolores Del Fuego (o nome é inspirado no vocalista do grupo Badminton, Felipe Vieira, que certa vez fantasiou-se de mulher e saiu pelas ruas recifenses denominando-se como tal). Os únicos representantes pernambucanos foram responsáveis pela (in)grata função de animar os batedores-de-cabeça ainda às 18h.

Formado em março de 1997, na carnavalesca Olinda, o Dolores hoje conta com Eduardo e Léo Jordão (guitarras), André Azoubel (baixo), Elder (bateria) e Gustavo Vavoom (vocais), que cuspiu letras com temas que iam do ocultismo a fatos do cotidiano.

Logo após os olindenses, os americanos do The Queers (as bichas, em bom português) adentraram o palco do APR. Com perceptíveis influências dos Ramones, a banda começou seu set list com um cover dos mestres, Rockaway Beach, que serviu como homenagem ao cantor Joey Ramone, falecido no último domingo.

Chico Buarque hardcore
Assim como o Queers, outra surpresa da noite foi a apresentação dos cariocas do Infierno, que ainda não havia tocado no Recife. No final, foi um dos shows mais competentes da programação. Enquanto no CD do grupo detona uma mistura de rock pesado e sons eletrônicos, ao vivo a conversa é outra. É uma pancada só promovida por Denner Campolinna (baixo), Alex Fonseca (bateria e samples), Henrique Zump (vocal) e André Morais (guitarra). Para chocar os mais ortodoxos, o pessoal ainda fez uma versão hardcore de Construção, de Chico Buarque.

Após o Infierno, os paulistanos Ratos de Porão mostraram por que, apesar dos vinte anos de estrada, continuam sendo uma das bandas mais respeitadas do punk rock nacional. Quando João Gordo (mais gordo que nunca) foi avistado, a multidão promoveu um corre-corre total para disputar a fila do gargarejo. João Francisco Benedam levantou os fãs com "crássicos" de discos como Crucificados pelo Sistema (1984) e Anarkophobia (1991).

Mas a missão de fechar a noite ficou mesmo com o Raimundos. Sustentado pelo sucesso dos discos Só no Forévis amostras de 30s e MTV ao Vivo Raimundos amostras de 30s, o grupo brasiliense foi o ímã que puxou ao pavilhão a maior parte da platéia, formada basicamente por adolescentes e velhos roqueiros barbados.

No set list, estavam hits de levantar a poeira, como Puteiro em João Pessoa, Mulher de Fases, I Saw You Saying, Andar na Pedra, Eu Quero Ver o Oco, A Mais Pedida, Me Lambe, Reggae do Maneiro (que incluiu uma versão de Liberdade pra Dentro da Cabeça, dos conterrâneos do Natiruts) e a versão hardcore de Vinte Poucos Anos (Fábio Júnior nem desconfiou que um dia pudesse render tanta roda de pogo num lugar só).

No camarim, Rodolfo (vocal), Fred (bateria) e Canisso (baixo) tiveram um susto provocado por Digão (guitarra), que sentiu várias tonturas após o término do show. Mas tudo acabou bem. No final das contas, para completar a noite pauleira do Abril Pro Rock só faltou mesmo a banda americana Jon Spencer Blues Explosion, que vai tocar na noite leve do domingo. Pelo banzé que o trio armou no palco carioca do Garden Hall este sábado, o choque promete ser grande.

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