Raul Seixas, quem diria, virou tema para a MPB
Tom Zé e Caetano Veloso prestam homenagens ao roqueiro baiano em bem-humoradas músicas de seus mais recentes discos. O próximo na fila é Zé Ramalho, que prepara um disco inteiro de músicas de Raul
Silvio Essinger
12/12/2000
Em menos de um mês, Raul Seixas (1945-1989) foi tema de duas músicas - bem humoradas e sarcásticas, como o próprio - de grandes nomes da MPB, baianos como ele. Tom Zé, em seu disco Jogos de Armar (Faça Você Mesmo), lançado no fim do mês passado, veio com A Chegada de Raul Seixas e Lampião no FMI ("Lampião com clavinote/ Raul trouxe o Ylê Ai Ê/ Tiraram os colhões do rock/ Enrabaram o iê-iê-iê"). Já Caetano Veloso, em Noites do Norte, que chegou ontem às mãos da imprensa, trouxe Rock'n'Raul, música que fala da "vontade fela-da-puta de ser americano" do roqueiro. "E ela foi música de trabalho do Caetano! Eu nem esperava...", surpreende-se Kika Seixas, a viúva de Raul, que ainda não tinha lido a letra. Ao ouvi-la na íntegra, brincou, dizendo que ela era "morde e assopra".
"Achei muito bacana, porque o Raul pichava o Caetano. Mas ele entendia que essa postura do Raul era rock'n'roll, de questionar, fustigando. Logo que casamos, Raul estava mal em termos de gravadora (foi pouco antes da volta ao sucesso, em 1981, com o Rock das Aranhas). Caetano foi nos visitar em Copacabana, para saber da carreira dele", revela. Já sobre a vontade de ser americano do falecido marido... "É verdade", confirma ela. "Raul sempre dizia que tinha nascido no país errado. Além do mais, ele foi casado com duas americanas!"
Kika não se lembra de nenhuma relação próxima entre Raul e Tom Zé - mas riu bastante com a letra de A Chegada de Raul Seixas e Lampião no FMI, que ainda tem o trecho "Mano Brown [rapper dos Racionais MCs - curiosamente, os rappers também são citados na música de Caetano no trecho "E hoje olha os mano"] disse a Raul/ O dinheiro a gente investe/ No Banco Carandiru/ Xingu, favela e Nordeste". "Que maravilha!", exulta Kika. "Fico tão feliz!" A alegria não é para menos: além de tudo, Zé Ramalho está preparando para o começo do ano que vem um disco só com músicas de Raul, Zé Ramalho Canta Raul Seixas - A Hora do Trem Passar. Para esse disco, Zé inclusive musicou uma letra inédita do baiano cedida por Kika, Equilíbrio ("Você tá pensando que tudo na vida são flores/ Ah, se tudo fossem flores no nosso caminho! / Você tá pensando nos prazeres da carne/ Ah, se a felicidade estivesse só na carne!").
Depois que o disco de Zé for lançado, Kika pretende partir para outros projetos em prol da memória do falecido marido. Entre eles, a remasterização dos seus discos lançados pela PolyGram ("Pretendo também dar uma melhorada nas capas, acrescentar as fichas técnicas", diz) e o lançamento de um disco ao vivo inédito, gravado em Brasília em 1972, talvez por um selo próprio.
"Achei muito bacana, porque o Raul pichava o Caetano. Mas ele entendia que essa postura do Raul era rock'n'roll, de questionar, fustigando. Logo que casamos, Raul estava mal em termos de gravadora (foi pouco antes da volta ao sucesso, em 1981, com o Rock das Aranhas). Caetano foi nos visitar em Copacabana, para saber da carreira dele", revela. Já sobre a vontade de ser americano do falecido marido... "É verdade", confirma ela. "Raul sempre dizia que tinha nascido no país errado. Além do mais, ele foi casado com duas americanas!"
Kika não se lembra de nenhuma relação próxima entre Raul e Tom Zé - mas riu bastante com a letra de A Chegada de Raul Seixas e Lampião no FMI, que ainda tem o trecho "Mano Brown [rapper dos Racionais MCs - curiosamente, os rappers também são citados na música de Caetano no trecho "E hoje olha os mano"] disse a Raul/ O dinheiro a gente investe/ No Banco Carandiru/ Xingu, favela e Nordeste". "Que maravilha!", exulta Kika. "Fico tão feliz!" A alegria não é para menos: além de tudo, Zé Ramalho está preparando para o começo do ano que vem um disco só com músicas de Raul, Zé Ramalho Canta Raul Seixas - A Hora do Trem Passar. Para esse disco, Zé inclusive musicou uma letra inédita do baiano cedida por Kika, Equilíbrio ("Você tá pensando que tudo na vida são flores/ Ah, se tudo fossem flores no nosso caminho! / Você tá pensando nos prazeres da carne/ Ah, se a felicidade estivesse só na carne!").
Depois que o disco de Zé for lançado, Kika pretende partir para outros projetos em prol da memória do falecido marido. Entre eles, a remasterização dos seus discos lançados pela PolyGram ("Pretendo também dar uma melhorada nas capas, acrescentar as fichas técnicas", diz) e o lançamento de um disco ao vivo inédito, gravado em Brasília em 1972, talvez por um selo próprio.