Rebeca Matta oferece alternativa à axé music

Cantora e compositora baiana lança segundo CD solo, o eletrônico Garotas Boas Vão Pro Céu, Garotas Más Vão Pra Qualquer Lugar, e diz que movimento musical de Salvador está esgotado

Tom Cardoso
07/12/2000
No carnaval baiano deste ano, Daniela Mercury subiu no trio elétrico anunciando uma (para ela) novidade: iria misturar música eletrônica com samba reggae. A rainha do axé music tinha a pretensão de ser também ser a rainha da ousadia, título que ficaria bem melhor em outra artista baiana, Rebeca Matta, que lança esta semana o seu segundo disco, Garotas Boas Vão Pro Céu, Garotas Más Vão Pra Qualquer Lugar (Lua Discos) (leia a crítica), produzido por andré t.

Com um trabalho já conhecido no circuito alternativo de Salvador, Rio e São Paulo, a compositora tem ganho elogios da crítica especializada desde o álbum de estréia, Tantas Coisas (1998), notabilizado pela riqueza de arranjos e pela sonoridade arrojada. Apesar de abusar dos elementos eletrônicos e das experimentações, características raras de se ver nos artistas iniciantes baianos, Rebeca não se sente uma estrangeira na Bahia.

"Continuo morando em Salvador e acho que a cena musical local está se modificando aos poucos. Como qualquer produto, a axé music tem seu começo, meio e fim, e agora chegou ao fim", afirma a compositora, que não quer ser rotulada como a inimiga número um da música baiana. "As pessoas confundem um pouco. Tenho forte influência da música feita na minha terra, só não aceito o fato de a indústria tomar conta de um movimento artístico."

Segundo Rebeca, foi Zélia Duncan que definiu bem o seu trabalho: "a minha atmosfera é eletrônica, porém sem vontade de ser estrangeira". Sem o deslumbramento que cerca alguns artistas nacionais, a baiana sabe trabalhar bem os recursos eletrônicos, que se mostram suaves e fortes ao mesmo tempo, como na ótima regravações de Xique Xique (Parabelo), de Tom Zé e José Miguel Wisnik, de A Cidade, de Chico Science, e da versão para A Mentira, de Manu Chao.

Além do tino musical, Rebeca tem se revelado uma boa letrista, assinando metade do repertório do CD. "Para mim a letra é a parte mais importante do meu trabalho. Só consigo cantar aquilo que eu penso e em que acredito", diz ela, que confessa ter sido influenciada pela forma de compor de Tom Zé. "Ele tem mais de 60 anos e sempre foi fiel ao seu repertório. Morreu alguma vezes, como ele mesmo diz, por causa disso, mas agora está firme e forte."

Grande parte das letras, Garotas Boas Vão Pro Céu, Garotas Más Vão Pra Qualquer Lugar, É Que A Vida É, O Olho Nu, Um Beijo no Escuro, é escrita em primeira pessoa e centrada no universo feminino, o que às vezes preocupa um pouco a compositora. "Não gosto de rótulos. E odiaria se me chamassem de feminista, não tem coisa mais machista do que isso", diz Rebeca.

A cantora se apresenta sexta e sábado em São Paulo, no Teatro do Sesc Pompéia, mostrando o repertório do novo disco, com algumas canções do CD de estréia. A banda, que é a mesma que a acompanha no álbum, é de primeira, com destaque para o guitarrista Pêu Souza, enteado de Galvão, dos Novos Baianos, e que já tem se destacado nas casas noturnas de Salvador com sua banda, Diga Aí Chefe. O convidado do show, e que também participou do CD, é o produtor de música eletrônica Loop B, velho conhecido do circuito techno paulistano.