Rec Beat e Abril Pro Rock: a música pernambucana entra em cena

Os dois principais festivais de Recife anunciam suas programações. Briga entre organizadores dos dois eventos está longe de acabar

Tom Cardoso
20/02/2001
Os organizadores dos dois principais festivais de música de Recife divulgaram recentemente as suas grades de programação para as edições de 2001. O Rec Beat, que ocorre durante o carnaval, dos dias 23 a 27 de fevereiro, tem como grande trunfo a variedade de ritmos e os shows gratuitos, ao ar livre, realizados na charmosa Rua da Moeda. Já o Abril Pro Rock (realizado dos dias 20 a 22 de abril, no Centro de Convenções de Pernambuco) chega a sua nona edição querendo abrir suas fronteiras: o festival desembarca dia 27 de abril em São Paulo, para três dias de shows no não menos charmoso Sesc Pompéia.

Levar o Abril Pro Rock para os palcos paulistanos era um antigo sonho de seu organizador, o empresário Paulo André. "A imprensa de São Paulo e o público sempre demonstraram um interesse muito grande pelo APR. Escolhi o Sesc Pompéia porque sei que lá a música alternativa sempre encontrou espaço". Dos dias 27 a 29, passarão pelo teatro e choperia do Sesc bandas como Ratos de Porão, Replicantes, Mundo Livre S/A e as revelações Sonic Junior e Mopho, ambas de Alagoas. "O Mopho é a melhor coisa que eu ouvi pós Chico Science e Planet Hemp", elogia Paulo André.

Na edição principal, no Recife, além da tradição de revelar novos grupos (este ano há nomes desconhecidos do grande público como Pinto e Rouxinol, Sa Grama e D-Urb), a programação terá bandas do primeiro time do rock nacional (Raimundos e O Rappa) e veteranos, como Lobão, que terá como convidado o ex-Mutante Arnaldo Baptista. "Há um bom tempo que eu sigo a mesma fórmula na hora de fechar a programação: preciso de nomes de peso nacional para atrair o público. Se dependesse da divulgação das rádios locais, que ignoram totalmente tudo que não seja pagode, sertanejo e axé music, o festival estaria perdido", confessa.

Segundo Paulo André, muito mais difícil do que conseguir patrocínio para o festival, fechar com as bandas e batalhar a divulgação, é ouvir as centenas de fitas demo que chegam a suas mãos. "As pessoas não imaginam o que tem de banda imitando a Nação Zumbi. Outro dia recebi um grupo chamado Yndex, de Altamira, no Pará. Eles me mandaram uma fita com o nome de Manguezal. Na capa, que vinha com vários caranguejos desenhados, o grupo aparecia todo com chapéu de palha na cabeça", conta o empresário, que ri ao lembrar que chegou a receber um CD de um conjunto do litoral norte de São Paulo, que se intitulava como "a única banda de raiz do mangue de São Paulo". "A capa trazia uma foto do grupo em frente ao túmulo do Chico Science".

Um dos grandes trunfos da edição deste ano do APR é a presença do grupo Mundo Livre S/A, que há muitos anos não era convidado para o festival por causa de uma briga de Paulo André com Antonio Gutierrez, o Guty, ex-empresário do Mundo Livre e organizador do Rec Beat. Os dois se desentenderam em1996 e desde então a banda liderada por Fred Zero Quatro sempre ficou de fora da programação do APR. Como Guty deixou recentemente de empresariá-los, o grupo pernambucano pôde voltar ao festival que o revelou em 1993.

Briga política
"Não entendo até hoje como um grupo como o Mundo Livre ainda não estourou para valer aqui e no exterior. Acho que o Guty não conseguiu acompanhar os passos da banda", afirma Paulo André, mostrando que a briga entre os dois empresários está longe de acabar.

"Acho que o Rec Beat podia ser apresentado em qualquer época do ano, menos durante o carnaval, que tem de ser reservado apenas ao maracatu, ao frevo e aos blocos folclóricos", critica.

Guty, que este ano vai levar ao Rec Beat nomes como Zeca Baleiro, DJ Dolores, e Funk Como Le Gusta, diz que a postura de Paulo André é conservadora e infantil. "O Rec Beat sempre apostou na pluralidade musical, que, aliás, é uma característica do carnaval pernambucano", afirma. A briga que começou nos bastidores, acabou virando uma disputa política - o Rec Beat é apoiado pelo prefeito João Paulo, do PT, e o Abril Pro Rock pelo governador do estado, Jarbas Vasconcelos, do PMDB.

Enquanto dos dois principais agitadores culturais da cidade trocam farpas, empresários de Salvador se agitam para levar à capital pernambucana em 2002 uma edição do Festival de Verão, que em janeiro reuniu em Salvador grandes bandas de rock e da axé music.