Regata, a casa do balanço
Gravadora investe na black music made in Brazil, com Paula Lima, Seu Jorge e Banda Black Rio
Marco Antonio Barbosa
22/06/2001
Pequenos selos independentes, tentando se firmar no mercado, existem muitos por aí. Gravadoras pequenas que buscam parcerias de distribuição com alguma major, também. Qual seria, então, a vantagem que a gravadora paulista Regata teria sobre os tantos outros selos indies que disputam a atenção do mercado fonográfico? Para simplficar a coisa em uma expressão só: a Regata tem uma "cara" que as outras não tem. E a cara do selo é, intencionalmente, a novíssima safra da black music nacional - e também o som negro brasileiro de hoje e sempre. Basta dar uma espiada no cast do selo para matar a charada: atualmente, abrigam-se na Regata os grupos Classe, Clube do Balanço e a sacrossanta Banda Black Rio; a cantora-sensação Paula Lima e o ex-Farofa Carioca Seu Jorge. Ou seja, do soul com sotaque brazuca ao mais deslavado samba rock, corre sangue negro nas veias da gravadora. E junto com a turma dos Artistas Reunidos (que lançam seus álbuns via Trama), os artistas da Regata aos poucos vão dando novas feições ao pop brasileiro safra 2001, fundamentadas no inescapável (e inesgotável) suíngue brasileiro.
O "culpado" por isso é Bernardo Vilhena, capo do selo e com um longo retrospecto pessoal na MPB como compositor e produtor. "Trabalhamos num segmento muito definido, que é esse da música negra feita no Brasil. E, dentro desse segmento, queremos crescer o máximo que pudermos. Gosto de dizer que, aqui no selo, não vemos a Regata como um trabalho - e sim como uma missão", afirma Bernardo. Questionado sobre o fato da Regata ter vestido a camisa da "casa oficial da black music brasileira, ele brinca: "Ah, essa casa teria que ser muito maior, para abrigar todo mundo que merece...", e emenda, sério: "Há muitos talentos a serem contratados e outros a serem resgatados. É uma musicalidade sem fim. Ainda há muito a ser conquistado, estamos cheios de planos. Mas já me sinto honrado com o reconhecimento."
O selo saiu do papel em dezembro do ano passado, com o lançamento do primeiro álbum do quarteto vocal Classe - definido por Bernardo como "uma mistura dos ingredientes da nova música brasileira: o samba, a MPB, o tal de roquenrol, a black music e o pop". Basicamente, uma proposta de intenções sobre a nascente gravadora. "O grupo surgiu antes da idéia da gravadora. Eu fui convidado para dirigir o Classe, montar a banda, cuidar da infraestrutura para elas, sem perspectivas maiores. Mas aí surgiu a chance de um contrato de distribuição com a Sony e resolvemos levar a coisa adiante", conta Vilhena.
"Montar" projetos como o Classe não era coisa nova para Bernardo, que em parcerias com Lobão e Ritchie produziu, nos anos 80, os respectivos álbuns-solo de estréia dos cantores - de forma independente. "Agora, com todas as facilidades tecnológicas que existem, ainda é muito difícil lançar um álbum independente. Nos anos 80, era simplesmente impossível", lembra Vilhena.
A preferência por artistas de sonoridade black foi, segundo o diretor da Regata, algo natural. Já em janeiro deste ano, logo após ter lançado o disco do Classe, Vilhena já anunciava as contratações de Paula Lima, Seu Jorge e Banda Black Rio. "Todos os contratados já tinham algum envolvimento comigo, porque eu sempre fui ligado a esse universo. A Paula eu convidei, já conhecia o trabalho dela há muito tempo. O Seu Jorge foi a mesma coisa. E com a Black Rio eu tenho uma relação de anos, trabalhei com eles nos anos 70, sempre fui superamigo. E eu sempre gostei de trabalhar assim, com pessoas próximas a mim."
O disco do Classe não chegou a quebrar o gelo do mercado. Mas o álbum de estréia de Paula Lima, É Isso Aí , foi aclamado pela crítica e circulou bem entre os "formadores de opinião" - o álbum é um verdadeiro quem-é-quem da música negra brasileira, reunindo de Ed Motta a Gerson King Combo. "O Classe realmente ainda não aconteceu, mas estamos trabalhando para isso", fala Vilhena. "Mas a Paula começou superbem. Tem a eterna questão do mercado em crise, também: gravadoras, TV, rádios, a grande mídia em geral. Nossos produtos estão prontos para a aceitação do mercado. É tudo pop, nada elitizado. E de qualidade." O acordo com a Sony acabou não indo adiante, mas o Regata já conta com uma nova parceria, agora com a Universal.
Vilhena elogia seu cast: "São artistas cultos e corajosos. Principalmente porque eles não ficam só na superfície. Eles não têm medo de raspar o fundo do tacho, pesquisar, recuperar valores e sons que foram jogados fora pelo mercado", diz Bernardo, referindo-se ao eterno escanteio a que a música negra nacional é relegada. Bebeto, Wilson Simonal e o "maldito" Luiz Melodia que o digam.
O entusiasmo do diretor da Regata com o grupo Clube do Balanço, capitaneado pelo guitarrista e vocalista Marco Mattoli (ex-Mattoli & Os Guanabaras), é total. "Eles se encaixam totalmente nessa estética 'raspa do tacho', pois transformaram um gênero relegado ao ostracismo - o samba-rock - na nova onda de São Paulo", fala Vilhena. "O samba-rock é uma legítima invenção brasileira. O povão adora, mas a mídia e as gravadoras não dão valor. Aí os gringos ouvem e ficam loucos, se apropriam direto da sonoridade. Se houvesse um esquema decente de divulgação e lançamentos, o samba-rock poderia ser o grande estouro da música brasileira no mundo todo", considera o produtor.
Vilhena pretende lançar nos próximos dois meses os álbuns de Seu Jorge, do Clube do Balanço (este com participação de Erasmo Carlos) e o retorno da Banda Black Rio, depois de 21 anos sem gravar. E também anuncia, de leve, "uma novidade da qual não posso falar nada ainda", para setembro. Mais um morador para a "casa do balanço".
O "culpado" por isso é Bernardo Vilhena, capo do selo e com um longo retrospecto pessoal na MPB como compositor e produtor. "Trabalhamos num segmento muito definido, que é esse da música negra feita no Brasil. E, dentro desse segmento, queremos crescer o máximo que pudermos. Gosto de dizer que, aqui no selo, não vemos a Regata como um trabalho - e sim como uma missão", afirma Bernardo. Questionado sobre o fato da Regata ter vestido a camisa da "casa oficial da black music brasileira, ele brinca: "Ah, essa casa teria que ser muito maior, para abrigar todo mundo que merece...", e emenda, sério: "Há muitos talentos a serem contratados e outros a serem resgatados. É uma musicalidade sem fim. Ainda há muito a ser conquistado, estamos cheios de planos. Mas já me sinto honrado com o reconhecimento."
O selo saiu do papel em dezembro do ano passado, com o lançamento do primeiro álbum do quarteto vocal Classe - definido por Bernardo como "uma mistura dos ingredientes da nova música brasileira: o samba, a MPB, o tal de roquenrol, a black music e o pop". Basicamente, uma proposta de intenções sobre a nascente gravadora. "O grupo surgiu antes da idéia da gravadora. Eu fui convidado para dirigir o Classe, montar a banda, cuidar da infraestrutura para elas, sem perspectivas maiores. Mas aí surgiu a chance de um contrato de distribuição com a Sony e resolvemos levar a coisa adiante", conta Vilhena.
"Montar" projetos como o Classe não era coisa nova para Bernardo, que em parcerias com Lobão e Ritchie produziu, nos anos 80, os respectivos álbuns-solo de estréia dos cantores - de forma independente. "Agora, com todas as facilidades tecnológicas que existem, ainda é muito difícil lançar um álbum independente. Nos anos 80, era simplesmente impossível", lembra Vilhena.
A preferência por artistas de sonoridade black foi, segundo o diretor da Regata, algo natural. Já em janeiro deste ano, logo após ter lançado o disco do Classe, Vilhena já anunciava as contratações de Paula Lima, Seu Jorge e Banda Black Rio. "Todos os contratados já tinham algum envolvimento comigo, porque eu sempre fui ligado a esse universo. A Paula eu convidei, já conhecia o trabalho dela há muito tempo. O Seu Jorge foi a mesma coisa. E com a Black Rio eu tenho uma relação de anos, trabalhei com eles nos anos 70, sempre fui superamigo. E eu sempre gostei de trabalhar assim, com pessoas próximas a mim."
O disco do Classe não chegou a quebrar o gelo do mercado. Mas o álbum de estréia de Paula Lima, É Isso Aí , foi aclamado pela crítica e circulou bem entre os "formadores de opinião" - o álbum é um verdadeiro quem-é-quem da música negra brasileira, reunindo de Ed Motta a Gerson King Combo. "O Classe realmente ainda não aconteceu, mas estamos trabalhando para isso", fala Vilhena. "Mas a Paula começou superbem. Tem a eterna questão do mercado em crise, também: gravadoras, TV, rádios, a grande mídia em geral. Nossos produtos estão prontos para a aceitação do mercado. É tudo pop, nada elitizado. E de qualidade." O acordo com a Sony acabou não indo adiante, mas o Regata já conta com uma nova parceria, agora com a Universal.
Vilhena elogia seu cast: "São artistas cultos e corajosos. Principalmente porque eles não ficam só na superfície. Eles não têm medo de raspar o fundo do tacho, pesquisar, recuperar valores e sons que foram jogados fora pelo mercado", diz Bernardo, referindo-se ao eterno escanteio a que a música negra nacional é relegada. Bebeto, Wilson Simonal e o "maldito" Luiz Melodia que o digam.
O entusiasmo do diretor da Regata com o grupo Clube do Balanço, capitaneado pelo guitarrista e vocalista Marco Mattoli (ex-Mattoli & Os Guanabaras), é total. "Eles se encaixam totalmente nessa estética 'raspa do tacho', pois transformaram um gênero relegado ao ostracismo - o samba-rock - na nova onda de São Paulo", fala Vilhena. "O samba-rock é uma legítima invenção brasileira. O povão adora, mas a mídia e as gravadoras não dão valor. Aí os gringos ouvem e ficam loucos, se apropriam direto da sonoridade. Se houvesse um esquema decente de divulgação e lançamentos, o samba-rock poderia ser o grande estouro da música brasileira no mundo todo", considera o produtor.
Vilhena pretende lançar nos próximos dois meses os álbuns de Seu Jorge, do Clube do Balanço (este com participação de Erasmo Carlos) e o retorno da Banda Black Rio, depois de 21 anos sem gravar. E também anuncia, de leve, "uma novidade da qual não posso falar nada ainda", para setembro. Mais um morador para a "casa do balanço".