Rio se torna a capital do violão

Entre 8 e 10 de dezembro, panorama internacional do instrumento traz à cidade estrelas nacionais e internacionais para shows e master classes

Nana Vaz de Castro
18/10/2000
Se na segunda metade do século XIX os cronistas da época definiam o Rio de Janeiro como a "cidade dos pianos" – graças à febre de importações do instrumento, então considerado chique –, o século XX, principalmente em sua segunda metade, fez do Rio a cidade dos violões.

Bem mais portátil que o piano, o violão encontrou no Brasil terreno fértil para se desenvolver, tanto em sua vertente erudita (Turíbio Santos, Carlos Barbosa-Lima, Duo Abreu, Duo Assad, Fábio Zanon) quanto popular (João Pernambuco, Sátiro Bilhar, Laurindo de Almeida, Dilermando Reis, Baden Powell, Raphael Rabello, Sebastião Tapajós). De instrumento perseguido pela polícia – na época dos primeiros sambistas –, o violão acabou alçado ao estrelato em sua forma mais simples (o singelo "banquinho-e-violão") a partir dos anos 60.

Nos dias 8, 9 e 10 de dezembro o Rio coloca mais uma vez o violão em evidência com o Panorama Internacional do Violão, que tem por objetivo oferecer uma visão global do violão brasileiro, levando em conta suas múltiplas referências e influências. O evento acontece na Sala Cecília Meireles, com recitais e master classes.

Paulo Bellinati, Cristina Azuma, Gabriel Improta e a Camerata de Violões do Conservatório Brasileiro de Música são os representantes nacionais. Improta, 25 anos, é o mais jovem dos participantes, e deve apresentar em seu show um repertório repleto de composições próprias. "Será voltado para a música brasileira, é claro, mas com alguma conotação jazzística", diz o violonista, que será acompanhado por Nei Conceição (baixo) e Vítor Bertrami (bateria). Improta, entretanto, foge ao rótulo de "músico de jazz": "Esses rótulos são muito ruins, muito redutores, acho que o natural é isso acabar, e o violão é um instrumento representativo dessa tendência, pois são muitos os violonistas que ficam no limite entre o erudito e o popular".

Que o diga Paulo Bellinati, que, se por um lado já deu aula em um conservatório da Suíça e teve até uma composição gravada por John Williams – uma das lendas vivas do violão erudito –, por outro realizou extensas pesquisas sobre o compositor Garoto e gravou um disco com os afro-sambas de Baden Powell e Vinicius de Moraes ao lado da cantora Mônica Salmaso. "O violão está presente em gêneros musicais do país inteiro. Temos vários tipos de estilos de violão e essa riqueza é o nosso diferencial", afirma Bellinati, citando Gilberto Gil, Djavan, João Bosco, João Gilberto, Vicente Barreto e Guinga como exemplos de músicos brasileiros que desenvolveram estilos particulares de tocar violão.

Já a violonista, compositora e musicóloga Cristina Azuma, radicada na França há dez anos, desenvolve um trabalho autoral e de valorização de novos autores desde o início de sua carreira, e apresenta no Rio um repertório eclético, que vai do húngaro Béla Bartók ao mineiro Toninho Horta. A Camerata de Violões privilegia compositores brasileiros em seu programa, que inclui, entre outros, Cláudio Santoro, Radamés Gnatalli e uma composição de Hermeto Pascoal feita especialmente para o grupo.

Os convidados internacionais foram escolhidos como representantes das principais tendências que formaram a tradição violonística brasileira. De Portugal, Ricardo Rocha faz um recital de guitarra portuguesa, instrumento raro atualmente mesmo em seu país de origem. O flamenco espanhol chega pelas mãos de Tomatito e seu Quinteto, seguindo a linha do lendário Camarón dela Isla, com quem Tomatito conviveu por mais de 15 anos.

O uruguaio Eduardo Fernandéz reforça a técnica erudita, dedicando o programa inteiramente a obras de J.S. Bach. Já o premiado violonista francês Roland Dyens alia o dedilhado clássico ao não-rigor do jazz, incorporando o lado da improvisação. Assim, seus recitais nunca têm programas pré-definidos.

Fernandéz, Dyens, Bellinati e Azuma ministram os master classes de 4 a 7 de dezembro. A organização do Panorama está com um convênio especial de passagens e estadia para os interessados em participar que morem fora do Rio de Janeiro. Maiores informações podem ser obtidas no site oficial do evento: www.panoramadoviolao.com.br.