Rita Lee no PercPan: Beatles e batuque

Cantora se apresentou ontem (dia 23) no festival de percussão no Recife, rearranjando as músicas do álbum Aqui, Ali, em Qualquer Lugar

José Teles (Recife)
24/11/2001
Os Beatles, quem diria, acabaram num festival de percussão. Rita Lee abriu sua esperada participação no PercPan, ontem (dia 23) no Recife, com I Want to Hold Your Hand, gravada no seu mais novo CD (Aqui, Ali, em Qualquer Lugar ouvir 30s). Gilberto Gil, o mestre de cerimônia do evento, antecedeu a entrada da cantora e sua Talebanda com Rita Lee, do álbum Os Doces Bárbaros. E a titia do rock brasileiro não surpreendeu nem decepcionou. Mostrou o que sabe fazer: música pop.

Quem não chegou a decepcionar, embora tenha ficado aquém do que se esperava dele, foi o virtuoso instrumentista senegalês Soriba Kouyaté. Sozinho empunhando o kora (instrumento de 21 cordas montadas sobre uma cabaça, de som semelhante à harpa), Kouyaté levou a sério demais o rótulo world music, indo ao extremo de tocar um Jingle Bell em pleno novembro. Felizmente o vigilante Gilberto Gil entrou no palco e, diplomaticamente, redirecionou o africano para a música mandigo. Herdeiro da tradição dos griots (contadores de histórias), Soriba Kouyaté mescla as raízes com o pop ocidental, tocando de Autumn Leaves (J.Mercer) a Another Day in Paradise (Phil Collins).

A noite de ontem foi iniciada com o cavalo marinho do Mestre Salustiano da Rabeca. Mestre Salu além desse folguedo (a versão pernambucana do bumba meu boi), ele levou ao palco uma pequena mostra do maracatu rural Piaba Dourada, do qual também é mestre, e mandou ver frevo na sua azeitada rabeca. Sua apresentação foi abrilhantada pelo maracatu rural (de baque solto) Cambinda Dourada, de Nazaré da Mata (cidade próxima ao Recife) , que desfilou com sua rainha, caboclos de lança e músicos pelo meio da platéia (calculada, grosso modo, em vinte mil pessoas), que lotou a praça do Marco Zero, e estendeu-se pelas ruas do bairro do Recife Antigo.

Gilberto Gil, acompanhado por Marcos Suzano, dessa vez mais solto, voltou a repassar pérolas do lado B de sua vasta obra, com um bis para Frevo Rasgado. As graciosas sete moças do Tambora Mutanta mostraram o que é que as portenhas têm. Têm batuque caribenho têm. Tem folclore mineiro, têm ("Quem me ensinou a nadar/Foi, foi marinheiro, foi o peixinho do mar"). Têm milonga também. Comunicativas, elas mexeram com a platéia ao terminarem o show com uma batucada brasileira, uma batucada de charanga.

A noitada terminou madrugada adentro com Rita Lee desfiando seus hits, na base do "Esse tocou no rádio". A edição pernambucana do PercPan termina hoje (dia 24) com o multinstrumentista Antúlio Madureira, Raízes Percussivas (grupo de percussão da periferia do Grande Recife), Marcos Suzano e banda, o francês Titi Robin, e entra em ritmo de rave com os paulistanos do XRS Project, sem horário previsto para acabar.