Rita Lee para lá de 3001

Cantora viaja pelas galáxias e milênios - e aumenta o volume das guitarras - em seu mais novo disco

Silvio Essinger
13/07/2000
Em 1969, Rita Lee já estava à frente do seu tempo, gravando com os Mutantes a música 2001, parceria com o baiano tropicalista Tom Zé. Agora, às portas do esperado ano, ela foi para mais longe ainda, lá em 3001 – título do seu mais novo disco, que desponta como uma volta da cantora à boa forma artística (leia a crítica e ouça trechos). Eletrônica e psicodélica, a faixa que batiza o lançamento marca a retomada da parceria com Tom Zé – a idéia de 3001 foi sugerida por Rita no encontro que os dois tiveram ano passado num show da MTV que reuniu no palco alguns dos tropicalistas. Ela pediu a Tom para escrever uma letra que fosse a continuação daquela de 2001 – música que, por sinal, também está no novo disco, regravada.

"Foi preciso ter existido o astronauta libertado do 2001 mostrando o caminho das estrelas para que a raça humana pudesse vislumbrar sua quase impossível sobrevivência no universo do quarto milênio", divaga a cantora. "Também foi preciso que em 3001 algum controle do tempo revertesse o calendário e mergulhasse mil anos atrás para saber como foi que o astronauta libertado desencadeou o sonho que não acabou." Rita admite que o futuro – ou seja, hoje em dia – não é bem como ela vislumbrava na época em que o clássico tropicalista foi composto. "Imaginava que em 2001 já estaria passando minhas férias em Vênus usando a tecnologia da era Jetsons... Viajei legal na maionese pois eis-me aqui ainda às voltas com Malufs e Pittas... Mas meu astronauta libertado há viver ad infinitum."

Apesar dos temas intergaláticos e esotéricos da faixa-título, 3001 é um disco repleto de músicas falando sobre os mais prosaicos personagens femininos: a apaixonada de Você Vem, as mulheres cruéis de Erva Venenosa e Cobra, a encapetada de Rebeldade, a pensante-indignada de Pagu (parceria com Zélia Duncan) e a desesperada de Entre Sem Bater. Seriam elas na verdade faces da mesma Rita Lee? "São as mil faces de Eva de todas as mulheres do mundo", diz.

Sonho é virar nome de rua
Em tempos mais propícios para a personagem da "atriz-modelo-manequim" (citada em Pagu) que para a Miss Brasil 2000, Rita se esmera para lembrar de algum exemplo de brasileira dos dias de hoje que valha a pena ser alçado à posteridade. "Espero que seja eu, hehehe... Puxa vida, será que não vou merecer pelo menos o nome de alguma rua sem saída? Eu escolho Fernanda Montenegro como exemplo de mulher brasileira a ser lembrado para sempre!"

Depois de reler seus sucessos num disco acústico, Rita Lee põe lá em cima o volume das guitarras (do marido Roberto de Carvalho e do filho Beto Lee) em 3001 – o ouvinte pode conferir a potência em rocks ferozes como Você Vem e Rebeldade. "Nada melhor do que a gente fazer o que mais sabe. Eu sei fazer roquenrou brasilês muito bem, modéstia a parte", gaba-se. Tão roqueiro quanto alto astral, o novo disco – reconhece Rita – é fruto de um momento de grande entusiasmo em sua vida: "Ele está paz e amor pra nenhuma hippie como eu botar defeito!"

Além de Beto, outro filho participa de 3001: João, que havia remixado faixas da mãe para o CD Rita Releeda (lançado há poucos meses) e aqui responde pela programação eletrônica da faixa-título. Só falta agora o mais novo, Antônio, ser incorporado à banda, não é? "Ainda não chegamos a ser uma Família Lima, mas a idéia até que é boa, hehehe... Nossa Família Leema parece que tem um belo futuro pela frente, pois Antonio já está arrasando nas guitarras também... Oba! três guitarras, um ótimo programador e um rostinho bonito como o meu só pode desembocar na praça da Apoteose, né mesmo?", diverte-se.

Os shows de 3001, promete Rita, serão cheios de novidades. "Repertório alternativo não vai faltar", diz. "Há músicas que quase nunca foram tocadas ao vivo, algumas pérolas tipo Lado B de todos os discos que gravei ao longo desses 33 anos de estrada e que foram muitas vezes ofuscadas pelas músicas que mais fizeram sucesso, como O Futuro me Absolve, da era Tutti Frutti – uma música bacanuda com uma letra atualíssima que nunca cantei ao vivo." Os velhos sucessos não ficarão de fora, porém: "Entendo que o público também gosta de ouvir os hits e faremos alguns deles com arranjos mais oxigenados. Estamos com novos músicos na banda e com uma formação instrumental mais pesada. É pauleira na estrada pra valer!"