Rock e vaias na final do Festival

Tudo Bem Meu Bem, de Ricardo Soares; Morte no Escadão, de José Guerreiro, e a sertaneja Tempo das Águas, de Bilora, são as três vencedoras, em noite que terminou com protestos do público

Tom Cardoso
17/09/2000
Numa noite em que se destacaram o samba Eu Só Quero Beber Água, de Moacyr Luz, a toada Brincos, de Amauri Falabella, e outras canções genuinamente brasileiras, quem acabou conquistando os jurados foram dois rocks básicos. Ricardo Soares, com Tudo Bem Meu Bem, e José Guerreiro, com Morte no Escadão (interpretada pela banda mineira Tianastácia), foram primeiro e segundo colocados na final do Festival da Música Brasileira, realizada sábado à noite no Credicard Hall, em São Paulo. As músicas renderam prêmios, respectivamente, de R$ 400 mil e R$ 250 mil.

O terceiro lugar ficou com Tempo das Águas, do mineiro Bilora, que levou R$ 250 mil. A veterana Ná Ozzetti, com Show, ganhou o prêmio de melhor intérprete e conquistou, além de R$ 100 mil, o direito de gravar um disco produzido pela Som Livre e o de ter a música incluída no álbum das 12 finalistas que a gravadora também vai lançar. Amauri Falabella, autor de Brincos, canção que conquistou a platéia, teve o consolo de ver sua música ser a mais votada pelos telespectadores e ganhou R$ 100 mil.

Público, jornalistas, organizadores e até o próprio autor não entenderam a decisão do júri, que resolveu dar os dois primeiros lugares às duas das canções menos criativas e empolgantes da noite. Além da estrondosa vaia, Ricardo Soares teve de ouvir o protesto da platéia no saguão de entrada do Credicard Hall, que, aos gritos de “Tudo ruim, meu bem!”, mostrava não ter se conformado com o resultado.

“Eu sei que tenho que melhorar minha interpretação no palco e evoluir como artista. Vou ganhar o crédito desse público no futuro, tenho certeza”, prometia o gaúcho Ricardo, incrédulo e ao mesmo tempo feliz com a escolha dos jurados. “Outras canções mereciam. A Ná Ozzetti é uma deusa, Brincos era uma canção fantástica, mas a minha também deve ter qualidades, pois um júri de especialistas gostou dela.”

Desolado num canto do saguão, Lula Barboza, intérprete de Brincos, recebia o consolo do público: “Cara, você foi o melhor”, “Parabéns, não fica triste não, a voz do povo é a voz de Deus...”. O cantor também não escondeu sua frustração pela eliminação da música. “Estou perplexo. Várias músicas, além de Brincos, mereciam ganhar, mas essa....”.

Presidente da gravadora Som Livre e um dos 11 jurados, João Araújo foi um dos poucos a defender abertamente (os outros jurados sumiram da casa de shows) a canção vencedora. “Não acho que Brincos merecia ganhar. Me lembra aquelas canções que eu ouvia em bailes na adolescência, não é tão inovadora. Já Tudo Bem Meu Bem é uma música interessante. ‘Você tem tudo para ser meu problema’ (um dos trechos da canção) para mim é um grande achado”, elogiou Araújo.

Organizador do festival, Solano Ribeiro parecia se divertir com toda a polêmica envolvendo a decisão do júri. Sentia-se como estivesse num Festival da Record nos anos 60. “Festival é isso aí. Acho que o saldo foi muito positivo para quem começou do zero”, afirmou Solano, que deixou escapar, depois da insistência dos jornalistas, que Tudo Bem Meu Bem não era a sua favorita. “É um rock pobre. Mas é preciso respeitar a decisão dos jurados. Fiquei feliz com o terceiro lugar de Tempo das Águas”, amenizou o consultor geral do evento, que promete um novo festival para o ano que vem. Só não se sabe se com os mesmos jurados.