Rock In Rio III: muita pompa e nenhuma novidade

O organizador Roberto Medina discursa para convidados VIPs mas não anuncia atrações. Artistas dizem só terem recebido convites verbais

Tom Cardoso
20/06/2000
Para assistir ao anúncio oficial da terceira edição do Rock In Rio (que será realizada de 12 a 14 e de 18 a 21 de janeiro de 2001), mais de uma centena de convidados – entre músicos, empresários, políticos e jornalistas – se acotovelaram hoje de manhã numa tenda montada no mesmo terreno em Jacarépaguá onde foi realizada, em 1985, a primeira edição do festival. O mais empolgado com a festa era o próprio anfitrião, o empresário e idealizador do Rock In Rio, Roberto Medina, que fez um emocionado discurso depois que uma orquestra convidada tocou Imagine, de John Lennon, e o tema de abertura do festival.

"O Rock in Rio não é um grande negócio e sim um exercício de cidadania. Só topei realizar essa terceira edição por causa da preocupação social do evento", afirmou Medina, anunciando que 3, 5% do lucro do festival serão destinados à educação de jovens carentes da cidade, entre 15 e 29 anos de idade.

Nenhum grupo nacional ou internacional foi confirmado oficialmente, mas todos os artistas presentes na coletiva – Moraes Moreira, Elba Ramalho, Zé Ramalho, Fernanda Abreu e integrantes das bandas Kid Abelha, Jota Quest, Ira!, Los Hermanos, O Rappa e Pato Fu – admitiram os convites verbais feitos pela organização do festival.

Palanque
O prefeito do Rio de Janeiro, Luiz Paulo Conde compareceu à coletiva acompanhado do governador Anthony Garotinho. Conde, que em 1996, recém-eleito, foi vaiado por João Gordo e demais punks na porta do Circo Voador (ato que resultou no fechamento da casa de shows pelo então governador César Maia) fez discurso ressaltando a importância da cultura para a formação dos jovens e a geração de empregos. Garotinho, por sua vez, chegou a citar um trecho do sucesso de Cazuza, Bete Balanço: "Quem tem um sonho não cansa (sic - na letra original é dança). E espero que esse festival seja o início de uma conscientização mundial pela paz, pela mudança do homem", afirmou, arrancando frenéticos aplausos de Medina.

Até o craque Ronaldinho, que estava escondido num canto da tenda, apareceu para segurar o cheque de R$ 1 milhão doado pela America OnLine – principal patrocinadora do festival – ao projeto Viva Rio, que irá beneficiar 1.500 crianças carentes.

Fim dos discursos, seguranças e garçonetes correram para pedir autógrafos a Ronaldinho e aos artistas. Elba Ramalho, que participou das duas edições do festival, em 1985 e 1991, era uma das mais entusiasmadas. "Vou dividir o show com o Zé (Ramalho). Vai ser o máximo". Moraes Moreira, que promete levar o trio elétrico para o palco, observava, deslumbrado, os mais de 250 mil metros quadrados do terreno em Jacarepaguá.

Os organizadores esperam reunir 1,5 milhão de pessoas nos sete dias de shows, que serão realizados no imenso terreno apelidado de Cidade do Rock. Ainda não se sabe o número oficial de bandas convidadas, mas 32 atrações (18 nacionais e 14 internacionais) devem desfilar no palco principal, chamado de Palco Mundo.

Seguindo uma tendências dos grandes festivais, o Rock in Rio reservará um espaço para bandas independentes (Tenda Brasil). A seleção de grupos sairá do concurso Escalada do Rock. Para se inscrever, bastar retirar a ficha de inscrição no site do Rock in Rio – www.rockinrio.americaonline.com.br – e enviar uma fita K7 ou CD com duas músicas gravadas. Completam o espaço alternativo do Rock In Rio III as Tendas Eletro (reservada à música eletrônica), Raízes (destinada a artistas de world music) e Multimídia, esta com um telão onde serão exibidos depoimentos e entrevistas de personalidades do mundo da música.

Afogando em números
Como costuma ocorrer em festivais de música pelo Brasil, os organizadores fazem questão de apresentar os grandiosos números do festival. São 900 as toneladas de equipamento de refrigeração a serem instalados e 6,5 os megawatts de energia, além de 2,5 milhões os copos de refrigerante e cerveja a serem consumidos ao longo dos sete dias. Roberto Medina e companhia também torcem que sejam devorados mais de 58 mil hambúrgueres, número alcançado na primeira edição do Rock in Rio e registrado no Guiness Book of Records.

A primeira edição do Rock in Rio contou com grandes nomes da música internacional – de Queen a Ozzy Osbourne – e revelou bandas importantes do rock brasileiro, como os Paralamas do Sucesso. O Rock in Rio II, transferido para o estádio do Maracanã, consagrou artistas, como Alceu Valença (que retornou ao palco, depois de reclamar do som, para fechar uma das noites) e foi um pesadelo para outros, como Lobão, que foi expulso do palco pelos metaleiros.