RPM remodela seu passado para 2002
Grupo liderado por Paulo Ricardo volta com formação original, grava especial grandioso para a MTV e sonha alto
Alex Menotti
30/03/2002
Se até o Kiko Zambianchi pôde, por que eles não? Após mais de uma década separada - o grupo acabou oficialmente em 1989 - a formação original do RPM (Paulo Ricardo, voz e baixo; Luiz Schiavon, teclados; Fernando Deluqui, guitarra; e P.A., bateria) se reuniu para um especial da MTV (com o título de RPM 2002). As gravações ocorreram nos dias 26 e 27 de março, terça e quarta, no Teatro Procópio Ferreira, em São Paulo. E vão render a lucrativa tríade de praxe da emissora musical programa+CD+DVD. O especial será exibido na mesma data do lançamento do CD, dia 10 de maio. Mas, ao contrário do de outros de seus pares dos anos 80 (Capital Inicial, Paralamas), o formato está bem longe do intimista acústico. Marca registrada do RPM, a grandiosidade foi a característica dessa empreitada (de uma banda que lançou seu segundo álbum num formato ao vivo ultraproduzido não se podia esperar coisa diferente).
Estava tudo lá. Guitarras estridentes, cordas, metais, participações especiais, teclados onipresentes. O RPM, que, segundo Paulo Ricardo, em entrevista coletiva na tarde de quarta-feira, "sempre teve a idéia de voltar, desde quando o grupo acabou", abusou da super-produção que lhe foi oferecida. Nem sempre com os melhores resultados. Os teclados de Schiavon não raro encobriam o auxílio luxuoso das cordas arranjadas e regidas pelo maestro inglês Graham Preskett e do naipe de metais problema que obviamente será corrigido na pós-produção. Houve momentos de pura vergonha alheia, como a participação do além de Renato Russo (via gravação em DAT) em A Cruz e a Espada, ou as inéditas Fatal e Onde Está Meu Amor, ambas resquícios do pior da fase "romântica" de Paulo Ricardo.
Por outro lado, os clássicos da banda (sim, clássicos. Quem beira os 30 anos e nunca dançou ao som de Loiras Geladas que atire o primeiro frasco de gel new wave) continuam tecnopops eficientes, ainda que mantendo sonoridades e timbres datados. "Deixaram de ser modernos para se tornarem eternos", citando a citação de Drummond feita por Paulo Ricardo na coletiva. A abertura um pout-pourri sinfônico dos hits do grupo emendado com a ainda atual Revoluções Por Minuto ("agora a China bebe Coca-Cola/aqui na esquina cheiram cola") mais Alvorada Voraz, com Paulo Ricardo trocando as falcatruas de então citadas na letra original por outras mais recentes (Sudam, malufs e lalaus) e a sempre bela Juvenília foram de arrepiar. No mais, teve a inevitável London, London, de Caetano, uma composição inédita de Herbert Vianna (Vem Pra Mim), a versão bluesy de Exagerado, do Cazuza (com participação discreta de Frejat na guitarra), e o pernambucano Otto na percussão da instrumental Naja o RPM tentando dialogar com a geração manguebeat.
No recheio, o grupo resgatou Sete Mares, do praticamente desconhecido álbum de 1989, Quatro Coiotes, mandou mais duas novíssimas, Eu Quero Mais e Rainha, tocou pérolas de seu disco de estréia (Guerra Fria e Sob A Luz Do Sol) e encerrou a noite dando o que o povo quer: Loiras Geladas, Rádio Pirata, Vida Real (no século passado o RPM clamava por revoluções por minuto, hoje faz a trilha do Big Brother Brasil; segue a vida então) e Olhar 43. Há que se julgar o grupo por querer tirar sua casquinha da "nostálgica" fase do rock nacional? Difícil. Mas a megalomania do projeto (o empresário e eminência parda Manoel Poladian espera que o CD "venda dois milhões de cópias") de certa maneira incomodou. No final do show, os versos de Cazuza ("exagerado, eu sou mesmo exagerado") ainda ecoavam pelo amplo teatro.
Estava tudo lá. Guitarras estridentes, cordas, metais, participações especiais, teclados onipresentes. O RPM, que, segundo Paulo Ricardo, em entrevista coletiva na tarde de quarta-feira, "sempre teve a idéia de voltar, desde quando o grupo acabou", abusou da super-produção que lhe foi oferecida. Nem sempre com os melhores resultados. Os teclados de Schiavon não raro encobriam o auxílio luxuoso das cordas arranjadas e regidas pelo maestro inglês Graham Preskett e do naipe de metais problema que obviamente será corrigido na pós-produção. Houve momentos de pura vergonha alheia, como a participação do além de Renato Russo (via gravação em DAT) em A Cruz e a Espada, ou as inéditas Fatal e Onde Está Meu Amor, ambas resquícios do pior da fase "romântica" de Paulo Ricardo.
Por outro lado, os clássicos da banda (sim, clássicos. Quem beira os 30 anos e nunca dançou ao som de Loiras Geladas que atire o primeiro frasco de gel new wave) continuam tecnopops eficientes, ainda que mantendo sonoridades e timbres datados. "Deixaram de ser modernos para se tornarem eternos", citando a citação de Drummond feita por Paulo Ricardo na coletiva. A abertura um pout-pourri sinfônico dos hits do grupo emendado com a ainda atual Revoluções Por Minuto ("agora a China bebe Coca-Cola/aqui na esquina cheiram cola") mais Alvorada Voraz, com Paulo Ricardo trocando as falcatruas de então citadas na letra original por outras mais recentes (Sudam, malufs e lalaus) e a sempre bela Juvenília foram de arrepiar. No mais, teve a inevitável London, London, de Caetano, uma composição inédita de Herbert Vianna (Vem Pra Mim), a versão bluesy de Exagerado, do Cazuza (com participação discreta de Frejat na guitarra), e o pernambucano Otto na percussão da instrumental Naja o RPM tentando dialogar com a geração manguebeat.
No recheio, o grupo resgatou Sete Mares, do praticamente desconhecido álbum de 1989, Quatro Coiotes, mandou mais duas novíssimas, Eu Quero Mais e Rainha, tocou pérolas de seu disco de estréia (Guerra Fria e Sob A Luz Do Sol) e encerrou a noite dando o que o povo quer: Loiras Geladas, Rádio Pirata, Vida Real (no século passado o RPM clamava por revoluções por minuto, hoje faz a trilha do Big Brother Brasil; segue a vida então) e Olhar 43. Há que se julgar o grupo por querer tirar sua casquinha da "nostálgica" fase do rock nacional? Difícil. Mas a megalomania do projeto (o empresário e eminência parda Manoel Poladian espera que o CD "venda dois milhões de cópias") de certa maneira incomodou. No final do show, os versos de Cazuza ("exagerado, eu sou mesmo exagerado") ainda ecoavam pelo amplo teatro.