Saiba como foi o primeiro fim de semana do Skol Rio

Muita chuva, shows cancelados, interdição judicial e encontros inéditos: teve de tudo um pouco no evento

Marco Antonio Barbosa e Mônica Loureiro
08/02/2004
Chuva, cancelamentos, intervenção judicial e, quando possível, boa música: esse foi o saldo do primeiro fim de semana do Skol Rio, realizado na sexta e sábado (dias 6 e 7) passados na Marina da Glória (RJ). O megaevento patrocinado pela supracitada marca de cerveja teve sua lotação esgotada na noite de sábado, com nove mil pagantes em uma área de 27 mil metros quadrados, com direito a palco principal, Tenda Skol (com shows e DJs) e uma praça de alimentação (Roda de Amigos) com shows de samba. Dois reveses se abateram sobre o evento, no entanto: na sexta, a forte chuva que caiu à noite obrigou o cancelamento dos shows do palco principal. Depois de tudo dar certo na noite de sábado, chegou a notícia de que o festival pode não ocorrer no próximo fim de semana, por conta de uma intervenção decretada pelo juiz da 1ª Vara da Infância e Juventude da cidade do Rio de Janeiro, Siro Darlan.

Na sexta-feira, estavam previstos para o Palco Skol (o principal do evento, ao ar livre) show do grupo LS Jack e uma "jam-session" inédita reunindo o grupo carioca Detonautas Roque Clube, o rapper Gabriel o Pensador e o cantor Frejat. Mas a chuva torrencial que desabou na cidade - depois de praticamente um mês inteiro de forte calor e tempo bom - botou água no chope do evento. Menos de dez minutos depois de começar o show do LS Jack, decidiu-se suspender a apresentação devido aos riscos de descargas elétricas nos equipamentos de palco. A organização do Skol Rio ainda tentou negociar a transferência do show principal para o domingo (dia 8) mas compromissos previamente agendados dos artistas impediram a manobra. Com isso, os portadores de ingresso para a sexta puderam trocar suas entradas para a noite de sábado.

As coisas correram mais amenas nos espaços fechados. O Roda de Amigos viu um bom show de Alceu Maia, que fez uma animada "jam" de chorinho, samba e quetais esquentando o público para Mart'nalia e sua banda. A filha de Martinho da Vila, a "anfitriã" oficial do espaço Roda, tocou músicas de seu disco solo, Pé do Meu Samba, repassou clássicos do samba carioca como Sonho Meu (Ivone Lara) e Todo Menino É um Rei (Roberto Ribeiro) e abriu espaço para a bateria da escola de samba Vila Isabel. Na Tenda Skol, o som pop e descontraído do saxofonista e cantor Milton Guedes teve de lutar contra a má qualidade do som e a dispersão do público, que só se animou na hora do mini-hit Sonho de uma Noite de Verão. A noitada se encerrou com a discotecagem do DJ Patife, mandando ver no drum'n'bass até a alta madrugada.

No sábado, o tempo mais firme e a afluência dos pagantes da noite anterior contribuiram para entupir a Marina da Glória. A fila de entrada estava gigantesca e muita gente ainda não tinha conseguido entrar quando a atração principal da noite - a "jam" com Marcelo D2, Pitty e Nando Reis - começou, por volta das 02h. Ana Carolina abriu o palco principal em apresentação solo, acompanhada apenas da guitarra e de um eventual pandeiro. O público recebeu muito bem os sucessos da cantora, como A Canção Tocou na Hora Errada, Quem de Nós Dois e Garganta, mas o grande momento sem dúvida foi o cover do Ultraje a Rigor, Eu Gosto É de Mulher - explicitando a ambiguidade sexual da cantora.

As atrações principais fizeram suas apresentações usuais - cada um tocou por cerca de 50 minutos - antes da tão esperada e inédita integração. Pitty, revelação do hard rock baiano, fez seu set pesadão, abrindo para a apresentação de Nando Reis (tocando um show que mais parecia um "greatest hits", incluindo vários sucessos seus com os Titãs e na voz de Cássia Eller) e, depois, o rap com samba de Marcelo D2, que também tocou músicas do Planet Hemp além de faixas de seus dois discos solo. Juntos, D2 e Pitty cantaram Teto de Vidro, do disco da baiana, e a eles Nando se juntou para uma pesada versão de Igreja, dos Titãs. Nando e Pitty fizeram dueto em Relicário, sucesso com Cássia, num momento marcante do show. Fechando a apresentação de D2, já beirando as cinco da manhã, os três astros tocaram Qualé (de D2), Mantenha o Respeito (Planet) e Bichos Escrotos (Titãs). Apesar das muitas diferenças estéticas e estilisticas entre Marcelo, Nando e Pitty, a coisa toda funcionou bastante bem.

No espaço mais intimista da Roda de Samba, Mart'nalia retornou para seu usual set de samba tradicional, com muita competência, antes de convocar o convidado Moska. Parceiro da cantora de outros carnavais, já tendo dividido o palco com ela antes, Moska dividiu os vocais com Mart'nalia em duas músicas antes de tocar seu sucesso da vez, Pensando em Você. A platéia, que incluia artistas de TV e celebridades quetais, aprovou (apesar de não diminuir o volume do falatório, prejudicando o clima do espetáculo). Claudio Zoli, que tocou na Tenda Skol, também sofreu com o burburinho e, mais uma vez, com a qualidade deficiente do som. Mas deu o recado direito, com seu soul-funk-samba malemolente. O DJ Marky assumiu as picapes e só largou no fim da madrugada.

Hoje (domingo) à tarde, chega a notícia de que a Marina da Glória foi interditada por 15 dias por ordem do juiz Siro Darlan, o que impossibilta a realização dos shows do próximo fim de semana (dias 13 e 14). O motivo da interdição foi a presença de menores de 18 anos no evento, que - por fazer propaganda de uma bebida alcoólica - não pode admitir menores de idade. "O evento não poderá acontecer. Fazer propaganda de bebida alcoólica na presença de menores é crime, assim como induzi-los a usar produtos que causem dependência", disse Darlan. Os fiscais da 1º Vara da Infância e Juventude identificaram, no sábado, 15 menores, que foram fotografados e detidos até que seus responsáveis os buscassem. A organização do Skol Rio já havia recebido uma advertência na noite de sexta a respeito do risco da interdição, e seus produtores podem ser multados. A assessoria de imprensa do evento informou que os organizadores não foram notificados sobre a decisão do juiz e não se pronunciariam. Segundo o próprio juiz Darlan, ainda cabe à produção do festival recurso judicial para reverter a interdição.