Samba, rock e bom humor na volta dos Virgulóides

De gravadora nova, trio paulistano lança As Aventuras dos Virgulóides, com produção do inglês Paul Ralphes

Tom Cardoso
18/10/2000
O bom humor dos Virgulóides está de volta. E numa boa hora. Enquanto grande parte dos grupos surgidos na periferia de São Paulo escolhe o rap e as letras engajadas como bandeira musical, o trio de Cidade Dutra cultiva uma visão menos pessimista dos velhos problemas sociais. No terceiro disco do grupo, As Aventuras dos Virgulóides (BMG), que chega às lojas esta semana, o alto astral foi mantido, reforçado pelo produção caprichada do inglês Paul Ralphes, que soube dar uma nova roupagem ao já suingado samba-rock apresentado pela banda nos discos anteriores.

"Reconheço os inúmeros problemas sociais da periferia, mas também sei que a vida por aqui é muito mais divertida do que parece", conta o vocalista Henrique Rato, com o aval de quem já aprontou boas farras pelos botecos da Zona Sul paulistana. "O Beto (DeMoreaux, baixista da banda) tinha um Chevete 76 horroroso, cor bege-ferrugem, e para a gente era o maior dos luxos, muito melhor do que andar de ônibus. Tenho certeza que nos divertimos mais do que os playboys com os seus carros importados".

O surrado Chevete acabou servindo de inspiração para a faixa de abertura do CD, Chevete Velho, uma espécie de versão alternativa da Brasília Amarela, dos Mamonas Assassinas. A música já está tocando nas rádios e pode, quem sabe, repetir o sucesso de Bagulho no Bumba, até hoje o grande hit da banda. "A gente não está preocupado com isso. Seria fácil compor uma segunda versão para Bagulho no Bumba, quem sabe uma Bagulho no Trem, mas se não fizesse sucesso seria um grande mico", diz Henrique.

Ao contrário do Planet Hemp, que deixa bem claro sua postura engajada a favor da liberalização da maconha, os Virgulóides, claro, preferem levar na brincadeira a hipocrisia da sociedade em relação à droga. Das 11 canções do disco, sete discorrem sobre o assunto – Reggae de Bamba, Maria Lôca, Mato Queimado, Loucura Boa, Noite pra Enlouqueceá, Eu Quero Minha Mãe! e Bicho de Seda. "Tá cheio de grupo falando sobre liberalização da maconha para vender disco. Desses, eu só respeito o Planet Hemp, que há muito tempo carrega essa bandeira e não tem essa visão oportunista", afirma o vocalista.

Quando a gravadora convidou o produtor Paul Ralphes (baixista da banda inglesa Bliss e que deu as caras por aqui ao produzir algumas faixas do disco Siderado, do Skank), a primeira reação do trio foi de espanto: "A gente nunca tinha ouvido falar nesse gringo, até brincamos que não iríamos trabalhar com um cara que chamava Pau do Rafael", lembra Henrique. "Mas ele acabou sendo genial. Soube dar uma cara moderna ao nosso som, sem aquelas frescuras de drum’n’bass".

Segundo o vocalista, a presença dos produtores sempre foi muito importante na carreira da banda. "Lembro-me que durante a mixagem do primeiro disco, mostramos a gravação de Bagulho no Bumba, que estava bem meia-boca, para o (Carlos Eduardo) Miranda e ele sacou na hora: ‘Olha moçada, deixa como tá, senão vai virar muito FM demais.’ E deu no que deu".

O show de estréia do disco está marcado para o dia 5 de novembro, no Sesc Itaquera, em São Paulo. O trio também confirmou participação na Tenda Brasil, um dos espaços alternativos do Rock in Rio, festival que ocorre em janeiro.