Samba carioca de raiz ganha projeto

Ciclo de shows no Sesc-RJ reúne veteranos do partido alto

Marco Antonio Barbosa
28/05/2001
O Sesc-RJ vai prestar um grande serviço à (às vezes inglória) luta pela preservação do verdadeiro samba carioca. Veteranos do partido alto, com a ajuda de alguns nomes novos na praça, vão agitar o projeto As Novas Caras do Velho Samba, que se inicia no dia 31 deste mês. Trata-se de uma série de shows, organizados pela cantora Dorina e pelo produtor Sylvio Dufrayer, dedicados apenas ao dito "samba de primeira" - e que vão ocupar o Sesc Tijuca sempre na última quinta-feira de cada mês. Um dado muito interessante é que os shows terão ingressos a preços bem populares: R$ 5. Quem abre a festa é Walter Alfaiate, que se apresenta junto a Diogo Nogueira (filho do falecido João Nogueira).

"Quem deu a idéia do projeto foi a Dorina. Queríamos um espaço para a arte que representasse a alma brasileira, e em especial o espírito carioca", conta Sylvio Dufrayer. A dupla contou com o apoio do Sesc, que foi fundamental. "Eles queriam incrementar a programação dos espaços culturais que mantêm pela cidade do Rio", explica Sylvio. Sendo assim, a opção pela tradição do samba como ponto de partida para o evento foi quase inevitável. "Este é um momento em que o samba passa por um fase muito boa com a revitalização das velhas-guardas e com o aparecimento de novos compositores e cantores que seguem essa linha de qualidade", acredita Sylvio Dufrayer.

E para representar no palco este espírito carioca, a organização do evento foi generosa. Nomes como Monarco, Jair do Cavaquinho, Tantinho, Xangô, Marcos Diniz e Ernesto Pires estão entre os convidados do projeto. "Se era para resgatar a elite, decidimos que devia ser um trabalho no capricho mesmo", afirma Sylvio. A abertura, com Walter Alfaiate e Diogo Nogueira, simboliza o espírito do projeto. "É um veterano de nome respeitadíssimo e talento incontestável, dividindo o palco com um representante da nova geração. Esse tipo de encontro é incrível, só prova que o samba sempre se renova", diz o produtor.

A dupla que inaugura o projeto na quinta pode estar separada (cronologicamente) por mais de 50 anos, mas divide o mesmo entusiasmo.Walter Alfaiate, 71 anos, está muito feliz por ter a honra de abrir o evento e por dividir o palco com Diogo Nogueira, 20. "Vai ser uma celebração do samba carioca. Com o Diogo, quero provar que não precisa ter idade para ser bamba. Esses shows vão aumentar muito o interesse do grande público sobre o samba", fala Walter. O veterano está entusiasmado também com seu novo disco, que deve começar a ser gravado em julho. "O momento está bom para o samba mesmo. Ainda mais se compararmos o tempo que levei para gravar o meu primeiro disco", afirma Walter. Ele sabe o que diz: afinal, seu CD de estréia, Olha Aí, só foi gravado em 1999 - quando o sambista já entrava em sua quinta década como compositor e cantor.

Diogo Nogueira, criado em meio à mais fina estirpe do samba carioca (cortesia do pai), agora inicia-se na carreira musical. "Fico muito feliz de estar participando do evento com o Walter Alfaiate - amigo do meu pai, e que eu conheço há muitos anos. Ele vai me passar experiência para que eu possa transmitir essa música maravilhosa para a galera da minha idade", fala Diogo.