Selos promovem enxurrada de novos talentos
Jam Music e CPC-UMES investem na nova MPB, descarregando cerca de 20 títulos no mercado
Rodrigo Faour
15/06/2000
Eles fazem a hora e não esperam acontecer. A cantora Jane Duboc e o empresário Paulo Amorim (à frente do recém-criado selo Jam Music) e os produtores Marcus Vinicius e Mônica Batello (da gravadora do Centro Popular de Cultura da União Municipal de Estudantes Secundaristas, a CPC-UMES) não têm medo de promover a boa música brasileira.
Cobrindo as mais diversas tendências – da música folclórica, samba e forró, passando pela música eletrônica – ambos os selos pretendem, assim como fizeram outrora etiquetas como Festa, Elenco, Forma e, mais recentemente, a Velas, lançar novos cantores e grupos sem recorrer a imposições de estilo, imagem ou repertório, como costumam fazer as grandes gravadoras em busca de sucessos imediatos.
"Acho que tem que sentir a verdade dos artistas. Você pode ser sambista, pop, brega, bluseiro... contanto que faça seu trabalho com verdade. Não adianta querer mentir. Na minha gravadora, não vou impor que a pessoa siga um estilo. Ela vai fazer o que quiser, vou apenas ajudá-la a chegar lá. Chega de invenção, tanto para o lado simples como para o sofisticado – porque também tem muita gente pretensiosa que não consegue fazer direito e dá as notas todas erradas", explica Jane.
Em seu primeiro time, a Jam investe em nomes como Célia & Zéluis Mazziotti (num CD tributo a Paulinho da Viola), Ângela Ro Ro (que há sete anos não grava) e em dois discos de Jane: o primeiro em duo com o violão de Sebastião Tapajós (Da Minha Terra, que anteriormente só havia saído em sua terra natal, o Pará) e o outro, um álbum solo, para o qual a cantora ainda está escolhendo de repertório.
Pop, black music e jazz
No segundo time da Jam residem grandes promessas. É o caso do filho de Jane, Jay Varquer (que estreara em disco no CD da trilha do musical Cazas de Cazuza, que o selo também lançou) com o pop Nem Tão São. Segundo a orgulhosa mãe, o som de Jay vai na onda do pop internacional porém com um pé na música mineira do pessoal do Clube da Esquina. Além de composições próprias, seu CD conta com releituras de músicas de Marina Lima, Herbert Vianna e Djavan.
A Jam também aposta na cantora e compositora maranhense Anna Torres (que lançara um disco sem muita repercussão há dois anos), em Bernardo Lobo (filho de Edu, em disco com participações do pai, de Chico Buarque e de Milton Nascimento, cheio de composições próprias em ritmos variados, como baião, valsa, xote e reggae), em Bukassa (cantor africano radicado no Brasil, ex-backing vocal de Skowa e a Máfia e de Marisa Monte, que explora a black music da África, de Cuba, dos Estados Unidos e do Brasil) e no grupo instrumental Curupira (que tem entre seus integrantes o pianista André Marques, ex-músico de Jane), este em disco que terá participações de Hermeto Pascoal e do tecladista William Magalhães.
A (boa) fama da Jam Music, cujo estúdio fica na Barra da Tijuca (RJ), está se alastrando. Jane já recebeu cerca de 30 CDs demo para ouvir de intérpretes que almejam sua primeira chance. "A gente quer gravar todo mundo, mas como é uma gravadora pequena, temos que segurar um pouco a onda", justifica. Para tornar viável o investimento, os CDs têm distribuição assegurada pela Eldorado. "A gente vai lutar todas as armas para que as pessoas tenham seu espaço merecido. Creio que há um grande público ávido desse tipo de verdade musical", diz a cantora.
CPC ataca com onze discos
Mônica Batello, responsável pela divulgação da CPC-UMES, diz que nos seus três anos e meio de atividade a gravadora conseguiu chamar a atenção de um público mais exigente. "O bloqueio que existe é o do desconhecido e do que não está na mídia eletrônica. Nossa proposta é a de abrir a cabeça do público para uma coisa diferente. A gente já tem um público que vai às lojas procurar os discos da CPC porque sabe que eles têm qualidade. Ele está cansado da mesmice e sabe que nosso produto é especial", sublinha.
Entre os onze discos que a CPC está lançando, destaca-se o do grupo A Barca, dedicado à pesquisa musical de fonogramas raros. "São jovens supertalentosos, cada um vindo de uma escola musical diferente, que se apaixonaram pela música folclórica de raiz. Cantam coco, embolada, cavalo marinho e montaram um espetáculo chamado Turista Aprendiz, em cima da obra do Mário de Andrade. Fomos assisti-lo e ficamos bobos com o som que A Barca fazia. É um material que quase ninguém conhece", ressalta Mônica.
De forró à música vocal cubana
Na linha do forró, chegam os CDs dos novatos Trio Sabiá (Fazendo a Festa), do compositor Gereba (Forró da Baronesa) e da veterana compositora Anastácia, célebre parceira de Dominguinhos em Só Quero um Xodó, Tenho Sede e Contrato de Separação, fazendo uma revisão de sua carreira. Já no quesito samba, destaca-se o CD Tô Aí, de Eliseu do Rio (de Janeiro), "grande cantor de sambas de Vila Isabel, apresentado à gente pelo Nei Lopes", conforme garante Mônica. De Sampa, surge outro talento bamba, a cantora Carminha Queiroz, com o álbum Leite Preto. No departamento cantoras ecléticas, há a mineira Selmma Carvalho (com Cada Lugar em Sua Coisa) e a paulistana Nenê Cintra (Que Cara Tem?).
Do campo erudito/instrumental, a CPC Umes traz o CD Paraquedista do Quarteto de Trombones da Paraíba ("eles são de música erudita, mas gravaram um disco de música popular com arranjos para trombone. Agora, está em Paris apresentando o CD", conta). Por fim, o octeto vocal cubano Novel Voz também promete causar espanto com seus integrantes que imitam instrumentos com as vozes.
Assim como a Jam, a CPC não pretende ter preconceitos de estilo musical em seus discos. "Lançamos desde a Comadre Florzinha, uma banda de coco e folclore nordestino, até o Didier Guinho que lançou o CD Vox Victimae, de música algorítmica, produzida em computador. O que acontece é que existem coisas de qualidade sendo feitas mas estão sendo ignoradas pela TV e rádio. Nosso trabalho é uma forma de mostrar ao público não precisa ouvir só pagode e axé, é uma questão de procurar", encerra Mônica.
Cobrindo as mais diversas tendências – da música folclórica, samba e forró, passando pela música eletrônica – ambos os selos pretendem, assim como fizeram outrora etiquetas como Festa, Elenco, Forma e, mais recentemente, a Velas, lançar novos cantores e grupos sem recorrer a imposições de estilo, imagem ou repertório, como costumam fazer as grandes gravadoras em busca de sucessos imediatos.
"Acho que tem que sentir a verdade dos artistas. Você pode ser sambista, pop, brega, bluseiro... contanto que faça seu trabalho com verdade. Não adianta querer mentir. Na minha gravadora, não vou impor que a pessoa siga um estilo. Ela vai fazer o que quiser, vou apenas ajudá-la a chegar lá. Chega de invenção, tanto para o lado simples como para o sofisticado – porque também tem muita gente pretensiosa que não consegue fazer direito e dá as notas todas erradas", explica Jane.
Em seu primeiro time, a Jam investe em nomes como Célia & Zéluis Mazziotti (num CD tributo a Paulinho da Viola), Ângela Ro Ro (que há sete anos não grava) e em dois discos de Jane: o primeiro em duo com o violão de Sebastião Tapajós (Da Minha Terra, que anteriormente só havia saído em sua terra natal, o Pará) e o outro, um álbum solo, para o qual a cantora ainda está escolhendo de repertório.
Pop, black music e jazz
No segundo time da Jam residem grandes promessas. É o caso do filho de Jane, Jay Varquer (que estreara em disco no CD da trilha do musical Cazas de Cazuza, que o selo também lançou) com o pop Nem Tão São. Segundo a orgulhosa mãe, o som de Jay vai na onda do pop internacional porém com um pé na música mineira do pessoal do Clube da Esquina. Além de composições próprias, seu CD conta com releituras de músicas de Marina Lima, Herbert Vianna e Djavan.
A Jam também aposta na cantora e compositora maranhense Anna Torres (que lançara um disco sem muita repercussão há dois anos), em Bernardo Lobo (filho de Edu, em disco com participações do pai, de Chico Buarque e de Milton Nascimento, cheio de composições próprias em ritmos variados, como baião, valsa, xote e reggae), em Bukassa (cantor africano radicado no Brasil, ex-backing vocal de Skowa e a Máfia e de Marisa Monte, que explora a black music da África, de Cuba, dos Estados Unidos e do Brasil) e no grupo instrumental Curupira (que tem entre seus integrantes o pianista André Marques, ex-músico de Jane), este em disco que terá participações de Hermeto Pascoal e do tecladista William Magalhães.
A (boa) fama da Jam Music, cujo estúdio fica na Barra da Tijuca (RJ), está se alastrando. Jane já recebeu cerca de 30 CDs demo para ouvir de intérpretes que almejam sua primeira chance. "A gente quer gravar todo mundo, mas como é uma gravadora pequena, temos que segurar um pouco a onda", justifica. Para tornar viável o investimento, os CDs têm distribuição assegurada pela Eldorado. "A gente vai lutar todas as armas para que as pessoas tenham seu espaço merecido. Creio que há um grande público ávido desse tipo de verdade musical", diz a cantora.
CPC ataca com onze discos
Mônica Batello, responsável pela divulgação da CPC-UMES, diz que nos seus três anos e meio de atividade a gravadora conseguiu chamar a atenção de um público mais exigente. "O bloqueio que existe é o do desconhecido e do que não está na mídia eletrônica. Nossa proposta é a de abrir a cabeça do público para uma coisa diferente. A gente já tem um público que vai às lojas procurar os discos da CPC porque sabe que eles têm qualidade. Ele está cansado da mesmice e sabe que nosso produto é especial", sublinha.
Entre os onze discos que a CPC está lançando, destaca-se o do grupo A Barca, dedicado à pesquisa musical de fonogramas raros. "São jovens supertalentosos, cada um vindo de uma escola musical diferente, que se apaixonaram pela música folclórica de raiz. Cantam coco, embolada, cavalo marinho e montaram um espetáculo chamado Turista Aprendiz, em cima da obra do Mário de Andrade. Fomos assisti-lo e ficamos bobos com o som que A Barca fazia. É um material que quase ninguém conhece", ressalta Mônica.
De forró à música vocal cubana
Na linha do forró, chegam os CDs dos novatos Trio Sabiá (Fazendo a Festa), do compositor Gereba (Forró da Baronesa) e da veterana compositora Anastácia, célebre parceira de Dominguinhos em Só Quero um Xodó, Tenho Sede e Contrato de Separação, fazendo uma revisão de sua carreira. Já no quesito samba, destaca-se o CD Tô Aí, de Eliseu do Rio (de Janeiro), "grande cantor de sambas de Vila Isabel, apresentado à gente pelo Nei Lopes", conforme garante Mônica. De Sampa, surge outro talento bamba, a cantora Carminha Queiroz, com o álbum Leite Preto. No departamento cantoras ecléticas, há a mineira Selmma Carvalho (com Cada Lugar em Sua Coisa) e a paulistana Nenê Cintra (Que Cara Tem?).
Do campo erudito/instrumental, a CPC Umes traz o CD Paraquedista do Quarteto de Trombones da Paraíba ("eles são de música erudita, mas gravaram um disco de música popular com arranjos para trombone. Agora, está em Paris apresentando o CD", conta). Por fim, o octeto vocal cubano Novel Voz também promete causar espanto com seus integrantes que imitam instrumentos com as vozes.
Assim como a Jam, a CPC não pretende ter preconceitos de estilo musical em seus discos. "Lançamos desde a Comadre Florzinha, uma banda de coco e folclore nordestino, até o Didier Guinho que lançou o CD Vox Victimae, de música algorítmica, produzida em computador. O que acontece é que existem coisas de qualidade sendo feitas mas estão sendo ignoradas pela TV e rádio. Nosso trabalho é uma forma de mostrar ao público não precisa ouvir só pagode e axé, é uma questão de procurar", encerra Mônica.