Sepultura mantém vigor e peso em novo disco
Em entrevista a CliqueMusic, o guitarrista Andreas Kisser falou sobre Nation, o novo disco do grupo, e sobre a participação no Rock in Rio 3, na noite pesada
Tom Cardoso
13/11/2000
O novo disco do Sepultura está pronto. E promete. Nation chega às lojas de todo o mundo em março do ano que vem e deve comprovar o amadurecimento da banda, que exatamente há quatro anos via o desligamento do seu vocalista, Max Cavalera. O norte-americano Derrick Green não só supriu com competência a ausência de Max, como ajudou a dar novo fôlego ao grupo de Igor, Andreas e Paulo.
Com produção de Steve Evetts (figura carimbada do circuito independente dos Estados Unidos e que já andou por aqui produzindo o disco do Korzus), Nation provavelmente será o disco mais experimental do Sepultura. Basta conferir a lista de convidados, que vão desde o erudito contrabaixista Denner Campolina, membro da Orquestra Sinfônica do Rio de Janeiro (que trabalhou com Igor e Andreas na trilha do filme No Coração dos Deuses, dirigido por Geraldo Moraes) até o poeta punk Henry Rollins, ex-Black Flag.
A decisão de gravar o disco no estúdio A.R., no Rio de Janeiro, fez bem ao grupo, que passa boa parte do ano fora do país. Apesar do clima de tranqüilidade durante as gravações, o Sepultura, como sempre, não amansou na hora de ligar os amplificadores. Derrick, que pela primeira vez participou do processo de composição do disco, está mais furioso do que nunca nos vocais. E nem a presença de um músico erudito no CD conseguiu amenizar o vigoroso thrash metal da banda mineira.
Curtindo um descanso em São Paulo, aguardando a mixagem do CD (que ficará a cargo de Steven Thompson, em Nova York), Andreas Kisser concedeu uma entrevista exclusiva a CliqueMusic. O guitarrista falou da eterna briga com Max Cavalera ("A gente não vai ser amigo tão cedo"), da amizade com o vocalista dos Ratos de Porão, João Gordo, e dos planos do Sepultura para o ano que vem, que incluem a turnê do novo álbum e e sobre a participação no Rock in Rio 3, no dia 19 de janeiro, junto com Iron Maiden, Rob Halford, Queens of The Stone Age, Pavilhão 9 e Sheik Tosado. "Queremos ser tratados de uma forma decente pela organização festival e acabar de vez com a fama de grupo encrenqueiro, que a mídia brasileira fez questão de cultivar", ataca.
CliqueMusic – O Sepultura sempre gozou de mais prestígio lá fora do que no Brasil. Apesar disso, vocês continuam mantendo laços fortes com o país, tanto que resolveram gravar o novo disco no Rio de Janeiro. O que falta para o Sepultura conquistar de vez o público brasileiro?
Andreas Kisser – Em primeiro lugar, sempre buscamos inspiração no Brasil. As nossas influências musicais estão aqui e os nossos amigos também. Acho que o momento nunca foi tão bom para a gente mostrar a nossa música. Quando vejo um grupo de som pesado como o Raimundos fazendo sucesso no Brasil, sinto-me um pouco responsável por isso. Hoje não é mais estranho uma banda de hardcore vender 100 mil discos. Na nossa época era mais difícil e mesmo hoje encontramos dificuldades. Um empresário sempre pensa três vezes antes de assinar um contrato de shows com a gente.
CliqueMusic – Por que essa fama?
Andreas Kisser – A mídia sempre foi um pouco sensacionalista com a gente. Em 1991, por exemplo, crucificaram o Sepultura por causa de um show no Pacaembu, em São Paulo, quando uma pessoa morreu por causa de uma briga, que poderia acontecer independentemente do estilo musical. Já fizemos shows tanto no Brasil como no exterior para milhares de pessoas e não aconteceu nada. Tocamos recentemente no Anhembi, em São Paulo, para 20 mil pessoas e não houve uma briga.
CliqueMusic – Ainda em 1991 houve aquela confusão do público metaleiro com o Lobão (o cantor foi vaiado e xingado pela platéia depois de subir no palco junto com a bateria da escola de samba da Mangueira) no Rock in Rio, na mesma noite que vocês tocaram...
Andreas Kissser – É, isso também prejudicou a gente na época. O erro foi da organização que não soube escalar as atrações nos dias certos.
CliqueMusic – Por falar em Rock in Rio, o que você achou da saída de seis grupos brasileiros importantes, alegando maus tratos da organização do festival?
Andreas Kisser – Eles estão certos. Acho que um artista tem de ser tratado de acordo com sua popularidade e importância. Ainda mais porque hoje os grupos brasileiros vendem mais discos que muita estrela internacional.
CliqueMusic – Em 1991 vocês já tinham uma boa fama e foram obrigados a tocar de dia e por apenas 30 minutos...
Andreas Kisser – A gente ainda estava conquistando o público brasileiro e precisávamos aproveitar todas as chances. Tocamos com muita garra, sabendo que o festival seria uma vitrine para a gente, como acabou sendo. Porém, hoje a situação é diferente. Temos condições de fazer nossas exigências. Aliás, queremos apenas que a organização nos trate com respeito e decência.
CliqueMusic – Voltando ao novo disco, por que a escolha de Steve Evetts como produtor?
Andreas Kisser – A gente já conhecia bem o trabalho dele. Steve produziu uma série de grupos de hardcore em Nova York, como Earth Crisis, Demolition Hammer e Snapcase e andou trabalhando com a galera do Korzus. Foi o cara certo na hora certa. Saiu tudo perfeito.
CliqueMusic – Vocês convidaram músicos de formações distintas, como o contrabaixista Denner Campolina, que já trabalhou com vocês na trilha do filme No Coração dos Deuses, no ano passado, e a turma do Pavilhão 9. Este será o disco mais experimental do Sepultura?
Andreas Kisser – A gente sempre gostou de usar experimentações musicais, mas continuamos sendo uma banda de som pesado, não mudamos o nosso estilo. Gostamos de compor essa trilha junto com o Denner e resolvemos convidá-lo para participar de uma das faixas do disco. Do Pavilhão, o [baixista] Marinho participou de Uma Cura (em que só o refrão é em português) e o [percussionista] Fernando tocou em Saga. Convidamos também o [João] Gordo para dar uma canja nos vocais na faixa Rise Above, um cover do Black Flag, que acabou não entrando no disco. Aliás, convidamos também o Henry Rollins e só está faltando ele para a gente mixar o disco.
CliqueMusic – O João Gordo acompanha a carreira do Sepultura desde o começo e não esconde a admiração por vocês. A recíproca é verdadeira?
Andreas Kisser – O Gordo é um eterno anarquista. Rejeitou proposta da Globo para montar um programa de televisão. Até mandou o Silvio Santos tomar no c. por telefone (risos).
CliqueMusic – O Sepultura recusou este ano uma proposta para tocar junto com Max Cavalera no festival Ozzfest. Recentemente, o Igor deu uma entrevista para a revista inglesa Kerrang dizendo que os músicos que tocam com Max são uma porcaria. O relacionamento entre vocês e Max nunca mais vai melhorar?
Andreas Kisser – Não aceitamos tocar no Ozzfest porque sabemos que não é o dinheiro que vai unir a gente de novo. A revista inglesa foi maldosa, colocou na capa uma declaração que foi dada isoladamente durante a entrevista. Foi uma matéria ridícula e sensacionalista. Não falamos com o Max há anos e não devemos voltar a ser amigos tão cedo.
CliqueMusic – O que você achou do último disco do Soulfly?
Andreas Kisser – Um pouco melhor do que o anterior.
CliqueMusic – Isso é um elogio?
Andreas Kisser – Você que tire sua conclusão.
Com produção de Steve Evetts (figura carimbada do circuito independente dos Estados Unidos e que já andou por aqui produzindo o disco do Korzus), Nation provavelmente será o disco mais experimental do Sepultura. Basta conferir a lista de convidados, que vão desde o erudito contrabaixista Denner Campolina, membro da Orquestra Sinfônica do Rio de Janeiro (que trabalhou com Igor e Andreas na trilha do filme No Coração dos Deuses, dirigido por Geraldo Moraes) até o poeta punk Henry Rollins, ex-Black Flag.
A decisão de gravar o disco no estúdio A.R., no Rio de Janeiro, fez bem ao grupo, que passa boa parte do ano fora do país. Apesar do clima de tranqüilidade durante as gravações, o Sepultura, como sempre, não amansou na hora de ligar os amplificadores. Derrick, que pela primeira vez participou do processo de composição do disco, está mais furioso do que nunca nos vocais. E nem a presença de um músico erudito no CD conseguiu amenizar o vigoroso thrash metal da banda mineira.
Curtindo um descanso em São Paulo, aguardando a mixagem do CD (que ficará a cargo de Steven Thompson, em Nova York), Andreas Kisser concedeu uma entrevista exclusiva a CliqueMusic. O guitarrista falou da eterna briga com Max Cavalera ("A gente não vai ser amigo tão cedo"), da amizade com o vocalista dos Ratos de Porão, João Gordo, e dos planos do Sepultura para o ano que vem, que incluem a turnê do novo álbum e e sobre a participação no Rock in Rio 3, no dia 19 de janeiro, junto com Iron Maiden, Rob Halford, Queens of The Stone Age, Pavilhão 9 e Sheik Tosado. "Queremos ser tratados de uma forma decente pela organização festival e acabar de vez com a fama de grupo encrenqueiro, que a mídia brasileira fez questão de cultivar", ataca.
CliqueMusic – O Sepultura sempre gozou de mais prestígio lá fora do que no Brasil. Apesar disso, vocês continuam mantendo laços fortes com o país, tanto que resolveram gravar o novo disco no Rio de Janeiro. O que falta para o Sepultura conquistar de vez o público brasileiro?
Andreas Kisser – Em primeiro lugar, sempre buscamos inspiração no Brasil. As nossas influências musicais estão aqui e os nossos amigos também. Acho que o momento nunca foi tão bom para a gente mostrar a nossa música. Quando vejo um grupo de som pesado como o Raimundos fazendo sucesso no Brasil, sinto-me um pouco responsável por isso. Hoje não é mais estranho uma banda de hardcore vender 100 mil discos. Na nossa época era mais difícil e mesmo hoje encontramos dificuldades. Um empresário sempre pensa três vezes antes de assinar um contrato de shows com a gente.
CliqueMusic – Por que essa fama?
Andreas Kisser – A mídia sempre foi um pouco sensacionalista com a gente. Em 1991, por exemplo, crucificaram o Sepultura por causa de um show no Pacaembu, em São Paulo, quando uma pessoa morreu por causa de uma briga, que poderia acontecer independentemente do estilo musical. Já fizemos shows tanto no Brasil como no exterior para milhares de pessoas e não aconteceu nada. Tocamos recentemente no Anhembi, em São Paulo, para 20 mil pessoas e não houve uma briga.
CliqueMusic – Ainda em 1991 houve aquela confusão do público metaleiro com o Lobão (o cantor foi vaiado e xingado pela platéia depois de subir no palco junto com a bateria da escola de samba da Mangueira) no Rock in Rio, na mesma noite que vocês tocaram...
Andreas Kissser – É, isso também prejudicou a gente na época. O erro foi da organização que não soube escalar as atrações nos dias certos.
CliqueMusic – Por falar em Rock in Rio, o que você achou da saída de seis grupos brasileiros importantes, alegando maus tratos da organização do festival?
Andreas Kisser – Eles estão certos. Acho que um artista tem de ser tratado de acordo com sua popularidade e importância. Ainda mais porque hoje os grupos brasileiros vendem mais discos que muita estrela internacional.
CliqueMusic – Em 1991 vocês já tinham uma boa fama e foram obrigados a tocar de dia e por apenas 30 minutos...
Andreas Kisser – A gente ainda estava conquistando o público brasileiro e precisávamos aproveitar todas as chances. Tocamos com muita garra, sabendo que o festival seria uma vitrine para a gente, como acabou sendo. Porém, hoje a situação é diferente. Temos condições de fazer nossas exigências. Aliás, queremos apenas que a organização nos trate com respeito e decência.
CliqueMusic – Voltando ao novo disco, por que a escolha de Steve Evetts como produtor?
Andreas Kisser – A gente já conhecia bem o trabalho dele. Steve produziu uma série de grupos de hardcore em Nova York, como Earth Crisis, Demolition Hammer e Snapcase e andou trabalhando com a galera do Korzus. Foi o cara certo na hora certa. Saiu tudo perfeito.
CliqueMusic – Vocês convidaram músicos de formações distintas, como o contrabaixista Denner Campolina, que já trabalhou com vocês na trilha do filme No Coração dos Deuses, no ano passado, e a turma do Pavilhão 9. Este será o disco mais experimental do Sepultura?
Andreas Kisser – A gente sempre gostou de usar experimentações musicais, mas continuamos sendo uma banda de som pesado, não mudamos o nosso estilo. Gostamos de compor essa trilha junto com o Denner e resolvemos convidá-lo para participar de uma das faixas do disco. Do Pavilhão, o [baixista] Marinho participou de Uma Cura (em que só o refrão é em português) e o [percussionista] Fernando tocou em Saga. Convidamos também o [João] Gordo para dar uma canja nos vocais na faixa Rise Above, um cover do Black Flag, que acabou não entrando no disco. Aliás, convidamos também o Henry Rollins e só está faltando ele para a gente mixar o disco.
CliqueMusic – O João Gordo acompanha a carreira do Sepultura desde o começo e não esconde a admiração por vocês. A recíproca é verdadeira?
Andreas Kisser – O Gordo é um eterno anarquista. Rejeitou proposta da Globo para montar um programa de televisão. Até mandou o Silvio Santos tomar no c. por telefone (risos).
CliqueMusic – O Sepultura recusou este ano uma proposta para tocar junto com Max Cavalera no festival Ozzfest. Recentemente, o Igor deu uma entrevista para a revista inglesa Kerrang dizendo que os músicos que tocam com Max são uma porcaria. O relacionamento entre vocês e Max nunca mais vai melhorar?
Andreas Kisser – Não aceitamos tocar no Ozzfest porque sabemos que não é o dinheiro que vai unir a gente de novo. A revista inglesa foi maldosa, colocou na capa uma declaração que foi dada isoladamente durante a entrevista. Foi uma matéria ridícula e sensacionalista. Não falamos com o Max há anos e não devemos voltar a ser amigos tão cedo.
CliqueMusic – O que você achou do último disco do Soulfly?
Andreas Kisser – Um pouco melhor do que o anterior.
CliqueMusic – Isso é um elogio?
Andreas Kisser – Você que tire sua conclusão.