Sergio Dias volta a lançar disco no Brasil

Guitarrista dos Mutantes vem com Estação da Luz e diz: Arnaldo Antunes e Sean Lennon poderiam substituir Rita e o irmão Arnaldo numa possível reedição da banda

Tom Cardoso
05/07/2000
Depois de quase duas décadas sem gravar álbuns no Brasil, o guitarrista dos Mutantes, Sergio Dias Baptista, lança, enfim, um disco por aqui. Estação da Luz será gravado pelo selo Lotus Music, fundado pelo próprio Dias, e distribuído pela gravadora Eldorado. Deve chegar às lojas no máximo daqui a dois meses.

"É um disco de rock’n’roll, bem pesado, com 70% de suas canções em português. Tive de reaprender a cantar na minha língua, pois morei muito tempo nos EUA e gravei todos os meus últimos álbuns em inglês", diz Dias, que atualmente mora em Araras, na região serrana do Rio de Janeiro e está de malas prontas para São Paulo, sua terra natal, que mereceu uma homenagem em seu novo disco, batizada com o nome da cidade.

"Como todo respeito a Tom Zé e ao Caetano Veloso (que compuseram, respectivamente, São São Paulo meu Amor e Sampa), baiano não tem nada de fazer homenagem a São Paulo. Sou bairrista mesmo", confessa o músico, que destaca duas outras canções do CD, Filhos do Silêncio e Escravo da Revolução.

Sergio Dias altera a voz e se mostra perturbado quando começa a falar de Mutantes. Sobre o recente lançamento de Tecnicolor, disco gravado em 1970 em Paris, com versões em inglês, ele tem pouco a dizer. "É um disco muito bem gravado, mas inexpressivo musicalmente. Fizemos apenas regravações em inglês de nossa canções, muitas delas sem experimentação alguma, que era a nossa marca. Bat Macumba, por exemplo, tinha de ser gravada com o som de uma máquina de costura e com o meu irmão (Cláudio Baptista, o gênio eletrônico da banda) ao lado."

Volta dos Mutantes
O guitarrista se irrita de vez ao ser perguntando sobre a possível (e eterna) volta dos Mutantes. "Ando pensando em voltar com o grupo, mas não quero e nem preciso depender da boa vontade de Arnaldo (Baptista) e de Rita (Lee). Levei o grupo até o fim e tenho o direito de resgatar os Mutantes com a formação que eu quiser". Segundo Dias, ao contrário do que é divulgado, a melhor fase dos Mutantes foi a de depois de 1974 (já sem Rita e Arnaldo), com ele, Rui Motta, Túlio Mourão e Pedro de Medeiros, formação responsável pelo disco Tudo Foi Feito Pelo Sol.

"A gente lotava todos os shows, fizemos muito mais sucesso do que na primeira fase da banda. Aliás, considero a fase progressiva dos Mutantes a mais criativa – acho O A e o Z (de 1973, mas só lançado em 1992) disparado o melhor disco da gente", reitera Dias, que cita Arnaldo Antunes e Sean Lennon (ele mesmo, o filho de John) como dois bons nomes para integrar um novo Mutantes. "Eles ajudariam a resgatar o espírito da banda, que está perdido há muito tempo."