Silvério Pessoa bota o bloco urbano na rua
Com o Projeto Micróbio do Frevo, o cantor recifense explora a obra carnavalesca de Jackson do Pandeiro
Marco Antonio Barbosa e Mônica Loureiro
16/01/2003
Para identificar o frevo, já não é suficiente citar apenas as sombrinhas coloridas, o ritmo contagiante e os passos rápidos e coordenados dos dançarinos. Ao se ouvir o CD Batidas Urbanas - Projeto Micróbio do Frevo (Selo Casa de Farinha - contate o email bateomanca@uol.com.br para saber como comprar o CD), de Silvério Pessoa, percebe-se quantas interpretações são possíveis ao se trabalhar com esse estilo musical pernambucano. O novo disco do cantor e compositor, ex-vocalista do grupo Cascabulho, reúne um repertório pouco conhecido de Jackson do Pandeiro (frevos compostos nos anos 50 e 60) sob uma nova ótica. E ao mesmo tempo reafirma a contemporaneidade da obra do "Rei do ritmo".
"O mestre Jackson do Pandeiro tem uma obra totalmente desconhecida no Brasil. Ele foi o maior experimentador de sonoridades e ritmos que a história presenciou", valoriza Silvério, que dedicou Batidas Urbanas a Jackson e a Frank Zappa. "Coloco Jackson e Zappa como os grandes gênios. Tem muita coisa que as novas gerações aos poucos vão redescobrindo e espero que o Micróbio do Frevo colabore com isso", acredita o cantor.
"Tive a idéia de reler esses frevos deixados por Jackson ainda em 1996", revela Silvério. Da concepção à concretização, passaram-se mais de seis anos. "A maior dificuldade foi o orçamento apertado da lei estadual de incentivo - tivemos que complementar com recursos próprios", diz o cantor. O lado conceitual do projeto também precisou de bastante trabalho. "Não foi fácil encontrar uma síntese entre a obra de carnaval de Jackson do Pandeiro e o que queríamos como reescrita desse trabalho", conta Silvério. Me Dá um Cheirinho, Minha Marcação, Quem Não Chora Não Mama, Papel Crepom e Tô Com a Macaca são algumas das músicas que fizeram sucesso em carnavais passados e agora ganham um olhar do século XXI. O CD foi gravado e mixado no Estúdio Fábrica, em Recife, e masterizado no Classic Master em São Paulo.
A saída encontrada para reinterpretar os frevos jacksonianos foi uma modernização radical, que não dispensa elementos eletrônicos e influências da música pop. "Fomos amadurecendo as audições e tentando dar continuidade aos arranjos, fazendo uma colagem entre as faixas", diz Silvério sobre o aspecto mixado do álbum. Para escolher entre os mais de 80 frevos produzidos por Jackson no período enfocado por Silvério, o bom-humor das letras foi a linha-mestra. "Todas as músicas escolhidas têm temas que levam ao carnaval dos cínicos, das festas noturnas nas ruas e dos bêbados", fala Silvério.
Outro aspecto inerente ao frevo - seu contagiante espírito de união - foi plenamente desenvolvido no disco. Silvério Pessoa contou com a ajuda de vários convidados que militam na cena musical recifense. Canibal (do Devotos), a cantora Mônica Feijó, e os grupos Via Sat, Zé Brown, Re:Combo e Sá Grama são alguns deles. "O CD tem um caráter de 'bloco', de pessoas reunidas para se divertir", considera Silvério. Como ponto de união, as tais batidas urbanas, ou seja, toda uma identificação que os artistas envolvidos têm com o frevo. "O Via Sat faz um frevo-jungle; o Eddie, é a cara do carnaval de Olinda; China (ex-Sheik Tosado), sempre falou que 'o hardcore de Pernambuco é o frevo'..." enumera Silvério.
As amizades contemporâneas de Silvério não foram as únicas convocadas ao disco. Almira Castilho, parceira (e esposa) de Jackson nas primeiras décadas de suas carreiras, canta com o ex-Cascabulho o clássico Papel Crepom. "A Almira não pisava num estúdio há 30 anos", diz Silvério. "Ela era ideal para cantar a faixa, afinal foi ela mesma quem escreveu a música (em parceria com o ator Paulo Gracindo)."
Além das músicas de Jackson do Pandeiro, dois temas inéditos da autoria do próprio Silvério foram incluídas. "São músicas importantes no contexto, para abranger o universo do frevo e do carnaval", diz Silvério. "A Voz da Terra no Planeta dos Urbanóides conta a chegada dos holandeses com os índios olhando do litoral. Foi uma visão que tive e que havia escrito faz tempo - acreditar em Pernambuco como o início do Brasil... E a novena Procissão dos Ambulantes marca o início da quaresma, quando acontece a Procissão dos Passos. É uma poesia do Recife", detalha o compositor.
É bom lembrar que não é a primeira vez que Silvério mergulha no legado de Jackson do Pandeiro. Enquanto esteve à frente do Cascabulho, o cantor fazia releituras do trabalho de Jackson, mas pelo viés do forró. "Com este disco novo, fecho uma trilogia que começa com o Fome Dá Dor de Cabeça (primeiro CD do Cascabulho), no qual trabalhei o forró; depois veio o Bate o Mancá, no qual trabalhei o côco, e agora o Micróbio do Frevo, que retorna ao Jackson a partir de interferências em seu repertório carnavalesco", elabora Silvério.
"O mestre Jackson do Pandeiro tem uma obra totalmente desconhecida no Brasil. Ele foi o maior experimentador de sonoridades e ritmos que a história presenciou", valoriza Silvério, que dedicou Batidas Urbanas a Jackson e a Frank Zappa. "Coloco Jackson e Zappa como os grandes gênios. Tem muita coisa que as novas gerações aos poucos vão redescobrindo e espero que o Micróbio do Frevo colabore com isso", acredita o cantor.
"Tive a idéia de reler esses frevos deixados por Jackson ainda em 1996", revela Silvério. Da concepção à concretização, passaram-se mais de seis anos. "A maior dificuldade foi o orçamento apertado da lei estadual de incentivo - tivemos que complementar com recursos próprios", diz o cantor. O lado conceitual do projeto também precisou de bastante trabalho. "Não foi fácil encontrar uma síntese entre a obra de carnaval de Jackson do Pandeiro e o que queríamos como reescrita desse trabalho", conta Silvério. Me Dá um Cheirinho, Minha Marcação, Quem Não Chora Não Mama, Papel Crepom e Tô Com a Macaca são algumas das músicas que fizeram sucesso em carnavais passados e agora ganham um olhar do século XXI. O CD foi gravado e mixado no Estúdio Fábrica, em Recife, e masterizado no Classic Master em São Paulo.
A saída encontrada para reinterpretar os frevos jacksonianos foi uma modernização radical, que não dispensa elementos eletrônicos e influências da música pop. "Fomos amadurecendo as audições e tentando dar continuidade aos arranjos, fazendo uma colagem entre as faixas", diz Silvério sobre o aspecto mixado do álbum. Para escolher entre os mais de 80 frevos produzidos por Jackson no período enfocado por Silvério, o bom-humor das letras foi a linha-mestra. "Todas as músicas escolhidas têm temas que levam ao carnaval dos cínicos, das festas noturnas nas ruas e dos bêbados", fala Silvério.
Outro aspecto inerente ao frevo - seu contagiante espírito de união - foi plenamente desenvolvido no disco. Silvério Pessoa contou com a ajuda de vários convidados que militam na cena musical recifense. Canibal (do Devotos), a cantora Mônica Feijó, e os grupos Via Sat, Zé Brown, Re:Combo e Sá Grama são alguns deles. "O CD tem um caráter de 'bloco', de pessoas reunidas para se divertir", considera Silvério. Como ponto de união, as tais batidas urbanas, ou seja, toda uma identificação que os artistas envolvidos têm com o frevo. "O Via Sat faz um frevo-jungle; o Eddie, é a cara do carnaval de Olinda; China (ex-Sheik Tosado), sempre falou que 'o hardcore de Pernambuco é o frevo'..." enumera Silvério.
As amizades contemporâneas de Silvério não foram as únicas convocadas ao disco. Almira Castilho, parceira (e esposa) de Jackson nas primeiras décadas de suas carreiras, canta com o ex-Cascabulho o clássico Papel Crepom. "A Almira não pisava num estúdio há 30 anos", diz Silvério. "Ela era ideal para cantar a faixa, afinal foi ela mesma quem escreveu a música (em parceria com o ator Paulo Gracindo)."
Além das músicas de Jackson do Pandeiro, dois temas inéditos da autoria do próprio Silvério foram incluídas. "São músicas importantes no contexto, para abranger o universo do frevo e do carnaval", diz Silvério. "A Voz da Terra no Planeta dos Urbanóides conta a chegada dos holandeses com os índios olhando do litoral. Foi uma visão que tive e que havia escrito faz tempo - acreditar em Pernambuco como o início do Brasil... E a novena Procissão dos Ambulantes marca o início da quaresma, quando acontece a Procissão dos Passos. É uma poesia do Recife", detalha o compositor.
É bom lembrar que não é a primeira vez que Silvério mergulha no legado de Jackson do Pandeiro. Enquanto esteve à frente do Cascabulho, o cantor fazia releituras do trabalho de Jackson, mas pelo viés do forró. "Com este disco novo, fecho uma trilogia que começa com o Fome Dá Dor de Cabeça (primeiro CD do Cascabulho), no qual trabalhei o forró; depois veio o Bate o Mancá, no qual trabalhei o côco, e agora o Micróbio do Frevo, que retorna ao Jackson a partir de interferências em seu repertório carnavalesco", elabora Silvério.