Silvério Pessoa deixa Cascabulho

Compositor e líder sai do grupo reclamando de falta de espaço; turnê pela Europa deve ser cancelada

Tom Cardoso
25/05/2000
Uma das mais criativas bandas da geração mangue beat corre o risco de acabar. Silvério Pessoa, líder e cabeça pensante do Cascabulho, anunciou a sua saída do grupo pernambucano. "Não agüentava mais a convivência com a banda, o ambiente não estava legal. Quero ter liberdade para fazer o meu trabalho e isso estava cada fez mais difícil", afirma.

A notícia pegou de surpresa o empresário do grupo Paulo André e os integrantes da banda. "A gente tinha shows marcados em festivais na Alemanha, Inglaterra e Espanha. É uma pena que, por brigas pessoais, toda turnê tenha de ser cancelada", disse o empresário. "Estou sabendo disso agora. Só vou dar declarações oficiais quando o grupo se reunir. Mas posso adiantar que a gente não vai desistir de uma turnê pela Europa só por causa da saída do Silvério", garantiu Kléber Magrão, percussionista e tecladista do grupo.

Na verdade, desde 1997, quando o Cascabulho foi revelado no Abril Pro Rock (importante festival de rock realizado anualmente em Recife), Silvério e os outros integrantes não se entendem. "A gente era no começo, contra a minha vontade, uma banda que regravava canções do Jackson do Pandeiro. Claro que sempre tive Jackson como um mestre, mas achava uma limitação nossa viver apenas da releitura de sua obra. O meu espaço como compositor foi conquistado na marra" diz.

De fato, no primeiro álbum do grupo, Fome Dá Dor de Cabeça, de 1998, Silvério já era responsável pela autoria de oito das 14 faixas do disco. No manifesto, escrito no encarte do CD, os integrantes (é bem provável que o texto tenha sido escrito por Silvério) louvavam a figura de Jackson, mas avisavam: "não somos uma banda de rock, também não somos uma banda de forró, muito menos um grupo folclórico".

Apesar de ter conquistado a pontapés o seu espaço no grupo, Silvério dedicou-se nos últimos anos a projetos solos. No Abril Pro Rock deste ano, lá estava ele apresentando, sem a banda, o projeto Bate o Mancá, em homenagem ao compositor alagoano Jacinto Silva, que deve virar disco, produzido por Lula Queiroga, e distribuído pela gravadora Trama.

"Logo depois do Abril Pro Rock, a gente viajou para os EUA para uma série de shows e pude perceber como o meu relacionamento com o resto do grupo estava difícil", diz Silvério, que já têm planos para este ano. "Tenho mais 30 música inéditas guardadas e devo montar uma nova banda, com o nome de Casa da Farinha."