Simonal morre sem conseguir sair do ostracismo
Cantor que foi um dos maiores pop stars brasileiros sucumbe a problemas hepáticos depois de anos perseguido pela fama de delator a serviço do regime militar
Nana Vaz de Castro
26/06/2000
Morreu ontem às 10h45, em decorrência de falência múltipla dos órgãos provocada por disfunção hepática, o cantor Wilson Simonal. O músico, de 61 anos, estava internado desde o último dia 30 no hospital Sírio Libanês, em São Paulo. Com a saúde debilitada há algum tempo, Simonal já tinha sido hospitalizado entre os dias 4 de abril e 12 de maio. Apesar da melhora que propiciou a primeira alta, a condição do cantor era considerada irreversível pelos médicos. O velório foi feito no próprio Sírio e Libanês e o enterro estava marcado para as 10h de hoje, no cemitério do Morumbi, em São Paulo.
Maior nome do estilo musical suingado denominado pilantragem, derivado da música soul (mas que designava também uma postura, espécie de atualização da antiga malandragem), Simonal começou sua carreira artística no início dos anos 60, cantando em bailes, até ser levado para a televisão, no programa Os Brotos Comandam, de Carlos Imperial. Seu primeiro disco, Tem Algo Mais, foi lançado em 1963 e projetou seu nome, com a música Balanço Zona Sul, de Tito Madi. Um título apropriado, uma vez que o balanço seria uma das principais marcas registradas do estilo Simonal.
O cantor chegou a apresentar um programa na TV Record no fim da década de 60, o Show em Si Monal, antes de emplacar seus maiores sucessos: Mamãe Passou Açúcar em Mim, País Tropical e Meu Limão Meu Limoeiro, adaptação da música infantil tradicional em versão suingada e balançada. Cercado de músicos de cacife como Antônio Adolfo, Tibério Gaspar e César Camargo Mariano – que mais tarde integrou o conjunto Som Três, que acompanhava o cantor – Simonal desenvolveu seu talento para showman: dançava, brincava com a platéia, cantava músicas em várias línguas. No fim dos anos 60, foi um dos maiores pop stars que o Brasil conheceu, chegando a reger um Maracanãzinho lotado.
Ostracismo até o fim da vida
No entanto, em 1972, em plena ditadura militar, Simonal foi acusado de ser um delator a serviço dos órgãos de repressão, e, no auge do sucesso, banido do cenário musical e da mídia. Seus discos sumiram das lojas e rádios, foram quebrados e destruídos, shows e contratos foram cancelados, outros artistas recusavam-se a trabalhar a seu lado, e o cantor amargou ostracismo até o fim da vida. Poucas foram as pessoas que compareceram ao seu velório, entre elas os cantores Ronnie Von e Jair Rodrigues. Quando da primeira internação, Simonal chegou a receber a visita do cantor e compositor Geraldo Vandré – artista símbolo do outro extremo ideológico, a esquerda vítima da repressão e tortura militar.
A sina de Simonal teve início quando foi acusado de encomendar uma surra a ser dada em seu contador Rafael Viviani. Segundo o cantor, um segurança que trabalhava para ele descobriu que Viviani o roubava e tomou a iniciativa de seqüestrar e torturar o contador, sem que Simonal soubesse. Durante o inquérito, um agente do Dops afirmou que o cantor era informante do serviço de informação. A fama de delator perdurou até hoje, embora nenhum artista afirmasse ter sido prejudicado politicamente pelo cantor.
Só nos anos 90 voltou-se a falar de Wilson Simonal. Depois de Os Sambas da Minha Terra, de 1991, em 1994 foi lançada a coletânea A Bossa e o Balanço de Wilson Simonal, e no ano seguinte o CD de inéditas Brasil, seu 36º e último disco. Ano passado, a segunda mulher do cantor, a advogada Sandra Manzini Cerqueira, chegou a levantar na Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República, no Centro de Inteligência do Exército e na Secretaria de Direitos Humanos do Ministério da Justiça documentos confirmando a ausência de registros de que Simonal tivesse colaborado com a repressão.
Wilson Simonal voltou à cena este ano por causa de seus dois filhos, Wilson Simoninha e Max (Maximiliano) de Castro, que lançaram seus primeiros discos pela gravadora Trama. Como o pai, eles aliam o samba ao soul, só que com todos os recursos que a tecnologia dos anos 90 permite. Os dois estão ligados ao projeto Artistas Reunidos, do qual fazem parte também filhos de Elis Regina e de Jair Rodrigues. Simoninha planeja agora convencer gravadoras a organizar "uma compliação digna" da obra do pai, cuja maior parte dos LPs continua inédita em CD.
Maior nome do estilo musical suingado denominado pilantragem, derivado da música soul (mas que designava também uma postura, espécie de atualização da antiga malandragem), Simonal começou sua carreira artística no início dos anos 60, cantando em bailes, até ser levado para a televisão, no programa Os Brotos Comandam, de Carlos Imperial. Seu primeiro disco, Tem Algo Mais, foi lançado em 1963 e projetou seu nome, com a música Balanço Zona Sul, de Tito Madi. Um título apropriado, uma vez que o balanço seria uma das principais marcas registradas do estilo Simonal.
O cantor chegou a apresentar um programa na TV Record no fim da década de 60, o Show em Si Monal, antes de emplacar seus maiores sucessos: Mamãe Passou Açúcar em Mim, País Tropical e Meu Limão Meu Limoeiro, adaptação da música infantil tradicional em versão suingada e balançada. Cercado de músicos de cacife como Antônio Adolfo, Tibério Gaspar e César Camargo Mariano – que mais tarde integrou o conjunto Som Três, que acompanhava o cantor – Simonal desenvolveu seu talento para showman: dançava, brincava com a platéia, cantava músicas em várias línguas. No fim dos anos 60, foi um dos maiores pop stars que o Brasil conheceu, chegando a reger um Maracanãzinho lotado.
Ostracismo até o fim da vida
No entanto, em 1972, em plena ditadura militar, Simonal foi acusado de ser um delator a serviço dos órgãos de repressão, e, no auge do sucesso, banido do cenário musical e da mídia. Seus discos sumiram das lojas e rádios, foram quebrados e destruídos, shows e contratos foram cancelados, outros artistas recusavam-se a trabalhar a seu lado, e o cantor amargou ostracismo até o fim da vida. Poucas foram as pessoas que compareceram ao seu velório, entre elas os cantores Ronnie Von e Jair Rodrigues. Quando da primeira internação, Simonal chegou a receber a visita do cantor e compositor Geraldo Vandré – artista símbolo do outro extremo ideológico, a esquerda vítima da repressão e tortura militar.
A sina de Simonal teve início quando foi acusado de encomendar uma surra a ser dada em seu contador Rafael Viviani. Segundo o cantor, um segurança que trabalhava para ele descobriu que Viviani o roubava e tomou a iniciativa de seqüestrar e torturar o contador, sem que Simonal soubesse. Durante o inquérito, um agente do Dops afirmou que o cantor era informante do serviço de informação. A fama de delator perdurou até hoje, embora nenhum artista afirmasse ter sido prejudicado politicamente pelo cantor.
Só nos anos 90 voltou-se a falar de Wilson Simonal. Depois de Os Sambas da Minha Terra, de 1991, em 1994 foi lançada a coletânea A Bossa e o Balanço de Wilson Simonal, e no ano seguinte o CD de inéditas Brasil, seu 36º e último disco. Ano passado, a segunda mulher do cantor, a advogada Sandra Manzini Cerqueira, chegou a levantar na Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República, no Centro de Inteligência do Exército e na Secretaria de Direitos Humanos do Ministério da Justiça documentos confirmando a ausência de registros de que Simonal tivesse colaborado com a repressão.
Wilson Simonal voltou à cena este ano por causa de seus dois filhos, Wilson Simoninha e Max (Maximiliano) de Castro, que lançaram seus primeiros discos pela gravadora Trama. Como o pai, eles aliam o samba ao soul, só que com todos os recursos que a tecnologia dos anos 90 permite. Os dois estão ligados ao projeto Artistas Reunidos, do qual fazem parte também filhos de Elis Regina e de Jair Rodrigues. Simoninha planeja agora convencer gravadoras a organizar "uma compliação digna" da obra do pai, cuja maior parte dos LPs continua inédita em CD.