Simone reúne novos e velhos destaques da MPB
Novo disco da cantora, o abolerado Fica Comigo Esta Noite, traz músicas de Chico Buarque ao lado das de Zeca Baleiro
Rodrigo Faour
30/05/2000
Nos anos 70 e começo dos 80, Simone celebrizou-se por cantar grandes compositores e grandes canções da MPB. A cantora alcançou a fama justamente interpretando Ivan Lins, Gonzaguinha, Milton Nascimento, Sueli Costa e tantos outros ícones de nossa música. Agora, ela retoma o primeiro time da MPB em seu novo CD, depois de dois anos longe dos estúdios. Em Fica Comigo Esta Noite, Simone mescla Chico Buarque (em parcerias com Vinicius Cantuária e João Donato, respectivamente, Ludo Real e Cadê Você?), Alceu Valença (Anunciação), João Bosco e Abel Silva (Desenho de Giz) a novos valores da MPB como Lenine e Dudu Falcão (Paciência) e Zeca Baleiro (Lenha e Boi de Haxixe).
Na verdade, a idéia do CD partiu do show homônimo que a cantora estreou no Canecão carioca, nos primeiros dias de janeiro. Metade das músicas eram conhecidas e a outra metade era de inéditas em sua voz. À exceção de Na Primeira Manhã (Alceu Valença) e A Medida da Paixão (Lenine e Dudu Falcão), que ela retirou do repertório por não se sentir suficientemente à vontade para cantar, todas as que ela nunca havia interpretado foram parar no novo disco. A princípio, Simone não manifestou maior interesse em registrar esse repertório em CD, mas mudou de idéia. "Nunca gosto de dizer nunca (risos). Na verdade, o que eu não queria era gravar um disco ao vivo", justifica.
Latinidade
Uma das boas surpresas do disco é o lado latino, com arranjos abolerados e espanholados em músicas do repertório de Altemar Dutra (Sentimental Demais e Que Queres Tu de Mim), Nelson Gonçalves (Fica Comigo Esta Noite) e Chico Buarque (Ludo Real). Ela atribui boa parte desse clima de latinidad ao percussionista Luiz Conte. "Bolero é bolero. Quando você tem um cara como o Luiz Conte que tem uma pegada de bolero especial, fica mais fácil. É o métier dele. Por exemplo, no show, o (Fernando) Caneca tocava guitarra, violão, viola, tudo junto. No disco, a gente tem mais tempo e pode variar mais de músicos e testar o que for melhor. No mais, eu sou a rainha do bolero. Adoro!", diz a cantora, que já fez interpretações clássicas para canções caribenhas como Yo No Te Pido e Yolanda e boleros como Sob Medida, Orgulho e Que Será.
Fã confessa de Altemar Dutra, ela diz que conheceu o cantor num show promovido pela Odeon, no começo da década de 70. "Quando o Altemar fez dez anos de carreira, eu estava sendo lançada. E a Odeon fez uma homenagem para ele, se não me engano, no Clube Piratininga, em São Paulo. Foi a primeira vez que cantei em público. Lembro-me que cantei Bandeira Branca. Eu já era fã dele", recorda.
Outro reencontro neste disco – desta vez, não só com a obra mas com a própria presença física do compositor – ocorreu com João Bosco, que toca violão e canta na faixa Desenho de Giz. "A gente não está sempre junto, mas volta e meia se reencontra pelas esquinas da vida. E um desses encontros foi super legal, ano passado, dia 24 de setembro, durante um show no Carneggie Hall, em Nova York. Estávamos eu, ele e mais o César Camargo Mariano e o Romero Lubambo. Era um show especial em homenagem a Tom Jobim. Conversamos muito e nos prometemos voltar a fazer um trabalho juntos... O João é único na coisa que ele faz, na sua maneira de cantar. E ter visto ele cantar no estúdio foi fantástico. Parece que baixa uma energia nele de algum lugar", brinca a cantora, que já havia gravado do compositor dois sambas do amigo: Coisa Feita (1983) e Jeitinho Brasileiro (1984).
Paciência
Uma das letras mais curiosas do CD de Simone é a de Paciência. "Enquanto todo mundo espera a cura do mal/ E a loucura finge que isso tudo é normal/ Eu finjo ter paciência", dizem os versos. Simone que já admitiu que gostaria de ser uma pessoa mais calma, menos tensa por conta de sua personalidade forte e agitada, acha que a música caiu em sua mão como uma luva.
"Hoje em dia você tem que ter realmente muita paciência, sem dúvida nenhuma. Conversei com o (Dudu) Falcão que me explicou alguma coisa da letra. Numa parte dela, creio que ele se referia à busca da cura para alguns males, algumas doenças do mundo. Acho essa música muito séria, deslumbrante. Quando gravei, você pode observar que na primeira parte há um mantra. A partir da introdução, quando entra a voz, entra o mantra. Depois, segue a música", esmiuça.
Simone aproveita ainda para comentar o caprichado projeto gráfico do novo CD e jogar confete na amiga Betty Lago que criou e produziu pela segunda vez a capa de um disco seu (a primeira foi no CD Café Com Leite, de 1996, iniciando sua fase de cabelos curtos, num trabalho dedicado à obra de Martinho da Vila). "Minha imagem mudou desde a época do Café com Leite. A Betty é maravilhosa. Tem um bom gosto fantástico. Entende realmente de moda e conhece os profissionais daqui e lá de fora muito bem".
Finalmente, a cantora desmente os rumores de que este seria seu último CD pela Universal e diz que cumprirá o contrato até o final sem maiores problemas, e que depois de São Paulo seguirá, a partir de agosto, uma longa turnê pelo Brasil e exterior. Está em seus planos ainda um novo show revendo todo seu repertório de quase 30 anos de carreira.
Na verdade, a idéia do CD partiu do show homônimo que a cantora estreou no Canecão carioca, nos primeiros dias de janeiro. Metade das músicas eram conhecidas e a outra metade era de inéditas em sua voz. À exceção de Na Primeira Manhã (Alceu Valença) e A Medida da Paixão (Lenine e Dudu Falcão), que ela retirou do repertório por não se sentir suficientemente à vontade para cantar, todas as que ela nunca havia interpretado foram parar no novo disco. A princípio, Simone não manifestou maior interesse em registrar esse repertório em CD, mas mudou de idéia. "Nunca gosto de dizer nunca (risos). Na verdade, o que eu não queria era gravar um disco ao vivo", justifica.
Latinidade
Uma das boas surpresas do disco é o lado latino, com arranjos abolerados e espanholados em músicas do repertório de Altemar Dutra (Sentimental Demais e Que Queres Tu de Mim), Nelson Gonçalves (Fica Comigo Esta Noite) e Chico Buarque (Ludo Real). Ela atribui boa parte desse clima de latinidad ao percussionista Luiz Conte. "Bolero é bolero. Quando você tem um cara como o Luiz Conte que tem uma pegada de bolero especial, fica mais fácil. É o métier dele. Por exemplo, no show, o (Fernando) Caneca tocava guitarra, violão, viola, tudo junto. No disco, a gente tem mais tempo e pode variar mais de músicos e testar o que for melhor. No mais, eu sou a rainha do bolero. Adoro!", diz a cantora, que já fez interpretações clássicas para canções caribenhas como Yo No Te Pido e Yolanda e boleros como Sob Medida, Orgulho e Que Será.
Fã confessa de Altemar Dutra, ela diz que conheceu o cantor num show promovido pela Odeon, no começo da década de 70. "Quando o Altemar fez dez anos de carreira, eu estava sendo lançada. E a Odeon fez uma homenagem para ele, se não me engano, no Clube Piratininga, em São Paulo. Foi a primeira vez que cantei em público. Lembro-me que cantei Bandeira Branca. Eu já era fã dele", recorda.
Outro reencontro neste disco – desta vez, não só com a obra mas com a própria presença física do compositor – ocorreu com João Bosco, que toca violão e canta na faixa Desenho de Giz. "A gente não está sempre junto, mas volta e meia se reencontra pelas esquinas da vida. E um desses encontros foi super legal, ano passado, dia 24 de setembro, durante um show no Carneggie Hall, em Nova York. Estávamos eu, ele e mais o César Camargo Mariano e o Romero Lubambo. Era um show especial em homenagem a Tom Jobim. Conversamos muito e nos prometemos voltar a fazer um trabalho juntos... O João é único na coisa que ele faz, na sua maneira de cantar. E ter visto ele cantar no estúdio foi fantástico. Parece que baixa uma energia nele de algum lugar", brinca a cantora, que já havia gravado do compositor dois sambas do amigo: Coisa Feita (1983) e Jeitinho Brasileiro (1984).
Paciência
Uma das letras mais curiosas do CD de Simone é a de Paciência. "Enquanto todo mundo espera a cura do mal/ E a loucura finge que isso tudo é normal/ Eu finjo ter paciência", dizem os versos. Simone que já admitiu que gostaria de ser uma pessoa mais calma, menos tensa por conta de sua personalidade forte e agitada, acha que a música caiu em sua mão como uma luva.
"Hoje em dia você tem que ter realmente muita paciência, sem dúvida nenhuma. Conversei com o (Dudu) Falcão que me explicou alguma coisa da letra. Numa parte dela, creio que ele se referia à busca da cura para alguns males, algumas doenças do mundo. Acho essa música muito séria, deslumbrante. Quando gravei, você pode observar que na primeira parte há um mantra. A partir da introdução, quando entra a voz, entra o mantra. Depois, segue a música", esmiuça.
Simone aproveita ainda para comentar o caprichado projeto gráfico do novo CD e jogar confete na amiga Betty Lago que criou e produziu pela segunda vez a capa de um disco seu (a primeira foi no CD Café Com Leite, de 1996, iniciando sua fase de cabelos curtos, num trabalho dedicado à obra de Martinho da Vila). "Minha imagem mudou desde a época do Café com Leite. A Betty é maravilhosa. Tem um bom gosto fantástico. Entende realmente de moda e conhece os profissionais daqui e lá de fora muito bem".
Finalmente, a cantora desmente os rumores de que este seria seu último CD pela Universal e diz que cumprirá o contrato até o final sem maiores problemas, e que depois de São Paulo seguirá, a partir de agosto, uma longa turnê pelo Brasil e exterior. Está em seus planos ainda um novo show revendo todo seu repertório de quase 30 anos de carreira.