Simone safra 2001: mais pop e despojada
Cantora grava inédita de Cazuza e opta por produção mais econômica e roqueira no álbum Seda Pura
Marco Antonio Barbosa
08/11/2001
O novo visual de Simone (clique para ampliar) |
Ela mesma faz questão de afirmar, em entrevista coletiva para divulgar o novo álbum, que o caso com a música pop brazuca é antigo. "Já cantei Blitz, Lulu Santos, Lobão, RPM. Então para mim, trabalhar com esse registro não é novidade. A coisa é que estou sempre metendo o nariz em tudo quanto é canto, fuçando sons e estilos. Sou muito inquieta. Então pode-se dizer que agora estou ficando com o pop. É uma paixão autêntica, não tem nada a ver com 'análises de mercado' ou viradas de carreira", explica Simone. E ela surpreende ao revelar uma inusitada vontade: "Tem horas em que eu queria ser roqueira. Pegar uma guitarra, fazer um barulhão mesmo... deve ser uma tremenda catarse. Nunca vou me esquecer do primeiro Rock in Rio, a primeira vez em que o (grupo australiano de hard rock) AC/DC veio ao Brasil. A energia daquele garoto (o guitarrista Angus Young) me inspirou!"
A nova/velha paixão se manifesta desde a própria música-título, mais uma criação do aparentemente infinito baú de inéditas deixadas por Cazuza. "Essa música já tem 17 anos", conta Simone, "mas ela só foi descoberta agora." Como assim? "Um dia Cazuza chegou para mim dizendo: 'olha, fiz uma música pensando em você!', e eu fiquei "Ah, que ótimo! Cadê?' E ele tinha esquecido a música (risos). Não esqueceu em casa não; esqueceu tudo, letra, melodia..." Por iniciativa de Roberto Frejat (que toca guitarra na versão gravada por Simone), a canção finalmente encontrou sua intérprete, anos depois. "A gravação foi incrível, todo mundo notou uma energia diferente no ar. O Frejat até falou: 'Pô, baixou uma coisa aqui no estúdio!'", revela a cantora.
O desejo de Simone de fazer um disco mais, digamos, "roqueiro" vem de algum tempo. "Queria gravar um trabalho mais simples, com arranjos mais 'vazios'. Usar poucos músicos, chegar no estúdio e construir as canções junto com eles - gravar um disco de banda, mesmo", diz a intérprete. "O Guto (Graça Mello, produtor do CD) ficava me dizendo: 'vamos por cordas aqui e ali...' e eu não quis. Não fiz concessão alguma, não queria orquestra e pronto. A única exceção foi o Jaquinho (o violoncelista Jaques Morelembaum), que abre e fecha o disco (respectivamente nas faixas Seda Pura e Muito Estranho)." O repertório de inéditas selecionado para este álbum "vazio" passa pelo indefectível Carlinhos Brown (Garoa e Hawaii e You), agrega Frejat (Antes de Acordar) e termina em Samuel Rosa, do Skank (que assina com Rodrigo Leão Cofre de Seda).
Apesar da presença dos figurões citados acima, Simone prefere ressaltar o compositor Zé de Riba, maranhense descoberto ano passado pela cantora. "Enviaram o disco que ele gravou para o meu escritório e eu fiquei fascinada. Queria gravar várias músicas dele. Suas letras são incríveis - falam cruamente da realidade, mas nunca se deixam ficar down. Ele é a grande novidade deste disco, o Brasil ainda vai ouvir falar muito nele", afirma a cantora. De Zé, ela gravou o coco WWW.Sem e o xote Fuga Nº1.
O discurso pop é novo, o visual também (com cabelos ainda mais curtos que no ano passado), mas Simone não se descuida da seara romântica/popular. "Faço visitas a vários gêneros, mas sempre mantenho o pé na minha própria praia, onde eu sei nadar", metaforiza a cantora. Desta forma, o álbum inclui regravações de Dalto (o hit dos anos 80 Muito Estranho) e de Falando Sério, hit de Carlos Colla e Maurício Duboc na voz de Roberto Carlos. A canção de Dalto acabou entrando no álbum na última hora, substituindo Preciso Chamar Sua Atenção (de Roberto/Erasmo) - que já estava gravada, mas foi vetada pelo próprio Rei. O episódio foi amplamente discutido pela mídia nos últimos meses.
"Fiquei triste, lógico. Gosto muito do Roberto, respeito a decisão dele, mas não vou deixar de lamentar. Acho que quando um compositor completa uma canção e a lança, ele deixa de ser o dono da música", diz Simone, sem se estender mais na polêmica. O hit de Dalto entrou no disco por pura afinidade: há bastante tempo que a cantora é ligada à obra do niteroiense. "Fiquei olhando na minha estante de discos, procurando uma canção para preencher a lacuna no CD, e olhei aquela capa rosa (do disco Muito Estranho, de Dalto)... A música se encaixava perfeitamente no clima do Seda Pura", fala a cantora.