Simoninha faz sua estréia carioca

O filho de Wilson Simonal, que a gravadora Trama apresenta como "a nova cara da música brasileira", leva ao Rock In Rio Café a máquina samba-soul-bossa-eletrônica de seu disco de estréia, Volume 2

Silvio Essinger
27/09/2000
Mesmo quem não conhecia Simoninha agora deve estar conhecendo: chamadas na TV e no rádio, outdoors, publicidade em jornais e revistas anunciam o lançamento de seu disco de estréia, Volume 2 (Trama), e apresentam o cantor, compositor, tecladista e produtor como "a nova cara da MPB". Amanhã, quinta-feira, às 23h, este músico nascido no Rio de Janeiro faz sua primeira incursão solo em palcos cariocas, no Rock In Rio Café. Que ninguém pense que o filho de Wilson Simonal foi o escolhido como a bola da vez pela gravadora. "Os outros artistas do Projeto Artistas Reunidos – o irmão Max de Castro, Pedro Mariano (filho de Elis Regina), Jairzinho e Luciana Mello (filhos de Jair Rodrigues), todos com discos solo lançados pela Trama – terão o mesmo investimento", garante. Simoninha abre a série de shows Contagem Regressiva, que trará periodicamente artistas da gravadora (da qual é um dos diretores artísticos, respondendo ao A&R João Marcelo Bôscoli, o primogênito de Elis) para o Rock In Rio Café.

O músico explica que uma ação mais agressiva de marketing da Trama em cima do Volume 2 se tornou fundamental nesse momento. "Disco, hoje em dia qualquer um grava. O difícil é mostrar que o seu trabalho existe", diz. Ele vê um problema, porém, nessa propaganda insistente: "Parece que é mais um picareta que está chegando, as pessoas tendem a não acreditar." Mas acredita que, com o tempo, o diferencial de qualidade dos discos da gravadora vai falar mais alto: "O chiclete existe, mas não é o nosso interesse. Temos é que cuidar de apresentar bem uma imagem."

Quanto ao conteúdo sonoro do disco, Simoninha não precisa se preocupar. A bem calibrada máquina soul-bossa-samba-eletrônica de Volume 2 obteve muitos elogios da crítica quando lançada, quatro meses atrás. "Na Trama, não estamos atrás de um sucesso, mas de uma carreira. De gravar dois, três, quatro discos", diz o músico. "A história dos ícones da MPB é a de artistas que nunca tiveram vendagens expressivas – com a exceção de Roberto Carlos. Só agora aconteceu de Caetano e Djavan venderem milhões de discos." A pretensão do músico, por sinal, é encerrar o ano com 60 mil cópias vendidas de seu disco.

Disco com sabor carioca
A expectativa para a estréia carioca é grande. "O Rio é fundamental. E o disco tem muito a ver com a cidade, é a minha memória sonora da infância", diz Simoninha, que fez seu primeiro grande show solo na semana passada, no paulistano Palace. Acompanhado de Sérgio Carvalho (baixo), Luís Carlos de Paula (percussão), Tadeu Dias (guitarra) e Douglas La Casa (bateria), ele apresenta músicas de Volume 2 como É Isso Que Dá (de Jairzinho e Daniel Carlomagno), Aquele Gol (parceria sua com Bernardo Vilhena), Flor do Futuro (Claudio Zoli e Vilhena), Bebete Vãobora (Jorge Ben Jor) e, em homenagem ao pai recentemente falecido, dois de seus maiores sucessos: Tributo a Martin Luther King (Simonal e Ronaldo Bôscoli) e Nanã (Moacir Santos e Mário Telles). Os nomes dos convidados que farão participações especiais da noite, ele guarda a sete chaves. "Venho de uma escola de artista que tem que estar sempre surpreendendo", conta. "Vou mudando músicas, arranjos e criando momentos livres no show"

Depois do Rock In Rio Café, Simoninha pretende levar seu show a Porto Alegre, Vitória, Curitiba, São Paulo novamente e, quem sabe, também fazer um repeteco no Rio. "Artista novo tem muita dificuldade de custos", lamenta. Aos poucos, e com muito trabalho, as músicas de Volume 2 estão começando a ser tocadas nas rádios de repertório adulto-contemporâneo e em algumas de grandes redes. "É uma questão de tempo. Criou-se um paradigma muito forte no país de que só o super sucesso é que toca. Mas o que é o super sucesso?", pergunta.

Tendo iniciado seu caminho na música aos seis anos de idade (gravando a voz do Cebolinha num disco da Turma da Mônica), Simoninha se desdobrou entre as atividades de músico (participou de disco com César Camargo Mariano e o saxofonista japonês Sadao Watanabe), de produtor (de Jorge Ben Jor), de cantor (no disco João Marcelo Bôscoli e Cia., em músicas como Distante Demais, de Lenine e A Flor do Futuro) e de publicitário, além de ter estudado advocacia. Por isso o título de Volume 2 para seu primeiro disco solo: "Tudo o que eu passei na minha vida até aí foi Volume 1." Convidado por João para trabalhar como diretor artístico na Trama, hesitou de início. "Só aceitei quando o meu disco estava quase pronto, nunca tive a pretensão de ser executivo", diz. Ele diz achar "muito louco" acumular na casa as funções de diretor e de artista. "Mas eu estou numa gravadora diferente", objeta.

Como diretor artístico, Simoninha se orgulha de ter sido o responsável pela realização do último disco do violonista Baden Powell, falecido ontem, que a Trama lança em novembro. "Torciamos para que ele se recuperasse e fizesse shows desse disco", conta. "Fechamos a tampa na semana antes de ele ser internado. Não queremos antecipar o lançamento do disco por causa de sua morte. Além do mais, há uma série de contratos internacionais que devem ser respeitados."