Skank anda para frente - olhando para trás
Cosmotron, mais novo álbum do grupo mineiro, mistura sonoridades dos anos 60 e 70 com Clube da Esquina
Tatiana Tavares
14/07/2003
Com mais de dez anos de estrada, o Skank se destaca no cenário da música pop nacional
como uma das bandas mais competentes de uma geração que parece estar mais
preocupada com "atitude" do que com a música propriamente dita. Com o sétimo CD,
Cosmotron (Sony) saindo do forno, o quarteto mineiro colocou em segundo
plano o rock e apostou em sonoridades mais sofisticadas, vocais mais bem trabalhados,
letras mais densas e um resultado final no qual transparece um amadurecimento sem
que para isso precise cair em clichês - como arranjos de cordas desnecessários ou
orquestras inseridas no meio de canções roqueiras. Samuel Rosa (vocal/guitarra),
entrevistado pelo Cliquemusic, prefere nem ensaiar uma definição para o novo
trabalho. "Não gosto de rótulos. É rock? É MPB? Sei lá!", diz o vocalista.
Buscando andar para a frente, o Skank acabou olhando para trás. Cosmotron mostra uma forte influência do rock dos anos 60 e 70, um lado já presente em Maquinarama
(último disco de estúdio do grupo), mas com menos intensidade.
"Essa sonoridade setentista vem sendo resgatada no mundo todo. Procuramos estar
sempre por dentro do que está sendo produzido no mundo e é notória a revalorização
dos Beatles, da carreira solo do (John) Lennon e do rock progressivo também",
justifica Samuel, principal compositor da banda. Ele confirma a hipótese da ampliação de
certos aspectos do disco anterior. "A recuperação dessas sonoridades já apareciam no
Maquinarama, há três anos atrás. Mas só agora foi potencializado."
Mas o rock não é a única referência para Cosmotron. O Clube da Esquina, marca eterna sobre boa parte da produção musical vinda de Minas, manifesta-se já na música de trabalho do disco (Dois Rios, parceria entre Samuel, Nando Reis e Lô Borges). "Acho que esse também é o disco mais 'mineiro' do Skank. Sempre tive um convívio muito grande, pessoal e artístico, com o Clube e toda a 'escola' musical mineira", fala Samuel. A dobradinha com Lô é fruto de uma amizade já consolidada. "Faço shows com o Lô já há quatro anos. Isso influenciou o meu trabalho, definitivamente", afirma o vocalista.
O refinamento instrumental e as múltiplas referências/influências acabaram contaminando também as letras do Skank. "Os versos estão mais metafóricos, menos diretos, com uma preocupação mais poética", conta Samuel. Ele elabora: "Essa escolha não foi proposital. Mas acho que, devido a uma preocupação maior com as melodias e a sofisticação das harmonias, as letras acabaram ganhando um tom também mais denso." Samuel cita como exemplo Formato Mínimo, que foge da métrica roqueira tradicional. "Essa letra foi criada em cima de palavras proparoxítonas, calcada em rimas, sem refrão, sem a fórmula pop", diz ele, citando os versos: "Começou de súbito/a festa estava mesmo ótima/ela procurava um príncipe/ele procurava a próxima". O vocalista deslinda seu processo de composição: "Na maioria das vezes, eu componho as melodias e mando para os letristas, por isso, acredito nessa mudança de formato."
Em outra letra, Os Ofendidos, o Skank revela indignação com o mundo contemporâneo ("O mundo não me assusta / O mundo só me insulta", cospe Samuel na música). "A banalização da violência e da corrupção, é isso o que me assusta. A busca desenfreada pelo poder é o que faz mal ao mundo - acho que, por algum motivo, as pessoas do bem não se interessam pelo poder. Isso explica porque há tanta gente ruim e incompetente dando as cartas", discursa Samuel. "Tentamos acreditar que a vida na verdade não está tão ruim, que só estamos passando por uma fase - que não sabemos o quanto vai durar."
No fim das contas, tudo se encaixa no plano-mestre da banda para ampliar seus horizontes. E o horizonte dos fãs, também. "Particularmente, eu tenho necessidade de fazer com que o Skank não seja lembrado apenas por suas 'canções rítmicas'", diz Samuel, lembrando de sucessos como Garota Nacional ou É Proibido Fumar. "Gosto da diversidade. Acho que ela é fundamental, principalmente em uma cultura tão rica quanto a brasileira", fala, referindo-se à busca de renovação sonora. A ousadia - que, para os céticos, sumiu de campo com o lançamento do disco MTV ao Vivo
, em 2001 - está de volta, mas Samuel confia na aceitação de
Cosmotron pelos velhos fãs.
"Sinceramente, prefiro correr o risco de perder público pela estranheza do que pelo desgaste", acredita. "Eu ficaria realmente muito frustrado em passar cinco meses dentro de um estúdio para no final, sair com um CD igualzinho a tudo que já fiz. O público que conquistamos nestes dez anos já se acostumou a esperar o novo." Entretanto, Samuel mantém os pés no chão quando se trata de mercado. "Não é simples ter a coragem para arriscar. Pode-se acabar perdendo todos os privilégios que a indústria te concedeu e acabar relegado novamente a uma espécie de underground", fala, lembrando do caso da banda carioca Los Hermanos. "É uma banda que faz discos cada vez mais bacanas, mas fica cada vez mais longe do grande público. Isso acontece porque? É uma resposta difícil e às vezes me pergunto qual a responsabilidade de nós, artistas, nisso tudo", teoriza o cantor do Skank. "O que é diferente acaba levando o rótulo, muitas vezes pejorativo, de 'alternativo' e fica restrito a um espaço mínimo."
Buscando andar para a frente, o Skank acabou olhando para trás. Cosmotron mostra uma forte influência do rock dos anos 60 e 70, um lado já presente em Maquinarama

Mas o rock não é a única referência para Cosmotron. O Clube da Esquina, marca eterna sobre boa parte da produção musical vinda de Minas, manifesta-se já na música de trabalho do disco (Dois Rios, parceria entre Samuel, Nando Reis e Lô Borges). "Acho que esse também é o disco mais 'mineiro' do Skank. Sempre tive um convívio muito grande, pessoal e artístico, com o Clube e toda a 'escola' musical mineira", fala Samuel. A dobradinha com Lô é fruto de uma amizade já consolidada. "Faço shows com o Lô já há quatro anos. Isso influenciou o meu trabalho, definitivamente", afirma o vocalista.
O refinamento instrumental e as múltiplas referências/influências acabaram contaminando também as letras do Skank. "Os versos estão mais metafóricos, menos diretos, com uma preocupação mais poética", conta Samuel. Ele elabora: "Essa escolha não foi proposital. Mas acho que, devido a uma preocupação maior com as melodias e a sofisticação das harmonias, as letras acabaram ganhando um tom também mais denso." Samuel cita como exemplo Formato Mínimo, que foge da métrica roqueira tradicional. "Essa letra foi criada em cima de palavras proparoxítonas, calcada em rimas, sem refrão, sem a fórmula pop", diz ele, citando os versos: "Começou de súbito/a festa estava mesmo ótima/ela procurava um príncipe/ele procurava a próxima". O vocalista deslinda seu processo de composição: "Na maioria das vezes, eu componho as melodias e mando para os letristas, por isso, acredito nessa mudança de formato."
Em outra letra, Os Ofendidos, o Skank revela indignação com o mundo contemporâneo ("O mundo não me assusta / O mundo só me insulta", cospe Samuel na música). "A banalização da violência e da corrupção, é isso o que me assusta. A busca desenfreada pelo poder é o que faz mal ao mundo - acho que, por algum motivo, as pessoas do bem não se interessam pelo poder. Isso explica porque há tanta gente ruim e incompetente dando as cartas", discursa Samuel. "Tentamos acreditar que a vida na verdade não está tão ruim, que só estamos passando por uma fase - que não sabemos o quanto vai durar."
No fim das contas, tudo se encaixa no plano-mestre da banda para ampliar seus horizontes. E o horizonte dos fãs, também. "Particularmente, eu tenho necessidade de fazer com que o Skank não seja lembrado apenas por suas 'canções rítmicas'", diz Samuel, lembrando de sucessos como Garota Nacional ou É Proibido Fumar. "Gosto da diversidade. Acho que ela é fundamental, principalmente em uma cultura tão rica quanto a brasileira", fala, referindo-se à busca de renovação sonora. A ousadia - que, para os céticos, sumiu de campo com o lançamento do disco MTV ao Vivo

"Sinceramente, prefiro correr o risco de perder público pela estranheza do que pelo desgaste", acredita. "Eu ficaria realmente muito frustrado em passar cinco meses dentro de um estúdio para no final, sair com um CD igualzinho a tudo que já fiz. O público que conquistamos nestes dez anos já se acostumou a esperar o novo." Entretanto, Samuel mantém os pés no chão quando se trata de mercado. "Não é simples ter a coragem para arriscar. Pode-se acabar perdendo todos os privilégios que a indústria te concedeu e acabar relegado novamente a uma espécie de underground", fala, lembrando do caso da banda carioca Los Hermanos. "É uma banda que faz discos cada vez mais bacanas, mas fica cada vez mais longe do grande público. Isso acontece porque? É uma resposta difícil e às vezes me pergunto qual a responsabilidade de nós, artistas, nisso tudo", teoriza o cantor do Skank. "O que é diferente acaba levando o rótulo, muitas vezes pejorativo, de 'alternativo' e fica restrito a um espaço mínimo."