Skank toma fôlego em CD ao vivo

Grupo faz revisão de carreira em álbum com repertório selecionado pelos fãs e que também vai virar DVD

Marco Antonio Barbosa
01/10/2001
Clique para ampliar as cenas da gravação do disco ao vivo do Skank, em Ouro Preto
Toma que o filho é teu! Este poderia ser o título do novo álbum do Skank, MTV Ao Vivo, que - como o título indica - é o primeiro registro ao vivo da banda e também o balanço de uma carreira de dez anos. Por sinal, uma das mais bem sucedidas de sua geração no pop nacional. Definido desde o princípio como sendo um "presente" para os muitos fãs da banda mineira, o álbum (e o especial de TV homônimo, que também renderá um DVD) é tão povão que o público não apenas pôde escolher (via Internet) o repertório do CD, mas também teve acesso gratuito ao par de shows - realizados em Ouro Preto, MG, em julho último - que foram palco da gravação. Mas MTV Ao Vivo não é apenas um presente. Também funciona, para o próprio Skank, como uma pausa necessária para reflexão e resumo de existência, antes de se aprofundarem ainda mais nas mudanças sonoras preconizadas por Maquinarama ouvir 30s (2000), último disco de estúdio da banda.

"A banda já mudou completamente de cara. O Skank de hoje não é o mesmo de antes, e precisávamos registrar esse momento de passagem", reflete em entrevista ao Cliquemusic o tecladista Henrique Portugal. "Ao mesmo tempo, sempre tivemos em mente que este seria um disco para o fã, e não um trabalho normal, de carreira. Vinhamos falando há muito tempo em fazer um álbum ao vivo, até porque muito do nosso reconhecimento veio através dos shows. Desde O Samba Poconé ouvir 30s (disco de 1996 da banda) queríamos gravar ao vivo, mas adiávamos para não parecer apelação comercial."

Afinal, depois de lançar Maquinarama, Samuel (voz, guitarra), Lelo (baixo), Haroldo (bateria) e Henrique decidiram-se por fazer o tal ao vivo. Mas, partindo do princípio que seria um disco para os fãs, o Skank abriu espaço para que o público decidisse quais músicas seriam incluídas no disco. A votação foi feita no site oficial (www.skank.com.br) da banda na Internet; o repertório completo dos cinco discos da banda foi listado e as 15 mais votadas seriam gravadas. "Não dávamos muita bola para o site. Mas quando abrimos um espaço para que as pessoas nos mandassem e-mails, a quantidade de mensagens nos assustou", narra Henrique. "Por isso, resolvemos deixar tudo na mão dos internautas. Foi interessante, porque nunca ouvimos falar em algum concurso parecido com este. A maioria das escolhas foi óbvia. Resposta foi a mais votada, e depois vieram Garota Nacional, É Proibido Fumar, Tão Seu, Pacato Cidadão, É uma Partida de Futebol, Jackie Tequila...", lembra o tecladista. "Lá pela 12º posição, as coisas começaram a ficar meio emboladas, com muitos empates técnicos. Aí nos demos o direito de incluir algumas escolhas nossas."

Assim, além dos hits mais previsíveis, o grupo incluiu Tanto - lembrada com carinho por ter sido o primeiro sucesso, ainda em 1991 -, músicas menos cotadas como Ali e Canção Noturna e Estare Prendido en Tus Dedos, versão em espanhol do sucesso Wrapped Around Your Finger, do The Police. Além da inédita Acima do Sol , houve algumas surpresas, conta Henrique: "Por exemplo, O Homem que Sabia Demais (grande sucesso do disco de estréia) não entrou, nem mesmo no DVD, que terá duas músicas a mais. Só fomos perceber quando já estava tudo gravado! Mas não dá para colocar todas mesmo."

Definido o repertório e o local da gravação - a praça central de Ouro Preto, sonho antigo do grupo, que comportou 60 mil pessoas em dois dias de show - o grupo procurou a MTV para ser parceira do projeto. "Não concebíamos o disco sem imagem. Então, quem melhor que a MTV para realizar isso?", diz Henrique. O disco ao vivo do Skank se tornaria então mais um volume MTV Ao Vivo. Juntando esta série com os Acústicos, a impressão é que praticamente todo álbum ao vivo do pop brasileiro tem o logo da Music Television na capa... que o digam Planet Hemp, Raimundos, Cássia Eller, Capital Inicial, Ira! e Roberto Carlos. "A MTV também é em grande parte responsável por nosso sucesso. Queríamos comemorar junto com eles", justifica tecladista do Skank.

Por falar em discos ao vivo, o grupo mineiro lança seu registro justo num momento de inflação de álbuns similares. Para complicar, MTV Ao Vivo vem colado no disco mais criativo e diversificado do Skank, Maquinarama. Não seria um contrasenso lançar logo agora este disco? Henrique diz que não. "Este CD teria que sair agora, mesmo que não fosse ao vivo - poderíamos fazer uma coletânea, ou um acústico, mas era necessária esta revisão de carreira. Muitos grupos que consideramos como nossos pares - O Rappa, Planet Hemp, os Paralamas - já lançaram. Para nós estava passando da hora. Quanto ao nosso momento criativo, acho que ele continua. Afinal, no disco ao vivo conseguimos retratar bem músicas de cinco álbuns bem diferentes, usando toda nossa versatilidade."

O tecladista rebate possíveis acusações de oportunismo: "Temos uma carreira isenta. Só o fato de termos demorado tanto para lançarmos este álbum prova isso. O ruim é quando o cara estréia e logo em seguida faz um disco ao vivo. Dá a impressão de que o artista está querendo se prolongar na mídia sem ter uma base criativa de verdade." MTV Ao Vivo também vai servir para o grupo se defender da pirataria. "Uma coletânea era necessária agora, porque já estamos vendo um monte de discos piratas aparecendo, montados com nossos grandes sucessos - tipo O Melhor do Skank. É impressionante."

Para comprovar que a banda não perdeu o drive inventivo, Henrique conta que o sucessor de Maquinarama já está sendo gestado. "Estamos brincando com as músicas novas, dando seguimento ao caldeirão sonoro que marcou o Maquinarama. Estamos trabalhando em nosso estúdio em Belo Horizonte, mantendo contato com várias bandas novas. Isso cria outras expectativas para nosso trabalho: absorvemos o pique de quem está começando agora e transmitimos nossa experiência para eles", informa o tecladista do Skank.