SNJ injeta originalidade no cenário hip hop brasileiro

Com um discurso inteligente, sem apelar para a violência, banda espera ganhar mais adeptos com o lançamento do álbum Se Tu Lutas Tu Conquistas

Tom Cardoso
15/02/2001

O Somos Nós a Justiça, mais conhecido pelo sigla SNJ, não é um grupo de rap comum. Por isso é tão bom. Nada de letras com apologia à violência, clipes com imagens de traficantes e shows com armas na cintura. Bastardo, Sombra, Cris, Cabeça e W. Jay são da paz - mas nem por isso deixam o discurso social de lado. Formada em Guarulhos, São Paulo, a banda acaba de lançar o seu segundo disco, Se Tu Lutas Tu Conquistas amostras de 30s, pela gravadora Atração Fonográfica.

"Apesar de todos os problemas da sociedade, procuramos ter uma visão mais otimista das coisas. Não achamos, como grande parte dos grupos de rap, que é preciso usar a violência para aumentar a nossa auto-estima", diz Bastardo. "Hoje em dia, o rap está associado à marginalidade muito por culpa das própria bandas, que fazem questão de divulgar que o rap é som de ladrão", critica.

Não é só a postura do SNJ que é diferente das outras bandas do gênero. A sonoridade também. Na faixa de abertura (produzida por Edi Rock, dos Racionais), que leva o nome do disco, um calmo e sereno new age serve de introdução para as primeiras estrofes, cantadas por Cris, uma da poucas mulheres a integrar um grupo de rap brasileiro. "No começo ela queria ser backing vocal, mas logo entrou no clima e começou a compor e cantar rap", conta Bastardo.

Por adotar um discurso mais brando, o grupo de Garulhos já foi alvo de ataques de rappers mais radicais. "A gente sofre um certo preconceito da galera. Durante um show nosso, um cara subiu no palco e começou a nos xingar. Disse que o grupo não tinha vivência na periferia. Que queria ver como a gente iria reagir se um filho nosso fosse seqüestrado. No fundo acabamos entendendo. Algumas pessoas têm que se comportar assim para serem aceitas na comunidade."

Com poucos anos de estrada - a banda começou em meados da década passada - o SNJ já conta com fãs ilustres. Edi Rock (que também produz outra faixa do álbum, a ótima Cavando Sua Própria Cova) e KL Jay (que dá uma canja em Bastardo Prossiga, Prossiga) apostam na ascensão do grupo. "Eu tinha 15 anos quando ia para os bailes assistir aos Racionais. Agora nem posso acreditar que eles são fãs do nosso trabalho", deslumbra-se Bastardo.

Outro entusiasta da banda é o DJ Zé Gonzalez, do Planet Hemp, responsável pela produção de três faixas do CD: Somos Nós, 1 Ato Fatal e Biografia Feminina. "A gente se conheceu num baile organizado pelo (produtor) Primo Preto. Ele chegou dizendo que o (Marcelo) D2 colocava sempre, no caminho para os shows do Planet, uma fita da gente cantando Ele Está no Mundo da Lua (um dos primeiro sucessos do grupo). A partir daí a gente trocou várias idéias e o Zé veio trabalhar neste disco."

O lançamento oficial de Se Tu Lutas Tu Conquista será nesta sexta, a partir das 22 horas, no Projeto Radial (perto do Metro Tatuapé), em São Paulo. Participam das festas nomes como Edi Rock, Zafrica Brasil e Apocalipse 16.

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