Só tinha que ser de <i>Elis & Tom</i>
30 anos do lançamento original, o álbum clássico retorna em edição muito especial
03/09/2005
Velha tradição de juntar - em duplas aparentemente descompromissadas - gigantes da MPB para projetos especiais, poucos
trabalhos ganharam ao longo dos anos a estatura que o disco Elis &
Tom, lançado originalmente em 1974, amealhou. Álbum com múltiplos
significados artísticos, que juntava dois verdadeiros ícones de gerações
diferentes, o disco tem seus trinta anos de lançamento comemorados com
uma reedição mais do que especial. Numa iniciativa conjunta das
gravadoras Trama e Universal, Elis & Tom foi remasterizado por
Cesar Camargo Mariano (arranjador da gravação original e, à época, marido
de Elis) a partir das fitas registradas em 1974. O disco ganha agora uma
embalagem de luxo, contendo um CD convencional e um (ainda pouco comum no
mercado nacional) DVD Áudio, que roda em aparelhos de DVD. Resgata-se
assim um marco de uma época de ouro da MPB, com um trabalho raro e
minucioso de reconstituição histórica.
Reconstituição é o termo exato, conforme conta Cesar Camargo Mariano. \"Ouvir aquelas fitas agora, 30 anos passados, foi uma experiência única, emocionante demais. Você nem pode imaginar a verdadeira viagem que foi reecontrar aqueles sons\", registra o músico, que debruçou-se ao longo de um ano sobre os tapes registrados em meros quatro dias de gravação, em março de 1974. O disco já havia ganho uma reedição em CD, lançada em finais da década de 90. \"Aquela reedição era muito ruim. Parecia que pegaram o vinil, puseram para tocar em uma vitrola qualquer e dali tiraram o som para o CD\", critica Cesar. A idéia do maestro e de João Marcello Bôscoli (presidente da Trama e filho mais velho de Elis) era ir muito além de apenas retocar o som original. \"Essa nova remasterizção pega exatamente o clima de tudo o que aconteceu no estúdio. Ficou uma coisa maior que simplesmente a música. Ouvindo o DVD, você sente que está realmente ali, presenciando aquilo tudo\", garante Cesar. Cerca de R$ 400 mil foram gastos no projeto, possibilitado pela união entre a Universal (que detém os direitos sobre as gravações originais, feitas pelo antigo selo Phillips) e a Trama, que idealizou o relançamento. \"Tínhamos a idéia há anos\", diz Cesar.
Todos os efeitos e \"truques\" adicionados às gravações originais foram extraídos. \"Eram efeitos - ecos, reverb...- que se utilizavam muito em estúdio naquela época. Mas para esse projeto queríamos apenas o som que os microfones captaram 30 anos atrás\", explica Cesar. Tom entrou com a voz, piano e violão; o quarteto (Hélio Delmiro, guitarra; Luizão Maia, baixo; Paulinho Braga, bateria; e o próprio Cesar, no piano elétrico) que tocava com Elis ao vivo na época, mais a guitarra de Oscar Castro Neves, formaram a base sonora do álbum. \"Primeiro o Tom botava a voz e tocava. Depois entravam as cordas\", narra Cesar, referindo-se ao naipe de cordas arranjado pelo americano Bill Hitchcock - um dos poucos americanos a participar do projeto, que era quase 100% brasileiro apesar de gravado na Califórnia, no estúdio MGM.
Cesar, Elis e o produtor Aloysio de Oliveira partiram para os EUA, ao encontro com Tom. Um encontro, inicialmente, marcado por alguma tensão. \"Ele não via necessidade de trazer músicos do Brasil. E também ficou meio de pé atrás com a idéia de que eu seria o arranjador do projeto\", relembra Cesar. Do lado do casal, também havia uma certa preocupação. \"O Tom nos impressionava. Quer dizer, ele já era \'O\' Tom Jobim. Eu e Elis éramos jovens, tímidos, estávamos um tanto ansiosos com a dimensão do projeto. Ainda hoje ele é meu ídolo!\", fala Cesar, lembrando que o compositor, aos 47 anos, já era famoso mundialmente. \"Acabou que ele se revelou um sujeito muito espirituoso, e um verdadeiro mestre. Aprendi muita coisa durante aquele tempo, não só em termos de trabalho, mas de vida também\".
A grande atração do box, posto nas lojas a R$ 51,90, é o DVD Áudio, que recebeu tratamento sonoro Dolby 5.1. \"O som é melhor do que o que se ouve num cinema\", afirma Cesar. Não apenas isso: o novo formato acrescenta duas faixas inéditas às 14 canções do Elis & Tom original. Fotografia ganhou uma versão alternativa, com Tom ao violão. Já Bonita, com letra em inglês, foi uma sobra do repertório original, descartada porque Elis não gostou de se ouvir cantando em inglês. Outras novidades foram as \"ambiências\" embutidas em várias das canções. \"Acho que é o grande diferencial deste relançamento. Ouvindo, consegue-se ter idéia de como foi o trabalho com Tom no estúdio e alguns momentos raros de criação espontânea. Especialmente em relação a Elis, que era muito intuitiva e não gostava de repetir muitas vezes a mesma forma de cantar\", conta Cesar. Trechos de conversas, fade-outs improvisados e ruídos diversos aumentam o clima \"documental\" do novo Elis & Tom.
O álbum lançado em 1974 nasceu antológico por pelo menos um motivo evidente - incluir o famoso dueto de Águas de Março, um hit eterno. Ao longo das 14 músicas, pinçadas entre o melhor da obra de Jobim, ouvia-se uma confluência geracional única: a voz de Elis, consagrada como porta-voz da (então) ascendente MPB, reunida à obra do patrono da bossa nova, o movimento musical imediatamente anterior, já então considerado sinônimo da moderna música brasileira mundo afora. O desfilar de clássicos ganhou nova força nos arranjos modernos de Cesar Camargo (meio a contragosto de Tom, que não queria os instrumentos elétricos na parada). E tudo nasceu de um sonho antigo de Elis, que ganhou o projeto de \"presente\". \"Foi quando ela completou dez anos na gravadora Phillips e o André Midani (presidente do selo na época) disse que ela podia pedir o que quisesse. Podia ser um carro, uma viagem... e Elis disse que queria gravar um disco com Tom Jobim\", narra Cesar. O \"presente\" se tornou um monumento.
Reconstituição é o termo exato, conforme conta Cesar Camargo Mariano. \"Ouvir aquelas fitas agora, 30 anos passados, foi uma experiência única, emocionante demais. Você nem pode imaginar a verdadeira viagem que foi reecontrar aqueles sons\", registra o músico, que debruçou-se ao longo de um ano sobre os tapes registrados em meros quatro dias de gravação, em março de 1974. O disco já havia ganho uma reedição em CD, lançada em finais da década de 90. \"Aquela reedição era muito ruim. Parecia que pegaram o vinil, puseram para tocar em uma vitrola qualquer e dali tiraram o som para o CD\", critica Cesar. A idéia do maestro e de João Marcello Bôscoli (presidente da Trama e filho mais velho de Elis) era ir muito além de apenas retocar o som original. \"Essa nova remasterizção pega exatamente o clima de tudo o que aconteceu no estúdio. Ficou uma coisa maior que simplesmente a música. Ouvindo o DVD, você sente que está realmente ali, presenciando aquilo tudo\", garante Cesar. Cerca de R$ 400 mil foram gastos no projeto, possibilitado pela união entre a Universal (que detém os direitos sobre as gravações originais, feitas pelo antigo selo Phillips) e a Trama, que idealizou o relançamento. \"Tínhamos a idéia há anos\", diz Cesar.
Todos os efeitos e \"truques\" adicionados às gravações originais foram extraídos. \"Eram efeitos - ecos, reverb...- que se utilizavam muito em estúdio naquela época. Mas para esse projeto queríamos apenas o som que os microfones captaram 30 anos atrás\", explica Cesar. Tom entrou com a voz, piano e violão; o quarteto (Hélio Delmiro, guitarra; Luizão Maia, baixo; Paulinho Braga, bateria; e o próprio Cesar, no piano elétrico) que tocava com Elis ao vivo na época, mais a guitarra de Oscar Castro Neves, formaram a base sonora do álbum. \"Primeiro o Tom botava a voz e tocava. Depois entravam as cordas\", narra Cesar, referindo-se ao naipe de cordas arranjado pelo americano Bill Hitchcock - um dos poucos americanos a participar do projeto, que era quase 100% brasileiro apesar de gravado na Califórnia, no estúdio MGM.
Cesar, Elis e o produtor Aloysio de Oliveira partiram para os EUA, ao encontro com Tom. Um encontro, inicialmente, marcado por alguma tensão. \"Ele não via necessidade de trazer músicos do Brasil. E também ficou meio de pé atrás com a idéia de que eu seria o arranjador do projeto\", relembra Cesar. Do lado do casal, também havia uma certa preocupação. \"O Tom nos impressionava. Quer dizer, ele já era \'O\' Tom Jobim. Eu e Elis éramos jovens, tímidos, estávamos um tanto ansiosos com a dimensão do projeto. Ainda hoje ele é meu ídolo!\", fala Cesar, lembrando que o compositor, aos 47 anos, já era famoso mundialmente. \"Acabou que ele se revelou um sujeito muito espirituoso, e um verdadeiro mestre. Aprendi muita coisa durante aquele tempo, não só em termos de trabalho, mas de vida também\".
A grande atração do box, posto nas lojas a R$ 51,90, é o DVD Áudio, que recebeu tratamento sonoro Dolby 5.1. \"O som é melhor do que o que se ouve num cinema\", afirma Cesar. Não apenas isso: o novo formato acrescenta duas faixas inéditas às 14 canções do Elis & Tom original. Fotografia ganhou uma versão alternativa, com Tom ao violão. Já Bonita, com letra em inglês, foi uma sobra do repertório original, descartada porque Elis não gostou de se ouvir cantando em inglês. Outras novidades foram as \"ambiências\" embutidas em várias das canções. \"Acho que é o grande diferencial deste relançamento. Ouvindo, consegue-se ter idéia de como foi o trabalho com Tom no estúdio e alguns momentos raros de criação espontânea. Especialmente em relação a Elis, que era muito intuitiva e não gostava de repetir muitas vezes a mesma forma de cantar\", conta Cesar. Trechos de conversas, fade-outs improvisados e ruídos diversos aumentam o clima \"documental\" do novo Elis & Tom.
O álbum lançado em 1974 nasceu antológico por pelo menos um motivo evidente - incluir o famoso dueto de Águas de Março, um hit eterno. Ao longo das 14 músicas, pinçadas entre o melhor da obra de Jobim, ouvia-se uma confluência geracional única: a voz de Elis, consagrada como porta-voz da (então) ascendente MPB, reunida à obra do patrono da bossa nova, o movimento musical imediatamente anterior, já então considerado sinônimo da moderna música brasileira mundo afora. O desfilar de clássicos ganhou nova força nos arranjos modernos de Cesar Camargo (meio a contragosto de Tom, que não queria os instrumentos elétricos na parada). E tudo nasceu de um sonho antigo de Elis, que ganhou o projeto de \"presente\". \"Foi quando ela completou dez anos na gravadora Phillips e o André Midani (presidente do selo na época) disse que ela podia pedir o que quisesse. Podia ser um carro, uma viagem... e Elis disse que queria gravar um disco com Tom Jobim\", narra Cesar. O \"presente\" se tornou um monumento.