Sob a bondosa sombra do grande Tom
Ivan Lins lança Jobiniando, disco inspirado na música de Tom Jobim, com produção de Roberto Menescal
Marco Antonio Barbosa
24/08/2001
Pode ser que nem os ouvintes, nem os críticos musicais, ou mesmo os fãs mais ardorosos do trabalho de Ivan Lins percebam. Mas o fato é que Jobiniando, 26º álbum da carreira do cantor e compositor, marca o início de uma nova fase para Ivan. E isso quem diz é o próprio. Com a estreita colaboração de Roberto Menescal - é a primeira vez em que trabalham juntos - Ivan Lins agora se diz a fim de "fazer discos que façam bem à saúde"; álbuns que girem em torno de um conceito fechado e pré-determinado; e que sejam, principalmente, voltados para sua carreira no exterior. Todos esses novos rumos foram tomados a partir de um álbum que começou como um tributo à Bossa Nova, depois virou uma homenagem a Tom Jobim e acabou não sendo nem uma coisa, nem outra - e sim um disco ungido pela "aura" do maestro criador da bossa.
"Não é um tributo ao Tom, e sim um disco guiado pelo espírito dele. Queria pegar o clima das harmonias dele, a sofisticação, a placidez e a beleza", explica Ivan sobre Jobiniando. "Essa orientação veio também da minha vontade de trabalhar em torno de um ícone como o Tom, a vontade de ter um 'tema' determinado que dê uma cara definida ao disco", continua o cantor. "Essa agora vai ser a finalidade de minha vida: contar histórias com meus discos. Não posso nem quero mais fazer um disco que chute para todos os lados." Ao ouvir o comentário, o produtor Menescal opina: "Um álbum tem que ter um conceito amarrado. O Ivan não tinha o costume de fazer isso. Mas o Jobiniando todo obedece a um mesmo clima, tem uma unidade." Ivan lembra que já havia tentado fazer discos temáticos antes. "O Anjo de Mim (95) foi um álbum que eu quis que tivesse um clima carioca. E teve também o Viva Noel, de 97, só com músicas do Noel Rosa."
Dentro dessa busca pela coerência, o álbum inclui dez composições de Jobim (Caminhos Cruzados, Vivo Sonhando/Triste, Inútil Paisagem, Samba do Avião, Bonita, Este Teu Olhar/Promessas, Dindi e Eu Sei que Vou Te Amar). E também músicas novas de Ivan, com parceiros como Martinho da Vila (a faixa-título), Celso Viáfora (Rio de Maio) e Abel Silva (Acaso). Tudo, claro, dentro do clima do disco. "As minhas próprias canções jobinianas vêm de longa data", diz Ivan, referindo-se à crescente influência de Jobim sobre suas composições. "Rio de Maio, por exemplo, foi feita há uns dois anos, para um projeto específico de homenagem ao Tom que acabou não saindo, nem sei porque. E a música acabou ficando mesmo no estilo do Tom." Isso só contribuiu para a unidade final do CD. "Este é um disco que vai numa ordenação perfeita, as faixas vão se completando, todas formando um todo. Você ouve ele inteirinho sem sobressaltos. Como o Ivan diz, é um disco que faz bem à saúde. Tem a ver também com o trabalho de pré-produção que o Ivan fez em sua casa em Teresópolis. Num lugar bonito daqueles, você só pode ter esse tipo de inspiração mesmo", completa Menescal.
O parto do projeto foi cheio de mudanças de rota. A idéia de um álbum só de bossa nova foi sugerida por Marcos Maynard, presidente da atual gravadora de Ivan, a Abril Music. "Isso foi ainda em 1999. O Marcos me falou em gravar só clássicos da bossa, mas eu estava com muitas composições guardadas: tinha ficado cinco anos sem lançar um disco só com coisas minhas. Daí eu acabei fazendo o disco de Natal ( Um Novo Tempo, 99) e emendei com o A Cor do Pôr-do-sol (2000), que deu vazão a toda aquela produção acumulada. Aquele disco era um desabafo do meu lado compositor." Roberto Menescal acrescenta, comparando: "Justamente por ter toda aquela produção acumulada, A Cor... vai de um monte de estilos ao mesmo tempo; tem balada, baião, jazz... Ficou um disco de autor, mas faltou unidade, atirando para todos os lados. Por outro lado, no Jobiniando o ponto de partida é o Tom Jobim, mas começa na praia do Tom e vai virando Ivan aos poucos."
Depois do sucesso do álbum natalino - que ultrapassou as 250 mil cópias vendidas e deu a Ivan seu primeiro disco de platina - e do "desabafo" autoral, ressurgiu a idéia do disco de bossa nova. "A Abril tinha sugerido um disco com clássicos regravados e algumas canções inéditas, mais uma versão de Soberana Rosa (canção de Ivan que ganhou um Grammy este ano, na voz de Sting), já pensando na carreira do disco no exterior", lembra Ivan. "E eu precisava de um disco para ser lançado no exterior, e o A Cor... não tinha o perfil ideal para isso. Então topei." O primeiro passo foi convocar Roberto Menescal, que segundo Ivan "foi decisivo em todas as etapas do trabalho". "Enquanto fomos gravando, vimos que seria melhor fazer um disco inspirado em Jobim, ao invés de simplesmente regravarmos as músicas dele", fala Menescal.
O golpe de misericórdia foi dado por Martinho da Vila. O sambista pôs letra em duas melodias que Ivan lhe ofertou como presente de aniversário. A primeira, Presente aos Fãs, foi gravada no último disco do próprio Martinho; a segunda foi oferecida a Ivan, e tinha como título... Jobiniando. "E isso sem ele sequer saber que estávamos com esse projeto!", exclama Ivan. "Só podia ser um sinal. Foi quase um negócio mediúnico", completa Menescal. No estúdio, a dobradinha até então inédita funcionou muito bem. "O problema do Ivan é o inverso de todo mundo: com ele, a luta é para que ele pare de trabalhar. Porque ele é tão obsessivo e preciosista que, se deixasse, ele estaria mexendo no disco até hoje...", brinca Menescal. Ivan, por sua vez, surpreendeu-se com a versatilidade do veterano da Bossa Nova. "Não tinha idéia da dimensão da modernidade dele. Ele é capaz de, por exemplo, tocar guitarra nas levadas mais contemporâneas, de um jeito tão pop quanto qualquer músico jovem."
Completando a nova fase que Jobiniando inaugura para Ivan, o álbum também deve ter um tratamento de luxo no exterior. O disco será lançado em janeiro nos EUA e Japão, países nos quais o cantor tem público cativo. "No Japão me chamam de 'novo Tom Jobim'", diz Ivan. A versão gringa do álbum terá uma tradução de Soberana Rosa, que virou She Walks This Earth (e que se junta à regravação de Time After Time, standard americano que fez sucesso com Frank Sinatra). "Soberana Rosa é uma música que também é jobiniana, se encaixa bem no disco", fala Ivan. "Ela tem mais do lado mineiro do Tom, o lado Matita Perê. Mas no arranjo nós incorporamos um clima mais carioca", lembra Menescal. O cantor segue para os EUA no fim de agosto, para uma turnê de 20 dias. E já está se falando em novo Grammy à vista. "A Abril está animada com a possibilidade. Deixaram até um recado superentusiasmado a respeito disso na minha secretária eletrônica..." Nada mal para um disco que se pretendia "apenas mais um" tributo à Bossa Nova.
"Não é um tributo ao Tom, e sim um disco guiado pelo espírito dele. Queria pegar o clima das harmonias dele, a sofisticação, a placidez e a beleza", explica Ivan sobre Jobiniando. "Essa orientação veio também da minha vontade de trabalhar em torno de um ícone como o Tom, a vontade de ter um 'tema' determinado que dê uma cara definida ao disco", continua o cantor. "Essa agora vai ser a finalidade de minha vida: contar histórias com meus discos. Não posso nem quero mais fazer um disco que chute para todos os lados." Ao ouvir o comentário, o produtor Menescal opina: "Um álbum tem que ter um conceito amarrado. O Ivan não tinha o costume de fazer isso. Mas o Jobiniando todo obedece a um mesmo clima, tem uma unidade." Ivan lembra que já havia tentado fazer discos temáticos antes. "O Anjo de Mim (95) foi um álbum que eu quis que tivesse um clima carioca. E teve também o Viva Noel, de 97, só com músicas do Noel Rosa."
Dentro dessa busca pela coerência, o álbum inclui dez composições de Jobim (Caminhos Cruzados, Vivo Sonhando/Triste, Inútil Paisagem, Samba do Avião, Bonita, Este Teu Olhar/Promessas, Dindi e Eu Sei que Vou Te Amar). E também músicas novas de Ivan, com parceiros como Martinho da Vila (a faixa-título), Celso Viáfora (Rio de Maio) e Abel Silva (Acaso). Tudo, claro, dentro do clima do disco. "As minhas próprias canções jobinianas vêm de longa data", diz Ivan, referindo-se à crescente influência de Jobim sobre suas composições. "Rio de Maio, por exemplo, foi feita há uns dois anos, para um projeto específico de homenagem ao Tom que acabou não saindo, nem sei porque. E a música acabou ficando mesmo no estilo do Tom." Isso só contribuiu para a unidade final do CD. "Este é um disco que vai numa ordenação perfeita, as faixas vão se completando, todas formando um todo. Você ouve ele inteirinho sem sobressaltos. Como o Ivan diz, é um disco que faz bem à saúde. Tem a ver também com o trabalho de pré-produção que o Ivan fez em sua casa em Teresópolis. Num lugar bonito daqueles, você só pode ter esse tipo de inspiração mesmo", completa Menescal.
O parto do projeto foi cheio de mudanças de rota. A idéia de um álbum só de bossa nova foi sugerida por Marcos Maynard, presidente da atual gravadora de Ivan, a Abril Music. "Isso foi ainda em 1999. O Marcos me falou em gravar só clássicos da bossa, mas eu estava com muitas composições guardadas: tinha ficado cinco anos sem lançar um disco só com coisas minhas. Daí eu acabei fazendo o disco de Natal ( Um Novo Tempo, 99) e emendei com o A Cor do Pôr-do-sol (2000), que deu vazão a toda aquela produção acumulada. Aquele disco era um desabafo do meu lado compositor." Roberto Menescal acrescenta, comparando: "Justamente por ter toda aquela produção acumulada, A Cor... vai de um monte de estilos ao mesmo tempo; tem balada, baião, jazz... Ficou um disco de autor, mas faltou unidade, atirando para todos os lados. Por outro lado, no Jobiniando o ponto de partida é o Tom Jobim, mas começa na praia do Tom e vai virando Ivan aos poucos."
Depois do sucesso do álbum natalino - que ultrapassou as 250 mil cópias vendidas e deu a Ivan seu primeiro disco de platina - e do "desabafo" autoral, ressurgiu a idéia do disco de bossa nova. "A Abril tinha sugerido um disco com clássicos regravados e algumas canções inéditas, mais uma versão de Soberana Rosa (canção de Ivan que ganhou um Grammy este ano, na voz de Sting), já pensando na carreira do disco no exterior", lembra Ivan. "E eu precisava de um disco para ser lançado no exterior, e o A Cor... não tinha o perfil ideal para isso. Então topei." O primeiro passo foi convocar Roberto Menescal, que segundo Ivan "foi decisivo em todas as etapas do trabalho". "Enquanto fomos gravando, vimos que seria melhor fazer um disco inspirado em Jobim, ao invés de simplesmente regravarmos as músicas dele", fala Menescal.
O golpe de misericórdia foi dado por Martinho da Vila. O sambista pôs letra em duas melodias que Ivan lhe ofertou como presente de aniversário. A primeira, Presente aos Fãs, foi gravada no último disco do próprio Martinho; a segunda foi oferecida a Ivan, e tinha como título... Jobiniando. "E isso sem ele sequer saber que estávamos com esse projeto!", exclama Ivan. "Só podia ser um sinal. Foi quase um negócio mediúnico", completa Menescal. No estúdio, a dobradinha até então inédita funcionou muito bem. "O problema do Ivan é o inverso de todo mundo: com ele, a luta é para que ele pare de trabalhar. Porque ele é tão obsessivo e preciosista que, se deixasse, ele estaria mexendo no disco até hoje...", brinca Menescal. Ivan, por sua vez, surpreendeu-se com a versatilidade do veterano da Bossa Nova. "Não tinha idéia da dimensão da modernidade dele. Ele é capaz de, por exemplo, tocar guitarra nas levadas mais contemporâneas, de um jeito tão pop quanto qualquer músico jovem."
Completando a nova fase que Jobiniando inaugura para Ivan, o álbum também deve ter um tratamento de luxo no exterior. O disco será lançado em janeiro nos EUA e Japão, países nos quais o cantor tem público cativo. "No Japão me chamam de 'novo Tom Jobim'", diz Ivan. A versão gringa do álbum terá uma tradução de Soberana Rosa, que virou She Walks This Earth (e que se junta à regravação de Time After Time, standard americano que fez sucesso com Frank Sinatra). "Soberana Rosa é uma música que também é jobiniana, se encaixa bem no disco", fala Ivan. "Ela tem mais do lado mineiro do Tom, o lado Matita Perê. Mas no arranjo nós incorporamos um clima mais carioca", lembra Menescal. O cantor segue para os EUA no fim de agosto, para uma turnê de 20 dias. E já está se falando em novo Grammy à vista. "A Abril está animada com a possibilidade. Deixaram até um recado superentusiasmado a respeito disso na minha secretária eletrônica..." Nada mal para um disco que se pretendia "apenas mais um" tributo à Bossa Nova.