Sonic Junior: o som dançante e denso de Alagoas

Explorando as possibilidades sonoras dos computadores pessoais e a riqueza musical do Brasil, dupla de fora do eixo artístico do país faz um dos discos mais interessantes da nova safra do pop

Silvio Essinger
06/01/2001
Computadores fazem arte, cantava o pernambucano Chico Science. Alguns poucos anos depois, os alagoanos Aldo Jones, de 23 anos de idade, e Juninho, de 25 – ou melhor, o power duo conhecido como Sonic Junior -, levaram adiante essa máxima do mangue beat gravando no micro caseiro um dos discos mais surpreendentes da nova safra pop brasileira: Sonic Junior amostras de 30s, que está sendo lançado pela Nikita Music. De um lado, as inovações da música eletrônica gringa, tornadas acessíveis por diversos programas e periféricos. De outro, o manancial musical que flui abundantemente no Brasil, na forma de samba, coco, maracatu, baião, frevo e demais manifestações. A conjunção de fatores acabou por dar frutos lá em Maceió, terra que revelou alguns poucos valores da MPB, como Djavan e, mais recentemente, a banda retrô-psicodélica Mopho.

“A gente sempre ouviu de tudo”, conta o vocalista e baterista Juninho, que começou no hardcore e tocou no Living In The Shit, banda que chegou a lançar disco e a tocar nos dois mais importantes festivais de Recife, o Abril Pro Rock e Rec Beat. O guitarrista Aldo, que também militava no campo do som pesado com a banda Dread, também punha de tudo um pouco em seu toca-discos. “Aos poucos, a gente foi sentindo a necessidade de fazer um som mais louco. No que a gente fazia, não cabia tanto efeito”, conta ele. Juninho começou a brincar com uma groovebox (bateria eletrônica com linhas de baixo programáveis). Aldo, a explorar programas de produção de música. Cada um no seu canto, mas só até 1999, quando resolveram fazer um projeto conjunto a partir das músicas do baterista.

Encastelados no Sonic Estúdios, em Maceió – quer dizer, o computador e a mesa de som de Aldo -, eles começaram a experimentar, sem medo. Juninho fazia as bases e o guitarrista entrava por cima, colorindo o som. Depois, o baterista voltava, tocando seu instrumento para reforçar as bases, dando o toque humano à programação rítmica. Algumas dicas (e o nome da banda) vieram do produtor Beto Machado, que produziu o disco do Living In The Shit, mas o Sonic Junior foi basicamente um esforço da dupla, de fuçar os softwares e descobrir soluções. “A gente estudou bem os timbres”, conta Juninho. Os dois precisaram fazer apenas duas fitas demo – a repercussão delas no Sudeste, depois de visitas a São Paulo, acabou atraindo a Nikita, que rapidamente assinou contrato para o disco.

Sonic Junior traz uma vasta gama sonora, do funk-R&B de Acelerou e A Negra (“a raça toda tem que ter libertação”), aos toques jazzísticos de Brito Bolão (que tem bons samples), Eu Tô Aí e Raga Jazz/U41-42 (com uma parte latina, outra trip hop). A guitarra de Aldo mostra riqueza de timbres e harmonia em partes mais dark, bem típica dos anos 80, em Água e Esqueleto. Já as letras de Juninho (algumas em parceria com o amigo Wado Filho) são histórias que foram fluindo naturalmente, mas sempre dentro de uma lógica. Entre as inúmeras influências do Sonic Junior – coisas como Manu Chao, Dave Holmes, Fela Kuti, The Meters e Banda Black Rio – uma se destacou. Pudera: ninguém menos que a unanimidade nacional Jorge Ben. Dele, foi escolhida O Telefone Tocou Novamente para ser a única versão do disco.

Apesar dos vários pontos de contato, Juninho descarta comparações entre o Sonic Junior e as bandas do mangue beat: “Somos diferentes, mas somos Nordeste também.” Com o disco nas lojas, os dois agora saem pelo país fazendo seus shows - o próximo é dia 17, no Rio de Janeiro, no festival Humaitá Pra Peixe. E no palco o esquema é o seguinte: disparadas as bases da groovebox, Juninho se reveza entre o canto e a bateria, Aldo faz guitarra e backings. Com trabalho duro, eles apostam nas possibilidades comerciais do som dançante e denso do Sonic. “A gente não quer ficar num gueto, quer atingir todo tipo de gente”, diz o baterista.

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