Tem de tudo entre os tesouros da EMI

Gravadora lança pacote de 80 reedições, com CDs para todos os gostos - do brega ao pop-rock

Marco Antonio Barbosa
21/08/2003
Na pródiga seara da exploração dos ricos catálogos das gravadoras multinacionais, a competição tem sido acirrada entre os selos. Quem tem o acervo mais valioso, esbanja mais - caso da EMI, que depois de, ano passado, ter escancarado seu baú com a coleção "Odeon 100 anos", agora desempacota nada menos que 80 títulos de uma só vez, cobrindo três décadas de música brasileira. A coleção Tesouros da Música não tem o mesmo peso dos relançamentos da Odeon, seja na questão do resgate de raridades (dos 80 discos, apenas 15 ainda não haviam sido lançados em CD), seja na importância histórica geral dos discos relançados. Mesmo porque vários dos títulos não são álbuns originais, e sim coletâneas. Mas, na base da camaradagem, a EMI oferece os CDs ao simpático preço (sugerido) de R$ 16. E há também a vantagem do extremo ecletismo: do rock contestatório da Plebe Rude ao dó-de-peito de Agnaldo Timóteo, o pacotão oferece obras para literalmente todos os gostos. E, para quem tiver a pachorra de pesquisar, algumas pérolas verdadeiras da MPB também, há muito tempo longe das prateleiras.

Primeiro, os inéditos
Por falar em ecletismo... na lista dos 15 álbuns que ainda não tinham sido editados em CD, há alguns verdadeiros achados. Como Sinfonia das Aves Brasileiras, disco no qual pássaros silvestres "solam" acompanhando uma orquestra em interpretações de Danúbio Azul e Tico-tico no Fubá (sic). Dois títulos de Fernando Mendes, ícone brega hoje meio esquecido (e recentemente regravado por Caetano Veloso), também foram desencavados; nesse setor mais do que popular, também destacam-se Perdido na Noite (Agnaldo Timóteo), a coletânea Paulo Diniz, os boleros de Anisio Silva (Alguém me Disse) e o sambão jóia de Luiz Ayrão (Os Grandes Sucessos). Na outra ponta do espectro, há instrumental de qualidade com Cesar Camargo Mariano (em disco homônimo de 1980) e Waldir Azevedo (Os Grandes Sucessos); a voz inigualável de Dalva de Oliveira (Dalva, de 1972); o rock rural do trio Sá, Rodrix & Guarabyra; e a bossa cool de Dick Farney (Penumbra-Romance).

E o resto?
O restante do pacote é composto por discos com maior, menor ou nenhuma necessidade de relançamento. Neste último caso, há, por exemplo, o primeiro disco da Blitz - que foi posto de volta às lojas ainda no ano passado. Ou o ainda recentíssimo Enquanto a Tregua Não Vem (1999), da Plebe Rude. Sem falar na subdivisão de álbuns de pagode (com Art Popular, Soweto, Exaltasamba e Negritude Jr.), todos ainda em catálogo. Ou mesmo em álbuns como Selvagem? (Paralamas do Sucesso), Isso É Bossa Nova (Leila Pinheiro), Ambar (Maria Bethania), 14 Quilates (Luiz Melodia) ou Bolero (Nana Caymmi), discos populares de artistas com carreiras consolidadas e que são facilmente acháveis até hoje, anos depois de lançados.

Por outro lado, as pepitas não são poucas. Como os relançamentos dedicados a Clara Nunes e Paulinho da Viola; cada um mereceu três CDs na coleção. No ano em que se lembram os 20 anos da morte de Clara, os belos Claridade, O Canto das Três Raças e Brasileiro - Profissão: Esperança são um achado oportuno. Paulinho chega com os esgotados Zumbido e os dois volumes de Memórias (um dedicado ao choro e outro ao samba). Igualmente de raiz são é o disco de Cartola (O Mundo é um Moinho, lançado originalmente pelo selo Marcus Pereira). Maysa (no raro Ao Vivo no Canecão, de 1969), o primeiro álbum do Som Imaginário, Antonio Adolfo e seu grupo A Brazuca e o eterno injustiçado Wilson Simonal também merecem destaque.

Interessante é a ênfase dada no dito gênero "popular", ou, poupando eufemismos, o brega. O precursor Altemar Dutra ganha três reedições. O hoje lendário Paulo Sérgio também. Agnaldo Timóteo, José Augusto, Elymar Santos, Sergio Reis, Benito de Paula e os legítimos pioneiros Ângela Maria e Cauby Peixoto (reunidos num disco que leva o nome da dupla) não foram esquecidos. As raizes dessa multifacetada música muito popular podem ser checadas na coletânea A Explosão da Jovem Guarda (também inéditam em CD), com Eduardo Araújo, Golden Boys e outros.

No mais, há MPB tradicional (Simone, Gonzaguinha, Djavan, Elis Regina, Ivan Lins), samba paulista (Demônios da Garoa, Adoniran Barbosa), pop-rock (Vinicius Cantuária, Fernanda Abreu, Kiko Zambianchi, Rita Lee, Paulinho Moska), Clube da Esquina (Beto Guedes e Lô Borges), bossa nova (Milton Banana, Dick Farney & Claudete Soares) e nomes inclassificáveis como Egberto Gismonti, Alceu Valença e Tim Maia.