Teresa Cristina agora canta seus próprios versos
Aclamada intérprete carioca de samba estréia como compositora no álbum A Vida me Fez Assim,
Marco Antonio Barbosa e Mônica Loureiro
07/04/2004
Depois de surpreender crítica e público e receber todos os louros possíveis pelo disco A Música de Paulinho da Viola, com repertório exclusivo do compositor, Teresa Cristina agora mostra um trabalho com sua cara. Ou melhor, com a cara dela e do inseparável Grupo Semente. "Foi primordial passar por esta etapa de gravar um CD duplo para lançarmos esse", diz Teresa.
A Vida me Fez Assim, seu novo CD pela Deck Disc, é formado basicamente de músicas inéditas e de autoria da própria Teresa - oito das 15 faixas. E as regravações são consideradas por ela quase como uma obrigação: "São pessoas a que a gente sempre recorre para cantar e formar um repertório", referindo-se a Candeia (Viver), Wilson Moreira/Nei Lopes (Peito Sangrando), Elton Medeiros/Zé Kéti (Sorri) ou Silas de Oliveira/Manoel Ferreira (Na Água do Rio). Um trabalho que reflete exatamente o que ela, Pedro Miranda (pandeiro/voz), Bernardo Dantas (violão) e João Callado (cavaquinho) fazem há seis anos pelas noites da Lapa.
O disco, na verdade, nasceu antes do de Paulinho da Viola, lançado no final de 2002. "O Paulão 7 Cordas (produtor) reuniu a gente para gravar, de forma independente mesmo. Fizemos uma vaquinha e começamos a ir para o estúdio. Foi quando veio o convite para fazer o CD do Paulinho. Retomamos o trabalho em novembro, já estava tudo mastigado, não foi difícil", conta Teresa. Paulão confirma: "Eu achava que o Semente já estava fazendo muito sucesso e precisava de um cartão-de-visitas. Propus a `cooperativa', que ficou meio de lado. Quando retomamos, os back-ups deram pau, mas tudo que já estava gravado tínhamos escrito. Redistribuímos os arranjos e finalizamos com esse resultado maravilhoso".
Umbanda
A Vida me Fez Assim revela, entre um verso e outro, a religiosidade de Teresa Cristina. A começar pela primeira faixa Acalanto, de sua autoria ("Mãe Oxum, me dá licença/Que eu gosto de navegar/Em todo samba que faço/Tem espaço, eu ponho o mar") ou Pedro e Teresa ("O santo é forte na ribeira/Oi, vira santo a noite inteira/Quero ver agradecer"). "Tentei ser católica, mas não consegui. Entrei pela primeira vez num terreiro de umbanda aos 15 anos e é onde me sinto bem até hoje. É uma religião brasileira, os pontos são lindíssimos. Pena que a gente não pode cantá-los sempre", lamenta.
A cantora diz que sua inspiração vem muito pelos tambores e palmas e lembra que a primeira música que compôs, intuitivamente, foi um ponto de umbanda. "Eu tinha muito medo de ser compositora de uma música só e não me imaginava gravando um CD", conta. Mas hoje, na hora de compor, Teresa diz que a influência da religião vem naturalmente. "Não mexo no que não conheço totalmente, mas louvar é uma retribuição: entrei na música muito rápido e tudo o que parece ter acontecido meio ao acaso, deu certo", diz. Segundo Teresa, ainda lhe falta paciência como compositora: "Na maioria das vezes, a música me persegue e, enquanto ela não sai, é muito problemático. Percebo que, quando estou muito irritada, é hora de compor!". Os versos iniciais de O Passar dos Anos (Teresa/João Callado) - "O passar dos anos/Ao compositor/"Faz desabrochar uma rosa/Dá à poesia porte, luz e cor" - traduzem justamente o respeito que ela tem à experiência dos compositores.
"Essa música é em homenagem ao Casquinha, da Velha Guarda da Portela. A maturidade tem que ser louvada", diz Teresa, que está com 36 anos. Aliás, a Velha Guarda também é homenageada no disco com Portela (Teresa/Pedro Miranda), que tem participação da própria e de Cristina Buarque.
Voz masculina
No disco, Teresa Cristina cedeu os vocais de Já Era (Palavra) (Mauro Duarte) e Na Água do Rio/A Vida Me Fez Assim (Teresa/Argemiro) para Pedro Miranda. E também canta com ele no pot-pourri de sambas-de-roda Embala Eu/Samba-de-roda/Chora, Viola. "O Pedro me acompanha e divide o repertório dos nossos shows da noite. Ele dá dignidade à música e nada mais justo que mostrar isso para as pessoas", justifica Teresa. Pedro, por sua vez, destaca que o repertório é montado através da relação do grupo com o público e fala sobre as músicas que canta: "Palavra é praticamente inédita, só foi gravada pelo Miltinho há muito tempo com um arranjo totalmente diferente. A do Silas foi uma das primeiras que ouvi quando comecei a aprender música".
Teresa e seus músicos concordam que uma das maiores características desse novo trabalho é a integração entre eles. Afinal, tocam todo final de semana - atualmente no Carioca da Gema e no Centro Cultural Carioca. Mas o lançamento oficial do disco na loja de discos Modern Sound, em Copacabana. "Vai ser um pocket-show, onde apresentaremos 12 músicas do disco", avisa ela.
Quanto ao entrosamento, Bernardo Dantas comenta que houve o cuidado de passar no disco exatamente o clima dos shows das noites da Lapa. "Nesse intervalo de quase dois anos, entre o início desse trabalho e seu lançamento, duas ou três músicas do repertório inicial foram retiradas, mas a espinha dorsal foi mantida. Não precisamos ensaiar para as gravações, já está tudo no dedo! Temos um entrosamento muito grande e trabalhamos como há tempos, quando o artista passava pela experiência da noite para se lançar. Hoje, é tudo criado muito de cima para baixo", critica o violonista.
A Vida me Fez Assim, seu novo CD pela Deck Disc, é formado basicamente de músicas inéditas e de autoria da própria Teresa - oito das 15 faixas. E as regravações são consideradas por ela quase como uma obrigação: "São pessoas a que a gente sempre recorre para cantar e formar um repertório", referindo-se a Candeia (Viver), Wilson Moreira/Nei Lopes (Peito Sangrando), Elton Medeiros/Zé Kéti (Sorri) ou Silas de Oliveira/Manoel Ferreira (Na Água do Rio). Um trabalho que reflete exatamente o que ela, Pedro Miranda (pandeiro/voz), Bernardo Dantas (violão) e João Callado (cavaquinho) fazem há seis anos pelas noites da Lapa.
O disco, na verdade, nasceu antes do de Paulinho da Viola, lançado no final de 2002. "O Paulão 7 Cordas (produtor) reuniu a gente para gravar, de forma independente mesmo. Fizemos uma vaquinha e começamos a ir para o estúdio. Foi quando veio o convite para fazer o CD do Paulinho. Retomamos o trabalho em novembro, já estava tudo mastigado, não foi difícil", conta Teresa. Paulão confirma: "Eu achava que o Semente já estava fazendo muito sucesso e precisava de um cartão-de-visitas. Propus a `cooperativa', que ficou meio de lado. Quando retomamos, os back-ups deram pau, mas tudo que já estava gravado tínhamos escrito. Redistribuímos os arranjos e finalizamos com esse resultado maravilhoso".
Umbanda
A Vida me Fez Assim revela, entre um verso e outro, a religiosidade de Teresa Cristina. A começar pela primeira faixa Acalanto, de sua autoria ("Mãe Oxum, me dá licença/Que eu gosto de navegar/Em todo samba que faço/Tem espaço, eu ponho o mar") ou Pedro e Teresa ("O santo é forte na ribeira/Oi, vira santo a noite inteira/Quero ver agradecer"). "Tentei ser católica, mas não consegui. Entrei pela primeira vez num terreiro de umbanda aos 15 anos e é onde me sinto bem até hoje. É uma religião brasileira, os pontos são lindíssimos. Pena que a gente não pode cantá-los sempre", lamenta.
A cantora diz que sua inspiração vem muito pelos tambores e palmas e lembra que a primeira música que compôs, intuitivamente, foi um ponto de umbanda. "Eu tinha muito medo de ser compositora de uma música só e não me imaginava gravando um CD", conta. Mas hoje, na hora de compor, Teresa diz que a influência da religião vem naturalmente. "Não mexo no que não conheço totalmente, mas louvar é uma retribuição: entrei na música muito rápido e tudo o que parece ter acontecido meio ao acaso, deu certo", diz. Segundo Teresa, ainda lhe falta paciência como compositora: "Na maioria das vezes, a música me persegue e, enquanto ela não sai, é muito problemático. Percebo que, quando estou muito irritada, é hora de compor!". Os versos iniciais de O Passar dos Anos (Teresa/João Callado) - "O passar dos anos/Ao compositor/"Faz desabrochar uma rosa/Dá à poesia porte, luz e cor" - traduzem justamente o respeito que ela tem à experiência dos compositores.
"Essa música é em homenagem ao Casquinha, da Velha Guarda da Portela. A maturidade tem que ser louvada", diz Teresa, que está com 36 anos. Aliás, a Velha Guarda também é homenageada no disco com Portela (Teresa/Pedro Miranda), que tem participação da própria e de Cristina Buarque.
Voz masculina
No disco, Teresa Cristina cedeu os vocais de Já Era (Palavra) (Mauro Duarte) e Na Água do Rio/A Vida Me Fez Assim (Teresa/Argemiro) para Pedro Miranda. E também canta com ele no pot-pourri de sambas-de-roda Embala Eu/Samba-de-roda/Chora, Viola. "O Pedro me acompanha e divide o repertório dos nossos shows da noite. Ele dá dignidade à música e nada mais justo que mostrar isso para as pessoas", justifica Teresa. Pedro, por sua vez, destaca que o repertório é montado através da relação do grupo com o público e fala sobre as músicas que canta: "Palavra é praticamente inédita, só foi gravada pelo Miltinho há muito tempo com um arranjo totalmente diferente. A do Silas foi uma das primeiras que ouvi quando comecei a aprender música".
Teresa e seus músicos concordam que uma das maiores características desse novo trabalho é a integração entre eles. Afinal, tocam todo final de semana - atualmente no Carioca da Gema e no Centro Cultural Carioca. Mas o lançamento oficial do disco na loja de discos Modern Sound, em Copacabana. "Vai ser um pocket-show, onde apresentaremos 12 músicas do disco", avisa ela.
Quanto ao entrosamento, Bernardo Dantas comenta que houve o cuidado de passar no disco exatamente o clima dos shows das noites da Lapa. "Nesse intervalo de quase dois anos, entre o início desse trabalho e seu lançamento, duas ou três músicas do repertório inicial foram retiradas, mas a espinha dorsal foi mantida. Não precisamos ensaiar para as gravações, já está tudo no dedo! Temos um entrosamento muito grande e trabalhamos como há tempos, quando o artista passava pela experiência da noite para se lançar. Hoje, é tudo criado muito de cima para baixo", critica o violonista.