Todos os tiros num só Acústico
Depois de quase 20 anos juntando um repertório pop infalível, Lulu Santos não economiza sucessos - e nem inéditas - em especial da MTV que sai também em disco - duplo, é claro
Silvio Essinger
14/09/2000
Só agora, depois de tantos dos seus contemporâneos de Rock Brasil (e também muitos dos que vieram antes e depois dele) terem lançado seus Acústicos é que Lulu Santos resolveu sair com o seu Lulu Acústico. "De fato, não houve tanta resistência. Digamos que a carta foi chorada", diz, enigmaticamente o cantor, guitarrista e compositor. Gravado no Pólo de Cinema e Vídeo do Rio de Janeiro nos dias 28 e 29 de junho, o especial estréia hoje na MTV. O repertório reúne nada menos do que 27 músicas, seis delas agrupadas em dois medleys. A partir de amanhã, a emissora continua a festa exibindo uma restrospectiva da carreira de Lulu. Na segunda-feira, por fim, chega às lojas o disco – duplo ou em dois volumes separados, como não poderia deixar de ser, para que coubessem as releituras dos 23 hits de seus 15 discos anteriores e mais cinco inéditas: Made in Brazil, Deusa da Ilusão, Janela Indiscreta, O Retorno do Maia Intergalatico e Esta Canção.
Quase 20 anos juntando um repertório imbatível para as rodinhas de violão nas festinhas – ou à beira da fogueira, como lembra o release do disco – e Lulu solta tudo de uma vez, num só Acústico: de Tempos Modernos a Sábado à Noite, passando por O Último Romântico, Como Uma Onda, Um Certo Alguém, Casa, Assim Caminha a Humanidade e o que mais se possa lembrar. "Acho que a parada é um one shot, não tem volume 2, 3 etc. A obra é essa", defende o músico, que às vezes diz para a sua banda: "Que sorte ter essas canções para poder tocar!" E nesse disco, que ele não gosta de rotular como "de revisão de carreira" ("É de revalidação, digamos."), Lulu não fez por menos, escalando um time instrumental de responsa: Christiaan Oyens (violões, bandolim, xilofone e vocais), Alex de Souza (harmonium e teclados), André Rodrigues (baixo acústico, baixolão e vocal), PC (sax, flautas e vocais), Armando Marçal (percussão) e Xocolate (bateria).
Quem acompanhou o primeiro dia de gravações encontrou músicos que pareciam marcialmente ensaiados – não erravam em hora alguma –, embora bem soltos no palco – André até arriscou uma dança na versão cubana de Sábado à Noite. "Pede para ver as costas deles, lanhadas de chibata", brinca Lulu. "Nada... Eles é que são bão mermo." Por falar no Sábado, a versão do Acústico vem a ser a quarta que a música ganhou. E cada uma radicalmente diferente da outra: teve a soul-reggae (do Cidade Negra), a trip hop (no disco anterior de Lulu, Calendário) e a samba-rock (no show de Calendário). "Mas esta versão finalmente me deixa fazer uso conveniente da música", acredita.
Easy Listening
Para Lulu, se os arranjos das músicas do Acústico não soam muito diferentes das originais, a sonoridade com certeza é outra. "Fora o xilofone e o metalofone e as dobras que estes fazem com flauta e violão, criando uma terceira sonoridade, por exemplo, está o harmonium, que achei uma sacada legal. O negócio era achar um som original." Por vezes, mais notadamente na inédita Janela Indiscreta, a coisa resvalou para o easy listening dos bons tempos da Rádio Tupi FM. "Eu mesmo tenho ouvido muito esse tipo de música. Em especial, Enoch Light, que é bem percussivo", diz. Ele entrega o segredo de como deu a cara exotique para a Janela: "Ela tem de estrutura uma bateria eletrônica indiana super low-fi, movida a pilha, que toca um padrão de tabla."
A primeira música do trabalho do Lulu Acústico é Made in Brazil, uma espécie de Arrombou a Festa muito particular, em que, depois de citar uma série de artistas e bandas, ele proclama: "Passou de dois mil, ninguém faz igual a brasileiro pop, rock, reggae, hiphop do Brasil." "Não serão os japoneses que o farão, pois não?", provoca Lulu, para dizer que o sentido da letra é mesmo o mais óbvio, rodrigueanamente ululante. "Interessa-me mais o pop-reggae-hip-hop do Brasil. O outro, a rigor, nem sei bem a quantas anda. Acho a nossa versão mais adequada para nós, vide as vendas. Compare-se Charlie Brown Jr. com... sei lá... Oasis", explica. Outra inédita com cara de rádio é O Retorno do Maia Intergalático, um "tema para um desenho japonês que não existe, politicamente correto". "O refrão eu usava para chatear o Memê (produtor, com quem Lulu dividiu o disco Eu e Memê, Memê e Eu, de 1995). Dizia ‘vamos gravar essa’ e ele ficava irritado. Um belo dia, bolindo com ela em casa, dei uma solução – ahem – final."
Diante dos Acústicos que vemos por aí, o de Lulu até que pode ser considerado econômico em termos de participações especiais. Só tem uma: a de Gabriel o Pensador em Astronauta, parceria com Lulu, gravada no mais recente disco do rapper, Nádegas a Declarar. Mas não foi nada intencional, desculpa-se o dono da festa. "Tivemos só cinco semanas para inventar a parada. Adoraria ter chamado o Marcos Valle, mas simplesmente não deu tempo. O Gabo era uma coisa que, além de eu adorar aquilo ("deuses e deusas que se abraçam e beijam no Céu"), estava na mão." É Marcos, pena que não vai ter um Volume 2...
Quase 20 anos juntando um repertório imbatível para as rodinhas de violão nas festinhas – ou à beira da fogueira, como lembra o release do disco – e Lulu solta tudo de uma vez, num só Acústico: de Tempos Modernos a Sábado à Noite, passando por O Último Romântico, Como Uma Onda, Um Certo Alguém, Casa, Assim Caminha a Humanidade e o que mais se possa lembrar. "Acho que a parada é um one shot, não tem volume 2, 3 etc. A obra é essa", defende o músico, que às vezes diz para a sua banda: "Que sorte ter essas canções para poder tocar!" E nesse disco, que ele não gosta de rotular como "de revisão de carreira" ("É de revalidação, digamos."), Lulu não fez por menos, escalando um time instrumental de responsa: Christiaan Oyens (violões, bandolim, xilofone e vocais), Alex de Souza (harmonium e teclados), André Rodrigues (baixo acústico, baixolão e vocal), PC (sax, flautas e vocais), Armando Marçal (percussão) e Xocolate (bateria).
Quem acompanhou o primeiro dia de gravações encontrou músicos que pareciam marcialmente ensaiados – não erravam em hora alguma –, embora bem soltos no palco – André até arriscou uma dança na versão cubana de Sábado à Noite. "Pede para ver as costas deles, lanhadas de chibata", brinca Lulu. "Nada... Eles é que são bão mermo." Por falar no Sábado, a versão do Acústico vem a ser a quarta que a música ganhou. E cada uma radicalmente diferente da outra: teve a soul-reggae (do Cidade Negra), a trip hop (no disco anterior de Lulu, Calendário) e a samba-rock (no show de Calendário). "Mas esta versão finalmente me deixa fazer uso conveniente da música", acredita.
Easy Listening
Para Lulu, se os arranjos das músicas do Acústico não soam muito diferentes das originais, a sonoridade com certeza é outra. "Fora o xilofone e o metalofone e as dobras que estes fazem com flauta e violão, criando uma terceira sonoridade, por exemplo, está o harmonium, que achei uma sacada legal. O negócio era achar um som original." Por vezes, mais notadamente na inédita Janela Indiscreta, a coisa resvalou para o easy listening dos bons tempos da Rádio Tupi FM. "Eu mesmo tenho ouvido muito esse tipo de música. Em especial, Enoch Light, que é bem percussivo", diz. Ele entrega o segredo de como deu a cara exotique para a Janela: "Ela tem de estrutura uma bateria eletrônica indiana super low-fi, movida a pilha, que toca um padrão de tabla."
A primeira música do trabalho do Lulu Acústico é Made in Brazil, uma espécie de Arrombou a Festa muito particular, em que, depois de citar uma série de artistas e bandas, ele proclama: "Passou de dois mil, ninguém faz igual a brasileiro pop, rock, reggae, hiphop do Brasil." "Não serão os japoneses que o farão, pois não?", provoca Lulu, para dizer que o sentido da letra é mesmo o mais óbvio, rodrigueanamente ululante. "Interessa-me mais o pop-reggae-hip-hop do Brasil. O outro, a rigor, nem sei bem a quantas anda. Acho a nossa versão mais adequada para nós, vide as vendas. Compare-se Charlie Brown Jr. com... sei lá... Oasis", explica. Outra inédita com cara de rádio é O Retorno do Maia Intergalático, um "tema para um desenho japonês que não existe, politicamente correto". "O refrão eu usava para chatear o Memê (produtor, com quem Lulu dividiu o disco Eu e Memê, Memê e Eu, de 1995). Dizia ‘vamos gravar essa’ e ele ficava irritado. Um belo dia, bolindo com ela em casa, dei uma solução – ahem – final."
Diante dos Acústicos que vemos por aí, o de Lulu até que pode ser considerado econômico em termos de participações especiais. Só tem uma: a de Gabriel o Pensador em Astronauta, parceria com Lulu, gravada no mais recente disco do rapper, Nádegas a Declarar. Mas não foi nada intencional, desculpa-se o dono da festa. "Tivemos só cinco semanas para inventar a parada. Adoraria ter chamado o Marcos Valle, mas simplesmente não deu tempo. O Gabo era uma coisa que, além de eu adorar aquilo ("deuses e deusas que se abraçam e beijam no Céu"), estava na mão." É Marcos, pena que não vai ter um Volume 2...