Toni Platão: apuro e ecletismo em segundo solo

Vocalista do Hojerizah lança Calígula Free Jack, disco gravado ao longo de dois anos com produção do legionário Dado Villa-Lobos

Silvio Essinger
04/07/2000
Dizem que no show biz não há segundas chances – o vocalista do Hojerizah, Toni Platão está aí disposto a provar o contrário. Dez anos após o primeiro fim da banda – que, intimada pelos fãs, voltou em 1998 para alguns concorridos shows –, ele está lançando pela RockIt! (do guitarrista da Legião Urbana, Dado Villa-Lobos) o seu segundo disco solo, Calígula Free Jack. Aos 37 anos de idade, "cabeça em ordem", o cantor passou os últimos dois anos inteiros concebendo e realizando o disco junto com Dado – um tempo, segundo ele, fundamental para que o trabalho fluísse organicamente, como gostaria. "Agora estou expert em gestações", diz Toni, que por sinal foi pai este ano.

O amigo produtor, fotógrafo e radialista Maurício Valladares brincava: "Este é o Dark Side of The Moon brasileiro!". De fato, o que não faltou em Calígula Free Jack foi experimentação e lapidação. Tudo começou no verão de 1998, quando ele se enfurnou com Dado num quartinho do apartamento do guitarrista, com a idéia de gravar as versões de Canto de Ossanha (de Vinicius de Moraes e Baden Powell) e Carne e Osso (dos Picassos Falsos, banda da mesma cena carioca de rock em que surgiu o Hojerizah). Ano passado, o trabalho continuou estúdios da RockIt! – em setembro do mesmo ano, os dois estavam com 16 músicas. No início deste ano, mais três músicas apareceram – e já havia material mais do que suficiente para o disco. "A pior coisa foi tirar cinco músicas para escolher as 14 do CD", diz Toni.

De um sample de Venus, do Shocking Blue, surgiu a dançante Calígula Freejack, música de Toni e Dado com letra de Fausto Fawcett. O personagem que vem para salvar seu amor do blefe social, e que beija as prostitutas na boca inspirou o cantor a batizar o disco e realizar a capa. O beijo da foto foi clicado no calçadão de Copacabana e protagonizado por ele e pela mulher, Luciana (poucos dias depois do parto). Em uma das fotos do encarte, vê-se ao fundo o garoto de programa Dado Villa-Lobos.

Exorcizando o primeiro solo
Toni considera Calígula "um disco rico na natureza das canções". De fato: há músicas da banda pernambucana mundo livre s/a (A Bola do Jogo, do disco Samba Esquema Noise), Vinicius e Baden, dos Picassos, do ex-Graforréia Xilarmônica Frank Jorge (Vejo Você e Mais Nada) do produtor Kassin (O Que Você Quiser e Estricnina) e até do Hojerizah (Dentes da Frente, do homônimo disco de estréia da banda). Preciso, por sua vez, é parceria com Fábio Fonseca, produtor do seu primeiro e malfadado disco solo, Tony Platão ("Até o y saiu errado!"), lançado em 1994 pela Sony/Columbia. "Não tive autonomia e poder de definição – o disco saiu muito limpo", diz, livrando a cara do produtor: "Posso dizer que o trabalho com Fábio só começou depois de o disco pronto."

De Dado, que produziu o disco, Toni não tem reclamações. "Não teve preocupação com nada. A gente foi fazendo. O Dado é um cara que curte tirar som", diz. A galera que ia aparecendo no estúdio era incorporada às gravações – caso de Maurício Valladares (que estreou em disco tocando baixo na faixa-título), Marcelo Larrosa (baixista do Hojerizah, que gravou em Proteção, música do ex-Barão Vermelho Dé e do vocalista dos Picassos Falsos, Humberto Effe), o poeta Chacal (que escreveu a letra de Marcas no Pescoço) e até dos filhos Dado, Nico e Mimi, que fizeram coro em Vejo Você e Mais Nada.

"Diferentemente de tudo que eu fiz, Calígula Freejack é um disco que eu ouço sempre", confessa Toni, orgulhoso de ele ter saído exatamente como queria: "com acento soul e pop, postura, sujeira e atitude do rock". Há seis anos longe dos lançamentos, ele não sabe como o disco será recebido pelo grande público "Em termos de Brasil eu não sou uma pessoa muito conhecida", admite. "O Hojerizah tinha fãs num círculo que não era muito grande." Sua antiga banda, que apesar de tudo ele vê como "um fantasma que pairou ano passado, comemorando seus dez anos de morte" reservou-lhe uma grande surpresa recentemente. Os shows da volta estavam repletos de uma garotada de subúrbio "que nunca tinha visto um show do Hojerizah" e que demonstrou uma fidelidade impressionante.

É justamente com esse público que Toni espera contar quando sair em turnê com Calígula. Dia 11, ele esquenta as turbinas em show no Museu do Telefone (RJ). Com a música de trabalho Pode Ser rodando nas rádios, ele sai em seguida correndo o país, do Sul ao Nordeste – a moldura sonora é mais roqueira possível: baixo, bateria e duas guitarras. "Não há nada melhor para o Calígula que o show", acredita.