Toquinho volta com inéditas, 11 anos depois

Parcerias com Paulinho da Viola e Maurício Mattar marcam o recém-lançado Só Tenho Tempo Para Ser Feliz

Marco Antonio Barbosa e Mônica Loureiro
09/07/2003
Este é um ano especial para Antonio Pecci Filho, o eterno Toquinho, parceiro de fé de Vinicius de Morais e autor de um sem-número de clássicos da MPB. Há onze anos sem lançar um álbum com canções inéditas, o cantor e compositor afinal ressurge com Só Tenho Tempo Pra Ser Feliz (Movieplay) - título que resume bem a boa fase pessoal e profissional que Toquinho considera estar vivendo. Depois desses anos todos de estrada, o grande privilégio que carrego é ter aprendido a harmonizar desafios, ansiedades, preocupações familiares e profissionais com amor e otimismo", afirma o cantor, que completou 57 anos de idade no último dia 6. "A verdade mais relevante é que o amor continua presente, o sonho perdura, acentua-se a busca da felicidade e a essência melódica permanece", considera Toquinho.

O espaçado período entre os discos de inéditas (o último foi O Viajante do Sonho, de 1992) explica-se. "Hoje meu ritmo criativo talvez seja mais casual do que intencional", diz Toquinho, que revela ter se concentrado para produzir a safra de Só Tenho Tempo Pra Ser Feliz - das 16 faixas, 13 são novas. "Lindo e Triste Brasil foi gravada há 13 anos e resolvi regravá-la porque continua atual. Nas Asas de um Instrumento (Toquinho/Rainbow/Silvestro) fez parte do Festival de San Remo, em 1993, com letra em italiano, e ainda não tinha sido gravada em português. Distância é uma versão de La Lontananza, um tributo a Domenico Modugno", enumera o cantor.

Porém, pels faixas novas é que o coração de Toquinho bate mais forte. "São músicas nas quais, no geral, existe esse otimismo que traduz meu comportamento perante a vida", diz ele. E é nelas também que o estado de graça descrito pelo título do disco se manifesta. O melhor exemplo é Canção Pra Jade, escrita em homenagem à filha do compositor. "Pude contar com a parceria do meu amigo Mutinho em duas delas nesta música e em Amor Ateu", fala Toquinho. "É um grande baterista, trabalhamos juntos por tantos anos, fizemos mais de 30 canções." Além desta parceria, uma outra união criativa certamente vai chamar a atenção: a inauguração da dupla Toquinho/Paulinho da Viola. "Depois de quase 40 anos de amizade, tenho a honra de inaugurar minha parceria com o Paulinho. O resultado foi um samba que é a cara dele", fala Toquinho, referindo-se a Caso Encerrado.

Interessante é notar, ao lado desses nomes mais integrados à história do compositor, parcerias com Maurício Mattar (em Vem Viver) e com o "anônimo" João Carlos Pecci (Além do Portão) - na verdade, João é irmão de Toquinho. "São experiências novas, que podem até perdurar, render mais frutos. Ambas são canções sem maiores compromissos, mas que completam com dignidade esse CD." Tanto no estúdio quanto no palco, Toquinho preferiu fechar-se em torno de um grupo pequeno e definido de músicos. "Há que predominar aquele clima bom, de cumplicidade e entendimento com os músicos", considera o compositor. Dominguinhos na sanfona, Edmilson Capeluli no cavaquinho, Roberto Sion no sax e flauta, Proveta no clarinete e sax alto, Papete e Luiz Rabello na percussão e Keko Brandão no piano foram os escolhidos, sob a produção de Jorge Gambier e arranjos de Jether Garotti.

Trabalhando com a pequena gravadora Movieplay desde 1997 (quando lançou o álbum Canção dos Direitos da Criança ou Toquinho e Convidados), Toquinho diz que o acordo com o selo privilegia sua independência. "As gravadoras oferecem uma 'proteção' que, na verdade, é escravidão. Rompi com isso, provei que tenho condições de conduzir os rumos de meu trabalho do jeito que achar melhor", fala o cantor. "O Ramiro Nunes, dono da Movieplay, é meu sócio em diversos projetos. Ele já bancou vários discos, os quais, em comum acordo, pude negociar com outros países, enquanto ele os lançava aqui. Gosto de gerenciar minha carreira, me dou bem fazendo isso", revela.

A menção à carreira no exterior não é gratuita. Desde 1969 Toquinho faz viagens regulares à Europa - principalmente à Italia - e ao Japão, e tem uma boa quantidade de títulos lançados nesses mercados. "Este mês devo embarcar para uma série de shows na Itália. Cantarei será uma mescla de sucessos e músicas inéditas. Um pouco de histórias, solos de violão, enfim, descontração e simplicidade", diz o músico.

Bom também é lembrar que este ano recordam-se os 90 anos de nascimento de Vinicius de Morais - que, aliás, faria aniversário neste dia 9 de julho. "Vivi com Vinícius uma das fases mais produtivas de minha carreira. Porém, há que considerar que minha obra toda, hoje, soma perto de 250 canções. E se contarmos as composições instrumentais e todas as versões para o italiano e espanhol, são mais de 300. Durante a parceria com Vinícius, contávamos com o estímulo da convivência, muitas vezes diária, como se um puxasse o outro para uma nova idéia, um novo tema", conta Toquinho. E conclui: "Felizmente conto hoje com um público seduzido por minha música desde a época em que trabalhei com Vinícius."