Três mil e uma doses de bom humor
Novo show de Rita Lee tem cenário deslumbrante, boa mescla de canções atuais com grandes sucessos e a marca de sua irreverência
Rodrigo Faour
08/10/2000
Só pelo carisma e simpatia, Rita Lee já consegue conquistar qualquer público, independentemente do que for cantar. Isso vem se confirmando em seus últimos shows. Na apresentação única que realizou para os cariocas no ATL Hall, no sábado à noite, não foi diferente. Rita estava diante de uma platéia eclética, que ia da garotada aos cinqüentões, sem cerimônia, como poucos artistas conseguem. E se a maioria parecia querer ver a Rita pop, ela frustrou um pouco as expectativas no começo do show, atacando de vários rocks mais pesados, vários de seu novo CD, 3001. Os poucos que conheciam suas músicas (já que o disco passou em branco pelas rádios) às vezes tinham dificuldade de acompanhar as ótimas letras por conta da voz de Rita, bossa nova em meio a uma massa sonora potente, incluindo três (!) guitarras – a de Roberto de Carvalho, de seu filho Beto Lee e a dela própria. Mas havia muito no show para compensar.
Para começar, o cenário é deslumbrante. Gringo Cardia mais uma vez provou ser craque no gênero. Para dar a atmosfera futurista sugerida pelo título do show/CD, ele encheu o palco de imagens gigantes de alto falantes e equipamentos de som. Em cinco telões de tamanho idêntico – um ao lado do outro – eram projetadas imagens que se interligavam, de acordo com cada música. De filmes pornôs suecos dos anos 60 (impagáveis) a super heróis fakes se digladiando. Um show à parte. Mas Rita não se deixa apagar pela produção. Ao contrário, soma tudo isso com suas já conhecidas caras e bocas e seu apelo circense, com direito a diversos balangandãs – como um adereço de cobra para cantar a faixa de trabalho do novo álbum, a divertida releitura de Erva Venenosa.
Outra escolha acertada da roqueira foi desencavar de seu enorme repertório algumas músicas interessantes que há muito tempo não cantava. Caso de Panis et Circencis (do tempo dos Mutantes), Fruto Proibido (da época do Tutti Frutti), Corre Corre, Bem Me Quer, Noviças do Vício (da fase pop) e Lá Vou Eu – repescada por Zélia Duncan em 1994 de um velho compacto de Rita de 18 anos antes. Aliás, ela dedicou a balada folk a Zélia, logo após cantar Pagu (uma parceria das duas) com ela.
Farpas políticas e musicais
Com sua irreverência de sempre, Rita fez piada sobre o resultado das urnas no eixo Rio-Sampa. “Vocês estão super felizes com as eleições, não?” Quando alguém se manifestou contra, ela atacou. “Querem trocar com os paulistas?” E tratou a desancar Paulo Maluf arrancando gargalhadas da platéia. Mais tarde, ela brincou com os prefeitáveis cariocas, Luiz Paulo Conde e César Maia. “Acho que o Conde se parece com o Paulo Coelho e o César é meio Harrison Ford, depois de um acidente de carro.” Mais risos. Outro momento divertido rolou antes dela cantar a jovemguardista Eu Sou Terrível. “O Erasmo taí? Não? Então também não vou cantar”, ameaçou, desolada com o bolo do Tremendão. Acabou cantando, não sem antes jogar uma farpa em Roberto. “Esse, na verdade, foi um sucesso do Roberto. Mas isso foi na época que ele mandava tudo pro inferno e nem pensava em ser padre”.
Rita ganhou o público definitivamente no finalzinho do show. Depois de cantar a irresistível Saúde (com arranjo de influência techno, no estilo do que foi feito no CD de remixes Rita Releeda pelo DJ Alessandro Tausz), ela veio para um bis diferente, aliás, o primeiro bis não ensaiado da cena carioca dos últimos 20 anos. Apenas acompanhada da guitarra de Roberto de Carvalho, ela pôs o microfone na boca do público que pedia músicas, quase todas de sua fase pop. A primeira pedida foi... Bwana (!!) – aquela que fizeram as feministas se roerem de raiva por causa do verso “sou sua mulher robô teleguiada pela paixonite”. Depois, ela cantou trechos de Lança Perfume (pedida por Gabriel o Pensador – também presente na platéia), Mania de Você, Caso Sério, Coisas da Vida, Ovelha Negra, Balada do Louco, Arrombou a Festa (“Não me lembro mais da letra, fiz umas 200 Arrombou a Festa... A que o Lulu Santos fez agora nesse estilo é que ficou boa, vocês já ouviram?” – perguntou, referindo-se ao mais recente sucesso do cantor, Made in Brazil) , On The Rocks e encerrou com a deliciosa Banho de Espuma. Depois chamou a banda e completou o show com Agora Só Falta Você. Aí ficou redondo, sem direito a reclamações de fãs implicantes.
Para começar, o cenário é deslumbrante. Gringo Cardia mais uma vez provou ser craque no gênero. Para dar a atmosfera futurista sugerida pelo título do show/CD, ele encheu o palco de imagens gigantes de alto falantes e equipamentos de som. Em cinco telões de tamanho idêntico – um ao lado do outro – eram projetadas imagens que se interligavam, de acordo com cada música. De filmes pornôs suecos dos anos 60 (impagáveis) a super heróis fakes se digladiando. Um show à parte. Mas Rita não se deixa apagar pela produção. Ao contrário, soma tudo isso com suas já conhecidas caras e bocas e seu apelo circense, com direito a diversos balangandãs – como um adereço de cobra para cantar a faixa de trabalho do novo álbum, a divertida releitura de Erva Venenosa.
Outra escolha acertada da roqueira foi desencavar de seu enorme repertório algumas músicas interessantes que há muito tempo não cantava. Caso de Panis et Circencis (do tempo dos Mutantes), Fruto Proibido (da época do Tutti Frutti), Corre Corre, Bem Me Quer, Noviças do Vício (da fase pop) e Lá Vou Eu – repescada por Zélia Duncan em 1994 de um velho compacto de Rita de 18 anos antes. Aliás, ela dedicou a balada folk a Zélia, logo após cantar Pagu (uma parceria das duas) com ela.
Farpas políticas e musicais
Com sua irreverência de sempre, Rita fez piada sobre o resultado das urnas no eixo Rio-Sampa. “Vocês estão super felizes com as eleições, não?” Quando alguém se manifestou contra, ela atacou. “Querem trocar com os paulistas?” E tratou a desancar Paulo Maluf arrancando gargalhadas da platéia. Mais tarde, ela brincou com os prefeitáveis cariocas, Luiz Paulo Conde e César Maia. “Acho que o Conde se parece com o Paulo Coelho e o César é meio Harrison Ford, depois de um acidente de carro.” Mais risos. Outro momento divertido rolou antes dela cantar a jovemguardista Eu Sou Terrível. “O Erasmo taí? Não? Então também não vou cantar”, ameaçou, desolada com o bolo do Tremendão. Acabou cantando, não sem antes jogar uma farpa em Roberto. “Esse, na verdade, foi um sucesso do Roberto. Mas isso foi na época que ele mandava tudo pro inferno e nem pensava em ser padre”.
Rita ganhou o público definitivamente no finalzinho do show. Depois de cantar a irresistível Saúde (com arranjo de influência techno, no estilo do que foi feito no CD de remixes Rita Releeda pelo DJ Alessandro Tausz), ela veio para um bis diferente, aliás, o primeiro bis não ensaiado da cena carioca dos últimos 20 anos. Apenas acompanhada da guitarra de Roberto de Carvalho, ela pôs o microfone na boca do público que pedia músicas, quase todas de sua fase pop. A primeira pedida foi... Bwana (!!) – aquela que fizeram as feministas se roerem de raiva por causa do verso “sou sua mulher robô teleguiada pela paixonite”. Depois, ela cantou trechos de Lança Perfume (pedida por Gabriel o Pensador – também presente na platéia), Mania de Você, Caso Sério, Coisas da Vida, Ovelha Negra, Balada do Louco, Arrombou a Festa (“Não me lembro mais da letra, fiz umas 200 Arrombou a Festa... A que o Lulu Santos fez agora nesse estilo é que ficou boa, vocês já ouviram?” – perguntou, referindo-se ao mais recente sucesso do cantor, Made in Brazil) , On The Rocks e encerrou com a deliciosa Banho de Espuma. Depois chamou a banda e completou o show com Agora Só Falta Você. Aí ficou redondo, sem direito a reclamações de fãs implicantes.